JUÍZA NEGRA

Chegou à minha cidade, uma Juíza no fórum, uma bela negra! Alta e elegante. Sua voz era branda, mas firme! Uma mulher inteligentíssima e caráter ilibado. Julgava cada processo com humanidade e bom senso.

Mas este conto não se refere à vida da nobre Juíza, apenas narrará uma situação surreal que mostra o racismo de cada dia no subconsciente de algumas pessoas, talvez sem maldade, em alguns casos, mas em outros, o retrato dos sentimentos mais profundos do seu eu, infelizmente!

A Juíza era relativamente nova na cidade, portanto, ainda não era conhecida por todos, embora a cidade fosse pequena. Certa vez, um dos grandes empresários da cidade a convidou para almoçar no melhor restaurante da cidade e como o mesmo estava participando de um evento naquela manhã, pediu que a Juíza o esperasse no restaurante que reservou com antecedência.

Pontualmente, como sempre fora, a Juíza chega ao restaurante e, como o Fórum da cidade, fica próximo, ela foi a pé como sua bolsa na mão e habitual elegância. O proprietário do restaurante fez questão de esperar pela Juíza e a aguardava com ansiedade, pois embora não a conhecesse pessoalmente, já ouvira falar da sua beleza e eficiência no seu trabalho.

A melhor mesa do restaurante já estava reservada e o proprietário do restaurante já estava à postos a esperar. A Juíza chega e apenas diz que deseja uma mesa. O proprietário do restaurante olhou para aquela negra e pensou:

- Ela não terá condição de almoçar aqui! Será que ela não se enxerga! Então a acompanhou até a mesa dos fundos, bem isolada e disse:

- As mesas da frente são para pessoas finas... Aqui é um restaurante de alta gastronomia, é caro!

A Juíza olhou para ele e apenas sorriu de maneira discreta e nada falou. Sentou-se e aguardou o cardápio. Após alguns minutos olhando os pratos, o proprietário chamou o garçom à parte e com ironia disse:

- Será que ela sabe ler? E os dois se entreolhavam e riam muito.

A Juíza percebeu que estavam sorrindo dela e deduziu que se tratava de racismo, mas preferiu, por enquanto, nada falar a esse respeito. Chamou o garçom e disse que estava esperando por um amigo e que logo chegaria.

Após meia hora de atraso, chegou ao restaurante, o empresário, apertou a mão do amigo proprietário e perguntou se a Juíza já havia chegado e ao responder, deu mais uma risada irônica sem observar que a Juíza chegava por trás e disse:

- A juíza ainda não veio! Só aquela “negrinha” sem noção ali...

E nesse momento virou-se em direção à Juíza que já estava bem próximo e ouvira tudo. Sem graça, o empresário falou:

- Juíza! A senhora está aí? Desculpe-me pelo atraso.

E nesse momento, o proprietário do restaurante “perdeu o chão”, ficou vermelho de vergonha, tentou se desculpar, mas não escapou da sentença imediata da Juíza que disse:

- O Senhor será processado por racismo e eu deveria sair do seu restaurante agora, mas não o farei... Vou sentar com o meu amigo e o não quero ser servida por garçom, o Senhor vai me servir agora e sem dizer uma palavra. Por favor!

O proprietário do restaurante serviu-os exatamente como dissera a Juíza e todos os clientes se entreolhavam e comentavam toda aquela cena... No final, tentando se redimir, a conta não foi cobrada, mas a Juíza fez questão de pagar centavo por centavo e foi aplaudida por todos os clientes que ali estavam.

Brasil! Mostra a tua cara...

E que o racismo de cada dia

Possa ser extinto. Oh! Agonia.

De uma vez por todas...

Na pior das hipóteses...

Que seja rara.

Luciênio Lindoso
Enviado por Luciênio Lindoso em 10/02/2019
Código do texto: T6571857
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.