A Retrêta (..A Saga..11.)
A “Retreta” (...A Saga...)
Costâncio saiu quase em disparada rumo`à Sede da Banda, onde todos iam vestir o uniforme pra apresentação no Coreto.Uma correria estressante, mas valeu a pena dar aquele abraço em Fabiana. Será que ela vai assistir a apresentação da Banda?
Tomara que sim! Ele ainda sentia o cheiro bom de seus cabelos pretos e ondulados. Cheiro de ervas ... A ausência de Fabiana chegava a doer;
Quando será o dia que vai poder te-la nos braços ,beija-la muito e declarar tudo o que sente por ela? Poder dizer que nunca sentiu aquilo antes(também nunca se interessara especialmente, por nenhuma garota em Januária...) e não queria nunca mais perde-la de vista?
Vestiu correndo o uniforme de gala branco da “Euterpe Sta Luzia”e saiu voando, clarinete numa mão e partituras na outra. Ainda bem que o “Beco, onde ficava a Sede da Banda era alí, pertinho da praça. Chegou no corêto a tempo de acabar de se endireitar, passar a mão pelos cabelos revoltos e ajeitar as partituras na estante frágil á sua frente. Mestre Zebedeu tinha escolhido o dobrado “Cisne Branco “ para começar.
Constâncio correu seu olhar de Lince pela platéia e descobriu o rosto moreno inesquecível de Fabiana bem no meio da multidão. Ela fez um asceno discreto,sem levantar muito o braço e ele se encheu de orgulho.Ia tocar só pra ela, não via mais ninguém em volta!
Zebedeu ergue a batuta e ao seu menor gesto, a Banda começa a tocar..Na repetição da 1ª parte, a melodia passa para o naipe de clarinetes. O som tornou-se mais suave e macio. Constâncio caprichava no sopro. Dava para perceber, que era ele quem puxava o fio da melodia para liderar o naipe de clarinetes.
De vez em quando, ao contar algumas pausas, ele passava a mão direita para ajeitar os cabelos no vento e ao mesmo tempo fazia do gesto um asceno para Fabiana, o que parece que percebeu, pois a cada gesto dele, seu rosto se iluminava num discreto sorriso despercebido por todos ,menos para duas pessoas:Constâncio e o fiel guardião da irmã,Fulô!
Acabando o “Cisne Branco” os aplausos entusiasmados do povo foram puxados, uma pausa de colcheia antes, por uma orgulhosa e entusiasmada Fabiana.
Constâncio ficou feliz por distinguir agora ao lado da amada, Fulô e Dª Maria Fel, que também aplaudiam...Decidiu ali na hora, que naquela noite faria uma serenata pra Fabiana...Será que ia acertar qual era a casa?
Abanda tocou ainda uma meia dúzia de músicas e Mestre Zebedeu anunciou um intervalo de cinco minutos, pros músicos tomarem um fôlego.Pediu a eles que não se dispersassem...Constâncio,nem guardou seu clarinete. Desceu do Corêto e atravessou a multidão em direção a Fabiana.
Parou ao seu lado e sua mão direita furtivamente segurou a mão dela que estava gelada e tremia um pouco. Fabiana apertou sua mão e susssurrou.: Ta muito lindo.Parece que você sempre tocou com eles...Em seguida soltou sua mão, como se advinhasse a aproximação de Fulô..
”Constâncio, deve ser muito bom vestir este uniforme ,ir lá em cima e emocionar o povo, né? Cês tão de parabéns, completou Fulô e em seguida ...emendou: ” Nêga, temos de ir agora, porque você sabe que mãe gosta dealmoçar com todo mundo junto, no domingo, né!?Tá bem,disse Fabiana, apertando rapidamente a mão de Constâncio e “deixando uma isca”: Então bom dia,.amanhã tenho ensaio do côro á noite na Igreja...
Terminada a apresentação no corêto , A Banda se dispersou e os músicos se dirigiram para a Sede no beco da Cataplasma, alguns cercados por amigos,moças e rapazes fazendo perguntas sobre a Banda.
Constâncio trocou de roupa pendurou o uniforme no armário, pegou o estojo do clarinete e saiu pra rua. Voltou para a praça pois lembrou que tinha visto a cara de Tóti, do violino perto do lugar onde estava Fabiana.Em poucos minutos encontrou Tóti.”E então, bahiano, estreou com classe, hein? Disse Tóti, rindo.Tambem com uma platéia especial como a sua...”Constâncio entrou logo no assunto: Preciso de um acompanhamento pra fazer uma serenata à meia-noite.Pago uma cerveja depois, ta afim?Clarinete e violino!”Claro, companheiro, pode contar comigo.Só tenho que pegar a “rabeca” em casa...A gente se encontra aquí na pracinha lá pelas onze horas..."Tá bem"... disse o clarinetista, "Onze horas"...confirmou Tóti, sempre animado pra qualquer novidade...
Onze horas, se encontraram de novo ali e ficaram pela pracinha papeando com os amigos e olhando o fúti (“footing”,desfile das moças como se estivessem numa passarela)A maioria delas,ao passar, olhava pra Constâncio e comentava qualquer coisa com a amiga do lado.Constâncio olhou o relógio e disse:Onze e meia, vamos então Tóti? ”Vamos lá bahiano,” concordou o amigo.
Passaram na casa onde Tóti morava, pegaram sua “rabeca” e Tóti saiu andando e afinando o instrumento pela rua...A certa altura constâncio diminuiu o passo...”Deve ser por aqui...”e pararam em frente à janela de uma daquelas casinhas...”Conhece a valsa BRANCA? do Zequinha de Abreu?perguntou Constâncio.
“Conheço, pode mandar”, respondeu o violinista. Então lá menor...E então como se fosse um suspiro ,o clarinetista apaixonado começou a soprar de leve ,pra ficar bonito...A valsa Branca ecoou na noite do Cedro e muita moça casadoura naquela noite, pensou que fosse pra ela.Nisto a janela da casinha começou a se abrir.Constâncio caprichou no sopro. Era Zora que meio sonolenta ainda disse.Brigado,meninos,mas a casa de Fabiana é a outra aí,mais embaixo!...Os dois deram três passos para a esquerda...Mas aquela janela não se abriu,até a hora que foram embora...