PELAS GRADES DA MINHA JANELA.

Via e sentia passar o vento pelas grades da minha janela. Agitava-se quase que, de imediato, o meu signo do ar. Queria no sopro do vento, voar. Nas alturas, nas nuvens de algodão, no horizonte distante; alto, bem alto, desafiando a pouca coragem, vencendo as incertezas e satisfazendo os caprichos dos desejos geminianos. Por anos, ventou em minha janela. Por anos, tocou-me a face a leve e convidativa brisa. Mas havia grades em minha janela. Vez ou outra, no encontrar de ares desgovernados, entrava o vento, pelas grades da minha janela. Levantava a poeira e rapidamente partia. E, provocativo, convidava-me a voar com ele. Mas eu recusava e agarrava-me às grades da minha janela. Furioso, então, em ventania, despedia-se de mim. E, dia e noite eu o esperava nas grades da minha janela. Queria senti-lo no arrepiar dos poros. Queria com ele dançar a dança dos ventos, e rodopiar na envolvente brisa. Até que um dia, após longos anos, a ferrugem acabou por corroer as grades da minha janela. E, feliz, mais uma vez, posicionei-me para esperar pelo apressado vento, agora, sem as grades na minha janela. E, finalmente, ventou. Dessa vez, um vento forte e gelado. Puxou-me janela afora e, inutilmente, tentou me arrastar em várias direções. Tolice, disse-lhe ao pé do ouvido. Todos os ventos me levam a uma só direção. Todos os ventos me levam a VOCÊ.

Elenice Bastos.