LOVE STORY À FRANCESA
Eram dois apaixonados, mas sem a devida coragem para se declarar. Gente humilde já nasce tímida. E quando a timidez não vem de berço ou de rede e quer ousar um pouco, haverá um arrogante que lhe mostrará o caminho da supra insignificância: "Procure o seu lugar!"
Ela, empregada doméstica; ele, varredor da rua. Todos os dias trocavam olhares lascivos na hora de se ir à padaria ou à quitanda do bairro. Um dia passou por eles uma francesa exalando seu mais afrodisíaco perfume francês. Atrás, um jovem atleta. A mademoisele inventou um tropeço e deixou cair o lenço. O rapaz, gentilmente, se abaixou, apanhou o lenço e entregou à sua dona, em reverência de cavaleiro medieval. Ela fez um biquinho sensual que só as francesas sabem fazer, e disse:
- Merci beaucoup!
- N'a pas de quoi! - respondeu o jovem atleta matinal, porém não sei dizer se fez biquinho ou não. Deve ter feito. Francês sem biquinho é Junquês. E os dois seguirem em frente, fazendo biquinhos a torto e a direito, deve ter havido um momento que os biquinhos se desfizeram num sonoro beijo. Não sei, essa parte eu não vi.
No outro dia a minha heroína foi comprar pão usando o perfume Príncipe Negro e com um lenço à mão. Ao passar perto do gari, deixou cair o lenço. Ele, gentilmente, varreu o lenço para a pá, apanhou-o e entregou à sua amada. Ela fez biquinho e agradeceu no mais legítimo gaulês:
- Perdi meu cu!
Ele olhou atordoado para suas ferramentas de trabalho e respondeu sem fazer biquinho:
- Na pá não tá!