Cobre para o pobre...
Era manhãzinha e Gracinha já estava de pé, acendendo o fogão com a lenha que João trouxera no dia anterior. O aroma de café fresco, aos poucos, ia se espalhando pela ampla cozinha e logo chegava alguém da vizinhança para uma prosa. Traziam notícias da cidadezinha que distava alguns quilômetros da fazenda do Sr. Waldir, onde a mulher trabalhava havia alguns anos.
Naquele dia, recebeu a visita do vigário da paróquia mais próxima. Ele veio cobrar do patrão de João, sobre a doação que faria para as festividades da padroeira. Estava acompanhado do motorista da prefeitura, numa carona de cortesia, solicitação do religioso após a missa no domingo. Gracinha serviu o café com broa de milho, a que os homens se fartaram e agradeceram rendendo muitos elogios à mulher que sorria acanhada escondida atrás do batente da porta da despensa.
João chegou com o fazendeiro que, desta vez, tinha o interesse de ser o patrocinador da festa no dia da Santa.
- Sr. Waldir, vim agradecer-lhe sua generosa colaboração para o povo do vilarejo. Nossa igreja é modesta, o senhor sabe, precisamos da ajuda da comunidade.
O velho passou as mãos nos cabelos brancos, depois alisou a barba e tomou um gole do café fumegante que a sua empregada lhe servira.
- Sr. Vigário, sim! Faço questão de ajudar o meu povo. Fico emocionado em colaborar com a festa da padroeira.
Inclusive, já pedi ao João que fosse providenciar um palanque na praça, uns panfletos e até uma banda para tocar depois de umas breves palavras que eu gostaria de pronunciar antes da festa.
O padre sorriu demonstrando aquiescência e disse rapidamente uns versículos da bíblia que exaltavam o filho de Deus de coração nobre e compassivo.
Nessa hora Gracinha, que não dizia nada em conversas restritas aos homens, disse sem muito pensar:
- É... É muito nobre mesmo, essa coisa de querer os "cobre" para ajudar os "pobre"...
O rico fazendeiro mexeu o bigode e fez que não ouviu; o padre brincou com o gato que trançava por ali; o motorista aproveitou para acender um cigarro no pátio e João falou algo entre os dentes, afastando a mulher do recinto.
No ano seguinte o patrão de Gracinha era o prefeito do lugar, mas naquele ano ele não apoiou a igreja para a festa anual. Contudo, generoso que era, cedeu o motorista da prefeitura para acompanhar o vigário nas fazendas da vizinhança, de modo que ele pudesse arrecadar seu orçamento para a festa beneficente.
Cláudia Machado
Nota: Foto extraída da internet. Meramente uma ilustração.
Era manhãzinha e Gracinha já estava de pé, acendendo o fogão com a lenha que João trouxera no dia anterior. O aroma de café fresco, aos poucos, ia se espalhando pela ampla cozinha e logo chegava alguém da vizinhança para uma prosa. Traziam notícias da cidadezinha que distava alguns quilômetros da fazenda do Sr. Waldir, onde a mulher trabalhava havia alguns anos.
Naquele dia, recebeu a visita do vigário da paróquia mais próxima. Ele veio cobrar do patrão de João, sobre a doação que faria para as festividades da padroeira. Estava acompanhado do motorista da prefeitura, numa carona de cortesia, solicitação do religioso após a missa no domingo. Gracinha serviu o café com broa de milho, a que os homens se fartaram e agradeceram rendendo muitos elogios à mulher que sorria acanhada escondida atrás do batente da porta da despensa.
João chegou com o fazendeiro que, desta vez, tinha o interesse de ser o patrocinador da festa no dia da Santa.
- Sr. Waldir, vim agradecer-lhe sua generosa colaboração para o povo do vilarejo. Nossa igreja é modesta, o senhor sabe, precisamos da ajuda da comunidade.
O velho passou as mãos nos cabelos brancos, depois alisou a barba e tomou um gole do café fumegante que a sua empregada lhe servira.
- Sr. Vigário, sim! Faço questão de ajudar o meu povo. Fico emocionado em colaborar com a festa da padroeira.
Inclusive, já pedi ao João que fosse providenciar um palanque na praça, uns panfletos e até uma banda para tocar depois de umas breves palavras que eu gostaria de pronunciar antes da festa.
O padre sorriu demonstrando aquiescência e disse rapidamente uns versículos da bíblia que exaltavam o filho de Deus de coração nobre e compassivo.
Nessa hora Gracinha, que não dizia nada em conversas restritas aos homens, disse sem muito pensar:
- É... É muito nobre mesmo, essa coisa de querer os "cobre" para ajudar os "pobre"...
O rico fazendeiro mexeu o bigode e fez que não ouviu; o padre brincou com o gato que trançava por ali; o motorista aproveitou para acender um cigarro no pátio e João falou algo entre os dentes, afastando a mulher do recinto.
No ano seguinte o patrão de Gracinha era o prefeito do lugar, mas naquele ano ele não apoiou a igreja para a festa anual. Contudo, generoso que era, cedeu o motorista da prefeitura para acompanhar o vigário nas fazendas da vizinhança, de modo que ele pudesse arrecadar seu orçamento para a festa beneficente.
Cláudia Machado
Nota: Foto extraída da internet. Meramente uma ilustração.