MANÍACO DAS BALAS

ele já foi uma pessoa normal no passado. Hoje não é mais. Ao levantar arrumava a cama. Preparava seu café. Saia de casa para escola no horário exato, nunca atrasou. Se considerava feliz com o seu jeito metódico e ingênuo sobre o que significa a vida. Até que algo veio perturba-lo. Pareciam demônios, mas não era tão simples. A incapacidade dele retornar ao que significou para todos um dia o frustou. Manter contato com seu passado parecia impossível. Passou a imitar o ritmo de vida daqueles que estavam a sua volta. Tornou-se algo sem identidade. Pois sempre se adaptava às conversas que não eram dele, à atitudes que não lhe convinham. Até que um dia não suportou sua misera rotina. Resolveu agitar seu esqueleto para tornar suas manhãs mais intensas. A psicose lhe havia tomado, mas ninguém o notava enquanto tal. Resolveu envenenar balas de chupar ou mascar, e na medida que passava seus dias testando novas formulas de veneno sua personalidade também ganhou novos traços. Primeiro recorreu ao mercado mais próximo e trouxe para casa vários pacotes de balas. Seu trabalho seria desembrulhar uma por uma em seu laboratório improvisado e adicionar com uma seringa pequenas doses do fluído da morte. Seu primeiro imprevisto foram as balas rígidas que não permitiram a infusão do fluído, deste modo todo aquele lote de balas rígidas foi descartado permanecendo no laboratório apenas as de consistência elástica ou gelatinosa. Chegou a pensar em envenenar bombons de chocolates, mas além de serem mais caros poderiam derreter facilmente. Dedicou-se por dias em sua obra prima. Encheu vários pacotes de balas envenenadas. Agora viria o trabalho mais árduo, sair de casa durante a luz do dia, pois devido sua personalidade introspectiva não gostava de ser visto tão pouco conversar com vizinhos ou estranhos. Se preparou ao ponto de se considerar pronto para tarefa final. Distribuir as balas com fluido nos portões dos colégios, postos de saúde e pontos de ônibus e esperar a festa começar. Pela manhã acordou disposto, deixou seu laboratório para trás e com a mochila cheia de balas despediu-se de sua infância querida. No dia seguinte a cidade entra em caos, o maníaco das balas cuja face ninguém percebeu havia entrado em ação. Chegou em casa cansado pois seu dia havia sido longo, por todos os pontos da cidade ele havia atuado, distribuiu o suficiente para as escolas tornarem hospitais de campanha improvisados pela força nacional (exército). O boato sobre um desconhecido distribuir balas pela cidade já havia chegado até as autoridades da cidade. As buscas começam, mas mal sabiam eles que o caçador estava apenas começando suas atividades, encontrá-lo seria uma questão de muito estudo e sorte para o despreparado e inútil sistema de investigação brasileiro. Mal sabiam todos que o caçador estava apenas começando.

Jack Solares
Enviado por Jack Solares em 19/01/2019
Reeditado em 14/05/2019
Código do texto: T6554916
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