COISAS DO CORAÇÃO
Conto de:
Flávio Cavalcante
 


 
  Histórias vindas das profundezas do coração. Uma grande amiga contou-me uma história. Um pedaço de sua vida que me fez fazer uma viajem ao passado mais distante da minha existência. Por incrível que pareça. Sinto exatamente como ela se sente hoje.
 
  O nome de dela é Silvana e se trata de uma pessoa normal, aparentemente normal... Mas que carrega um sentimento doloroso que machuca profundamente a sua alma até os dias de hoje.

 O fato da separação com seu cônjuge, Silvana até já superou, mas, a cobrança de seus pais por serem muito conservadores, foi além do limite que uma pessoa pudesse suportar. Assim que souberam da separação, tiveram uma mudança radical no tratamento para com a moça.
 
 Ela viveu com um homem treze anos e já está separada dele há dois. O casal tem uma filha linda que vive com a mãe, mas, sofre muito com separação dos pais. De fato quando se tem filho num relacionamento, numa separação, a criança sempre é a que mais sofre; mas é notório que ninguém é obrigado a viver com outra pessoa se o relacionamento não está mais dando certo.
  
  A exemplo da resumo da história de Silvana, lembrei-me de imediato que tive um caso assim na minha família com uma das minhas irmãs. Com apenas quinze ou dezesseis anos, não lembro bem ao certo, devido aos longos anos que já se passaram, engravidou de uma linda menina do seu primeiro namoradinho que também era da mesma idade. O desespero dos meus pais por serem muito conservadores, trataram de fazer logo o casamento para não ficar tão feio perante a uma sociedade hipócrita que existia naquela mísera cidadela onde todos se conheciam e a maior ocupação de cada um ser vivente daquele lugar era tomar conta da vida dos que tentavam ter uma vida normal e buscava apenas ser feliz.
 
   A criança nasceu com saúde, mas a cobrança dentro casa passou a ser uma tortura na vida daquela jovem irmã, que num momento de descuido cometeu um aparente erro que foi engravidar ainda virgem e que nunca passou pela sua cabeça que a sua vida ia ter uma mudança bem radical, por causa de uma ignorância retrógrada dos meus pais, que tinham medo da língua ferina do povo.
 
    Visto por outro ângulo, como diz o dito popular “DEUS SÓ DÁ O FRIO CONFORME O COBERTOR” e esta lição foi de repente até necessária para ela acordar para uma vida nova, arregaçar as mandar e sair em busca de soluções para resolver a tsunami que estava inundando a sua vida.
 
     Segundo o pensamento dos meus pais era fazer urgentemente o casamento, das duas crianças e assim se concretizou o matrimônio conforme a normalidade do que o povo achava ser o correto.
 
 O tempo foi passando gradativamente e a mesmice começou a incomodá-la. A moça começou a perceber que aquele rapaz não era o príncipe encantado que ela sempre sonhou; mesmo assim, levou um casamento de aparência por bastante tempo. O que ninguém sabia era que as trocas de amores na frente da família e da vizinhança era tudo uma representação teatral. Dentro de casa viviam uma vida de corpos separados.
 
    A criança já estava bastante crescidinha. A mulher aprisionada dentro do seu próprio eu, tinha uma vida que mais parecia aquelas fábulas de contos de fadas ou gata borralheira onde seria a protagonista de todo aquele sofrimento. Sem aguentar mais aquela vida, aquela menina mulher resolveu dar um passo na vida com as suas próprias pernas e ser dona do seu próprio nariz e decidiu enfrentar dragões se fosse preciso, em busca da real felicidade da qual ela não encontrava nem por um decreto lei.
 
   Depois de um certo tempo da sua decisão, conheceu um belo rapaz e se apaixonou fervorosamente; mas no início por mais garra que ela tivesse de enfrentar toda a cúpula da sociedade e da família, preferiu agir devagar e com cautela. Se encontrava com o novo amor às escondidas e depois de vários encontros não conseguiu mais esconder o seu romance; pois, estava claro que ela não tinha cometido nenhum pecado mortal, pelo menos ela tinha esta consciência.
 
   O resumo de tudo isto é que vida desta jovem mulher passou por muitas turbulências até atingir o seu objetivo; arregaçou as mangas e saiu enfrentando trancos e barrancos na estrada da sua vida; e hoje, acha graça de tudo que passou e vê como valeu à pena lutar tanto por tudo que ela mais queria, que era buscar a sua felicidade. E pelo menos esta ela conquistou. Coisas do coração.

 
Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 03/02/2019
Código do texto: T6565927
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