A cerca
Algo de errado havia com aquela cerca. Toda vez que ele passava em frente à casa com uma árvore de goiaba, pensava sobre como aquela cerca era diferente. Talvez por ela ser mais alta do que a maioria ou por ele não consegui saltá-la.
Algo havia de errado com aquele jardim. Toda vez que ele ia passear naquele parque em frente à loja de brinquedos, pensava sobre como aquele jardim era sujo. Ninguém devia fazer nada para deixá-lo mais bonito. Ele não conseguia mais pisar ali. Não mais. Não sozinho.
Algo de errado havia com aquela loja de brinquedos, sim, a que fica em frente ao parque. Ele não entendia por que não via mais os melhores brinquedos de sempre. Talvez por que eles não estivessem mais ali, ou talvez porque ele não conseguia mais passar na loja e se sentir feliz.
Algo havia de errado com os humanos. Por que ele não entendia como seu dono não o levava mais para a loja de brinquedos. Não entendia porque não saia mais para passear pelo parque e rolar na grama como o dono, como se ela estivesse limpa. Ele não entendia por que ele tinha que ficar do lado de fora da cerca alta que ele não conseguia saltar. Não quando um dia ele esteva abraçado com seu dono no quentinho da lareira no inverno.
Ele não entendia o porquê. Ele não entendia o porquê tinha que ficar do lado de fora da cerca.