Dois amigos, alguns anos

Os bare eram cheios e o som ecoava forte entre as quadras, como uma partida de futebol, as pessoas conversavam e gritavam em seus dinamismos frenéticos. Paulo esperava em uma mesa vazia, fumando um narguile com um litro de cerveja pela metade enquanto Manuela chegava a pé da ultima aula na Universidade. O encontro era cheio de espera seguido de paixão, aquelas que explodem como fogos de artifício dentro e fora dos estomagos. Conversas e mais conversas, beijos e olhares enquanto a mesa se enchia de outros amigos.

(Paulo) Eai, como foi a aula?

(Manu) foi mais ou menos, não é uma matéria muito séria, é a ultima da semana, leteralmente

(outros amigos conversam sobre futebol e política com Paulo e Manu)

Do outro canto da cidade, Marcelo espirrava a ultima borrifada de perfume, trancava a porta e entrava no carro. Para encontrar os amigos, ja formados, no bar onde, certamente, ele veria Manuela, amando completamente a Paulo. Mas, mesmo assim, ele ficava feliz pelo encontro.

Ao chegar, a mesa de madeira velha se enchia de amigos, como Rayana, Elisa, e Marcelo conversava sobre política, as fofocas engraçadas do alto escalao da política, entre outras coisas. Até que Manu sentava na mesa e passava mais algumas horas com eles. O bar estava ainda mais ceio, assim, como os bares em volta, em uma dança frenética de pessoas e vozes e risos embreagados.

Outro dia, Marcelo tocava a campainha de Manu, subia com um engradado de cerveja pelas escadas pesadas de pedra, sentia o gelado da parede contrastando com o calor da cidade, entusiasmado, ansioso e feliz. Passavam horas bebendo e ouvindo musica, as preferidas, enquanto ele acendia um cigarro na janela ampla, aberta, olhando para tras e vendo Manu dar risadas, aquelas risadas felizes que ele gostava de assistir e poderiam ficar horas. E ficavam.

(Marcelo)Mas então, como agora posso colocar uma música?

9Manu) Pode, mas vai ser uma daquelas suas bandas estranha?

(Marcelo) não são estranhas, haha, é sério, voce vai curtir, prometo

E continuavam por mais horas, bebendo, rindo e se divertindo. Até uma mensagem de Paulo obrigar Manu a descer aquelas frias escadas para encontrá-lo.

Essa era a rotina. E Marcelo ouvia sobre as brigas entre apaulo e Manu, as tempestades que viam com o relacionamento conturbado, mas sua paixão se confundia com a amizade e ele era, então, seu confidente. Passavam as noites no carro de Marcelo ouvindo musicas, fumando e rindo até o sono bater forte. Em uma tarde que seguia essa mesma rotina, Manu chorava por qualquer outro desconforto brutal que aquele namoro trazia, sentada na mesa de madeira, em outro bar lotado, do lado sul da cidade, em meio a maeguaritas e cervejas. O que pensava Marcelo daquilo? Achava que estivesse feliz, mas ao mesmo tempo não estava.

(Manu) O mais me dói é que eu me distanciei pra saber se ele sentiria a minha faltaa e, ele não sentiu - e Manu deixou as lágrimas escorrerem mais intensas

- Eu sinto muito Manu - e pegava sua mào de forma tímida

E sentia mesmo, ainda que houvesse paixão, ele sentia.

E a noite se alongou até as lagrimas se transformarem em beijos culpados e erráticos.

Ao chegarem, bebados, ao apartamento de Marcelo, Manu sentou-se na cama, esperando um beijo, que Marcelo a deu, forte, encadeado, como uma cançao, como duas pessoas que esperam muito por um final de um filme tenso. E os beijos continuaram até que, no amanhecer, Manuela havia se arrependido, a amizade havia se perturbado e o sussuro do silencio era, agora, perturbador.

(Marcelo) Eu nao me importo, Manu, de verdade, se voce não quiser ficar comigo. Mas voce nao precisa ir embora agora. Ou sair da minha vida. Estou me sentindo mal. O que aconteceu foi que eu estava muito emotivo, meus sentimentos ficaram fora de proporção e eu falei coisas que não eram necessariamente verdade e que eu não deveria ter dito. - Ele disse, sinceramente. Mas ela estava imóvel, impenetrável e claramente incomodada.

(Manu) Eu gostaria de não te ver mais ou, pelo menos, por um tempo.

E o tempo, de fato, se passou. Mais precisamente, 5 anos se passaram, Marcelo e Manuela ja não eram mais amigos, os laços ja mais existiam, Paulo, já não era mais namorado.

As coisas mudaram, as vidas mudaram...

Mas uma noite, Manuela combinava com Rayana de se encontrarem em um novo bar da parte norte da cidade. Essa noite, depois de anos, Marcelo sentou na mesma mesa que Manu. Beberam, riram, conversaram sobre as suas músicas preferidas de sempre e sobre os novos amores, entre todas as novas coisas. Rayana foi embora, mas tudo bem, porque a conexão entre eles eram a mesma de novo e, a companhia, agradável como sempre. Derrepente aparece Marcelo, acompanhado com uma amiga conhecida de Manu. Marcelo, novamente, da o seu apoio de amigo.

(Marcelo) Eu não sei como voce consegue ficar assim, tão de boa. A gente pode fingir que estamos juntos, caso voce queira. É o que eu faria haha.

(Manuela) Tudo bem, Ma, eu preciso ficar tranquila, né? Afinal, acabou.

E dessa forma, a amizade estava se consolidando novamente. E saíram, e beberam, e ouviram muitas musicas boas de novo. E assim continuariam, sólidos e felizes em sua amizade, não fosse mais uma reviravolta de sentimentos. Todas aquelas noites no carro, horas ouvindo músicas, fumando, tomando long necks e rindo sobre a vida, aqueles momentos especiais.

Quando Manu recebeu em sua casa uma amiga, Marcelo foi, cada vez mais, se apaixonando, até que, infelizmente, ela foi embora. Marcelo ficou triste e carente até que, em uma bela noite de cervejas e músicas, ele e Manu se beijaram novamente. Mas dessa vez quem se apaixonou não foi Marcelo mas, sim, Manu. E a amizade estava, de novo, em cheque.

Mas ela estava apaixonada, e todos aqueles defeitos bobos que antes serviam de chacota agoram faziam parte do seu conto de fadas imaginário onde algo existia entre eles, mesmo sem existir. Aqueles sorrisos que antes encantavam a Marcelo agora a encantavam. E a idéia de que, agora, ele pudesse amar alguém a atormentava e todos os detalhes machucavam. A dúvida em sua cabeça era se ainda seria posssível continuar uma amizade que importava tanto e a fazia tão feliz com sentimentos tão diversos á flor da pele. Então ela resolveu contar.

Uma noite os dois combinaram de ir á um show cover de bandas que os dois gostavam muito. E bebia aos copos de cerveja como se a sede não acabasse, afim de criar coragem. E ela criou, tentou explicar o que sentia, o que havia mudado. Mas Marcelo foi distante e negativo sovre os sentimentos de Manu. Dessa vez a mesa se invertera e, o romance não era, mais uma vez, real. Frustraçao encheu aquele relacionamento, e muitas foram as conversas e as lágrimas que levaram á conclusão de que não daria certo um estar dentro da vida do outro não fosse, mais uma vez, a abdicaçao da paixão.

E o amor romantico se dissipou e deu um longo e dolorido adeus, mas o amor entre as duas pessoas foi mais forte do que os desejos que um possa ter tido pelo outro em momentos diferentes, uma sincera amizade foi maior do que qualquer paixão.

cinza
Enviado por cinza em 05/02/2019
Reeditado em 06/02/2019
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