Nas Ruas Também Se Aprende
Onze anos de idade. O menino não tinha para onde ir. A pessoa que o adotara faleceu. A mãe, uma pobre senhora, esquizofrênica, o espancara, e ele sentiu o peso do mundo sobre si. Ele chorou.
Aos quatorze anos foi viver e dormir no centro da cidade perdida, como perdido estava o seu coração de menino. Aprendeu a errar. Errou, antes de aprender a acertar na vida. Roubou algum dinheiro para comer...para se drogar: já estava louco em um mundo alucinado.
Foi preso, torturado, seu rosto já deformado de agressões pela rua, deformando outras faces oponentes numa guerra que não findava, sobreviveudes e continuou nas ruas...
Virou adulto, estudou, finalmente voltou a estudar, aprendeu a filosofar e entender o mundo: aprendeu a perdoar mas também a desconfiar. Porém tornou-se risonho, em meio a dores, terminou o ensino médio, estendia a rede na frente da escola e dormia. Sofria gritos, malícias mas já sabia o mundo ignorante que vivia: aprendeu com os erros a tolerar e ter paciência. Mas defendendo-se com unhas e dentes. Conseguia também simpatias, existia momentos de trégua. Agradeceu a Deus pela vida de aprendiz. Mesmo dormindo ainda pelas ruas, depois de desentendimentos com outros, ninguém é perfeito e as mentiras também eram demasiadas contra sua moral, afinal: era um prisioneiro de guerra desde a infância, num mundo capitalista selvagem...mas no seu coração havia canções, namoradas, e muito amor e vontade de melhorar a si e ao mundão.