Diversidade
A garota de mochila nas costas e grande fone rosa sobre os ouvidos perambula pela calçada. De um minuto ao outro, aplausos e gritos, as luzes acendem, a rua se ilumina. A garota parece se assustar, saca o fone, olha ao seu redor. De um lado um pequeno aglomerado e do outro uma dúzia de vitrines repletas de lâmpadas coloridas, enfeites natalinos e flocos de neve falsos tornam o ar mais festivo.
Ela reduz o passo, retira do bolso da calça o celular, aponta para as decorações, talvez filme, talvez fotografe. O sorriso inalterado que mantinha se fecha ao passar pela última loja. Na decoração cercada por um empilhado de caixas de presentes e arbustos estão cinco manequins altos, esquálidos, alvos, cabelos de plásticos pintados com tinta cor de ouro vestidos com roupas vermelhas. O seu corpo refletido na vitrine logo atrás impõe o contraste, ela não tão magra, não tão alta, nada alva, cabelos não tão bem comportados. A garota franze a testa, ergue uma das sobrancelhas, observa. Ao longe alguém acena, ela corresponde e corre com o celular na mão.
Duas horas depois a garota retorna pra frente da loja, observa mais um pouco, olha ao seu redor. Não há testemunhas. Puxa o zíper da mochila, joga tudo no chão, coça o nariz, aperta as mãos. Com pedaços de espumas e fita adesiva envolve um dos manequins. Repor a roupa no boneco não parece ser nada fácil agora, elas entram repuxadas, esgarçadas, a blusa estourando os botões, a calça não fecha. No outro lhe corta as pernas com uma serra, no terceiro pinta-lhe a cara e os braços com tinta preta e sobre o ouro dos cabelos enfia uma peruca black power, o último mantém intocado. Ao terminar recolhe o que sobrou, refaz o sorriso e foge.