O horóscopo
Para ser sincero, não entendo nadica de nada de signos zodiacais e por isso agradeço à guerreira Lilith pelas explicações que ela me deu sobre o meu suposto signo. Suposto porque, a bem da verdade, fui registrado um mês antes de nascer, ou seja, eu já era antes de ter sido (perdoem o cacófato, mas veio por força do contexto).
O meu irmão mais velho, quando jornalista, posou de astrólogo ao tirar férias do titular da seção. Logo ele, que nem sabia onde ficava o Cruzeiro do Sul, ia falar de planetas e casas zodiacais! Mas deu conta do recado direitinho, e muitos casamentos se realizaram porque o signo tal estava em regência com o signo ipsilone e assim era o momento favorável à combinação de escovas de dente no mesmo armário do banheiro.
Eu, que sempre me considerei um deserdado da sorte (a única vez que ganhei no jogo do bicho perdi a pule), tive ao nascer Peixes e ser registrado em Aquário. Qual a vantagem disso? vocês devem se perguntar. Com dois signos a reger o meu destino, tenho o privilégio de escolher qual deles está mais favorável. Foi o que aconteceu certa vez. Consultei o horóscopo e a maré não estava boa para o peixe servir de isca para sereia. No máximo, um travesti. Já os nativos de Aquário estavam no momento ideal para acasalar. Não titubeei. Jornal aberto na secção de horóscopo, procurei uma Virgem no Porto da Barra:
- Sabe o que diz o meu horóscopo hoje?
- Não. O que é?
- Diz que hoje à noite você vai ser minha. Estou lhe avisando para que você saia da praia cedo e vá se arrumar, porque hoje a noite promete.
- Jura?
- Juro.
Ela desfez todos os compromissos praieiros e foi para casa. Antes, se justificou para as amigas que se banhavam ao sol e a olhavam atônitas:
- É... É o Destino! Ninguém pode ir de encontro ao Destino! Tchau!