IMAGEM DO JUDEU NO TEATRO E TV

Palestra de ANA SARA, severa auxiliar e defensora do síndico (EUZINHO, tadinho) no meu prédio: bolo de mel com nozes /exige elogios.../ e cobranças.

O tema do judeu é um desafio nas artes cênicas, seja no palco ou na televisão. A mescla de autores, personagens e atores contemporâneos permite que o teatro, o cinema e a tevê utilizem sua caracterização e misture humor, drama, emoções e angústias - a vida imitando a arte ou vice-versa?

1---"O DIBUK" (O demônio), de SCH AN-SKI, nome literário do escritor russo Salomon Seinwell Rapoport (1863/1920), obra-prima do teatro judeu criada em 1937, num ambiente de perseguições e lutas - descreve a transmutação da alma de um corpo para outro numa estória de amor tipo Romeu e Julieta. Para os judeus, a estória transcende o amor e cai na perplexa presença do invisível e da alma humana, valores ainda presentes. ----- HANÃ e LÉA se amavam, predestinados um ao outro por um acordo entre os pais, porém a mesquinhez de SENDER, pai dela, impede a união... o noivo incorpora o absoluto... ----- Ora, de nada valeram jejuns, banhos, purificações e mortificações, tudo em vão. Ele abraça o próprio peito, retesa o corpo e a face se ilumina. Morre de repente ao saber do noivado da moça com outro. Ela, revoltada, mas obedecendo ao pai, o convida como um dos mortos presentes ao casamento. A alma dele se incorpora nela na cerimônia dos véus (que precede a do casamento) e é pela boca de LÉA que a voz de HANÃ se menifesta: "Eu sou daqueles que procuram novos caminhos." Nesta ânsia por liberdade, LÉA morre e se junta ao amado. ----- A palavra "dibuk" vem da raiz 'aderir, apegar-se', origem nas lendas chassídicas onde pessoas infelizes são tomadas pelos espíritos dos mortos. Este drama estreou no teatro em 1920 pela Trupe de Vilma, Lituânia, antiga Rússia - não ficou só no iídiche e no hebraico, traduzida a densidade dramática para inglês francês, polonês, sueco, búlgaro, ucraniano, sérvio, espanhol e... português. No Brasil, primeira montagem em 1963 pelo grupo teatral do Instituto Cultural Israelita Brasileiro, depois Caso Especial na tevê.

2---"VIDA NOVA" - em novela da GLOBO, um núcleo judaico, atores judeus interpretando personagens judeus em "VIDA NOVA" escrita por BENEDITO RUI BARBOSA em 1988. // Também personagens judaicos em "KANANGA DO JAPÃO", da MANCHETE. // Na novela "LIVRE PARA VOAR", um personagem judeu cuja mulher morrera no campo de concentração, dava conselhos e trabalhava como operário numa fábrica de vidros. // Após dez filmes, trinta novelas e sessenta peças, o ator PAULO GRACINDO se despediu do palco encenando o judeu Salomon em "O PREÇO", escrita em 1968 por ARTHUR MILLER, um dos mais importantes dramaturgos norte-americanos da contemporaneidade. Paulo sentia e 'era' um pouco Salomon, a ambos o que importava era a profissão. // BEATRIZ SEGALL fez no teatro a autora judia LILIAN HELLMAN. // As atrizes BERTA LORAN e EVA TODOR interpretaram a famoso 'iídiche mamale' na peça "Como se tornar uma supermãe em dez lições".

3---"O PREÇO", de ARTHUR MILLER - estória de dois irmãos, sendo que um representa o bem, vida sacrificada por amor ao pai X o outro personifica o mal, egoísta que venceu na vida. A esposa de Walter, o primeiro, é boa esposa, mãe de família, serve o marido, ajuda nas decisões, tradicional mulher de classe média, porém alcoólatra. O velho Salomon surge para comprar os móveis do espólio da família, 89 anos, na esperança de ser o último grande negócio de sua vida - personagem inteligente, muito hábil e nunca fere a suscetibilidade do outro: envolve, conquista, conta sua vida, ouve a dos outros, ternura como arma, faz humor e conhece profundamente a alma humana. ----- Paulo interpretou duas vezes o personagem, tinha ligação forte com o povo judeu e dizia: "Povo que consegue transformar um deserto num laranjal merece o meu respeito. (...) raça inteligente, hábil, sofrida (...) sentimento grande de bravura e que ainda enfrenta preconceitos até hoje." ----- Num momento da peça, Ester diz: "Mas eu nunca vi um judeu que já trabalhou em circo!" Resposta do velho Salomon: "Mas todo judeu é um acrobata! Para viver, tem que fazer mil malabarismos..."

4---"VIDA NOVA" - reconstituição de época, novela retrata São Paulo em 1945 e a chegada de imigrantes dos mais diferentes paises que vieram em busca de uma vida melhor sem guerras e perseguições. Samuel, o patriarca, é um judeu meio ortodoxo e sonha com um futuro judaico para a filha Ruth que se apaixona por um português que conhecera num navio, porém faz a vontade dos pais casando-se com Israel, jovem idealista do movimento sionista progressista que sonha construir um lar nacional para os judeus, país em harmonia com os árabes, casa e acaba morrendo no kibutz. ----- Mostradas na telinha várias cerimônias judaicas: casamento, shabat e enterro.

5---"KANANGA DO JAPÃO", TV MANCHETE, 1989 - ambientada na Praça XI, partindo de um projeto pessoal de ADOLPHO BLOCH e CARLOS HEITOR CONY. Novela mostra uma família de imigrantes judeus, casal que chega ao Rio na década de 30, fugindo do domínio russo no sul da Polônia antes do início da guerra. Vão para a Praça XI, recebidos por uma sociedade israelita, entidade que oferece emprego e o custeio da estadia. Há uma filha, Haannah, que passa a namorar um tenente goi (não judeu), prometida ao primo Yoshua, que abandona a Europa obrigado pelos pais, no pressentimento da II GM.

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FONTE:

De "O Dibuk" à "Vida nova": a imagem do judeu no teatro e TV" - Revista SHALOM, ano XXV, n. 274, ag./89.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 02/02/2019
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