Transparência

Ele chegava cedo na empresa e estava sempre bem disposto. Seu sorriso era fácil, bastava apenas um "Olá!", mas ele quase nunca sorria. Sabedor de seus pesados afazeres, cumpria sua rotina sempre em silêncio e com grande eficiência. Nunca vinham lhe pedir algo extra ou puxar o assunto do dia. Por vezes, quando as equipes estavam em treinamento externo, ele ficava sozinho num dos muitos andares do prédio, ligava o seu radinho enquanto varria o chão e então se sentia em alguma companhia.
Pela manhã, as vezes pediam-lhe que ficasse na portaria. Ele gostava de observar cada empregado, sabia o nome e o setor onde cada um trabalhava, uma vez que entregava-lhes as correspondências, os contra-cheques e alguma encomenda. Vez ou outra, alguém lhe direcionava o olhar, quando ele amavelmente acenava, mas nem sempre lhe devolviam o cumprimento pois estavam sempre atrasados ou vinham conversando animados demais ou se sentindo empurrados para mais um dia de trabalho.
Assim Sr. Albino, que de albino mesmo não tinha nada, viveu por mais de vinte anos para a empresa em que colaborava. Sua transparência somente foi percebida num dia, em que se ouvia um burburinho nos corredores:
- Quem foi que morreu?
- Não sei o nome dele, mas era um senhorzinho que ficava, vez em quando, na portaria...
Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 17/01/2019
Reeditado em 14/02/2019
Código do texto: T6553364
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