Beleza!
A moça era bem nova, mas já estava pós-graduada. Trabalhava numa grande empresa internacional, era muito bem relacionada, tinha ótima posição e a sua situação era deveras privilegiada.
Mocinha trabalhava em sua casa. Veio da roça, tinha alta estatura, era bem magra mas tinha um corpo muito bonito que dava inveja às mulheres da cidade grande. Os cabelos negros, próprios da família de origem indígena, compunham o rosto singular. Ela ouvia desde pequena que era muito bela, então cultivou o tolo sonho de tantas moças do interior: Ser modelo na capital. Via encantada os comerciais de televisão e das revistas que encontrava pela casa onde trabalhava.
A patroa, as vezes, chegava irritada e implicava com tudo... Quando vinha assim, chamava Mocinha aos gritos, para ajudá-la no bota-fora das roupas que ela já havia se enjoado.
A empregada sonhava com uma blusa que ela tinha, ou aquela saia rendada... Pensava sempre: Se ela vai doar tudo isso, porque não pode me dar uma só? Examinava algumas peças em frente ao espelho para ver como ficava na sua silhueta, mas a dona da casa logo advertia:
- Vamos menina, quero tudo rapidamente ensacado!
Um dia Mocinha viu a blusa azul que ela tanto gostava, espalhada pelo chão junto com outras que iriam ser descartadas. Pegou a peça com todo carinho e disse quase sem querer:
- Ah não, essa não!
A jovem senhora olhou a bata, e fez que não percebeu o interesse da menina. Ordenou que tirasse os botões e a cortasse em tiras.
Mocinha não teve coragem e pediu então que cedesse a ela, pois há muito tempo ela apreciava aquela peça.
A mulher então foi perversa, arrancou a roupa das mãos dela e a rasgou de cima a baixo. Gargalhou de modo nervoso, disse o nome da marca famosa, o país de procedência e logo em seguida comentou que daquela viagem ela não queria que sobrasse qualquer vestígio. Ainda completou que, diferentemente das outras roupas que iriam para doação, essa ela queimaria sem dó.
Mocinha ficou atônita, vendo o despautério da patroa. Pensou em pedir para si uma outra blusa mas a mulher já foi logo avisando que aquilo tudo era caro demais para que fosse repassado à ela. Melhor era vender para um brechó e doar a quantia apurada, para a igreja do bairro que sua mãe frequentava, já que a edificação passava por uma grande reforma.
A morena concluiu o serviço em profundo silêncio. Pensou na ideia que nutria desde criança, vir para a capital e ser modelo por causa da sua, tão ressaltada, beleza... Mas depois ponderou sobre o real objetivo de se mostrar nas campanhas publicitárias, sendo que a verdadeira beleza de um ser humano é a sua delicadeza interna, algo que não aparece nas revistas e nos comerciais de TV.
Cláudia Machado
Nota: Foto meramente ilustrativa.
A moça era bem nova, mas já estava pós-graduada. Trabalhava numa grande empresa internacional, era muito bem relacionada, tinha ótima posição e a sua situação era deveras privilegiada.
Mocinha trabalhava em sua casa. Veio da roça, tinha alta estatura, era bem magra mas tinha um corpo muito bonito que dava inveja às mulheres da cidade grande. Os cabelos negros, próprios da família de origem indígena, compunham o rosto singular. Ela ouvia desde pequena que era muito bela, então cultivou o tolo sonho de tantas moças do interior: Ser modelo na capital. Via encantada os comerciais de televisão e das revistas que encontrava pela casa onde trabalhava.
A patroa, as vezes, chegava irritada e implicava com tudo... Quando vinha assim, chamava Mocinha aos gritos, para ajudá-la no bota-fora das roupas que ela já havia se enjoado.
A empregada sonhava com uma blusa que ela tinha, ou aquela saia rendada... Pensava sempre: Se ela vai doar tudo isso, porque não pode me dar uma só? Examinava algumas peças em frente ao espelho para ver como ficava na sua silhueta, mas a dona da casa logo advertia:
- Vamos menina, quero tudo rapidamente ensacado!
Um dia Mocinha viu a blusa azul que ela tanto gostava, espalhada pelo chão junto com outras que iriam ser descartadas. Pegou a peça com todo carinho e disse quase sem querer:
- Ah não, essa não!
A jovem senhora olhou a bata, e fez que não percebeu o interesse da menina. Ordenou que tirasse os botões e a cortasse em tiras.
Mocinha não teve coragem e pediu então que cedesse a ela, pois há muito tempo ela apreciava aquela peça.
A mulher então foi perversa, arrancou a roupa das mãos dela e a rasgou de cima a baixo. Gargalhou de modo nervoso, disse o nome da marca famosa, o país de procedência e logo em seguida comentou que daquela viagem ela não queria que sobrasse qualquer vestígio. Ainda completou que, diferentemente das outras roupas que iriam para doação, essa ela queimaria sem dó.
Mocinha ficou atônita, vendo o despautério da patroa. Pensou em pedir para si uma outra blusa mas a mulher já foi logo avisando que aquilo tudo era caro demais para que fosse repassado à ela. Melhor era vender para um brechó e doar a quantia apurada, para a igreja do bairro que sua mãe frequentava, já que a edificação passava por uma grande reforma.
A morena concluiu o serviço em profundo silêncio. Pensou na ideia que nutria desde criança, vir para a capital e ser modelo por causa da sua, tão ressaltada, beleza... Mas depois ponderou sobre o real objetivo de se mostrar nas campanhas publicitárias, sendo que a verdadeira beleza de um ser humano é a sua delicadeza interna, algo que não aparece nas revistas e nos comerciais de TV.
Cláudia Machado
Nota: Foto meramente ilustrativa.