Desilusão
A grande droga estava disponível. Antes de qualquer coisa, ela é boa e reconfortante. Tem um efeito analgésico, anestesiando muitos sentimentos. Ela torna a vida mais fácil, mais suportável, como um copo de água gelada após uma longa corrida.
Roberto sabia o que queria, o quanto queria e como faria para conseguir. Ninguém poderia criticá-lo neste mundo. Ele cresceu em meio a pobreza extrema, conhecia a fome de perto, a violência tinha com ele grau de parentesco, talvez em primeiro grau, quem sabe... Crescera em uma comunidade pobre na cidade do Rio de Janeiro. Passara por muita coisa difícil, precisa usar mais, para ficar ok, para ficar “de boa”.
Pensava no passado. Sabia que tudo aquilo já não o pertencia. Não precisava carregar todo esse peso nas costas. Sentia-se livre, sim, livre para usar o quanto quisesse. Quem diz o que devemos ou não fazer com a nossa própria vida, se não a consciência de cada um.
Ninguém tem nada com a minha vida! - Pensou Roberto.
Estava sentado na sala de sua casa, olhava a varanda, amava a varanda e a brisa leve do começo do Outono. Sorriu. Tinha um bom emprego, uma linda casa, uma família. Sorriu. Foi a até a sacada da varanda, uma leve ansiedade o tomou, ele precisava de mais, precisava de mais...
A Droga que ele usava, o tornava irreconhecível em certos momentos. Mas, já passava dos 50 anos, parar agora traria apenas um coisa, a morte. Tentou parar anos atrás, o resultado fora um depressão profunda.
Me pergunto se você, caro leitor, tem feito uso regular ou lê este texto de cara limpa?
Roberto, respirou fundo e disse em alto e bom som:
-Eu sou feliz, muito feliz.
Tomou a sua dose de ilusão,bem ali onde estava,sem nenhuma cerimônia. Sentiu-se imensamente feliz. Eu tomo a minha dose todos os dias, sempre uma dose de ilusão. Esta droga sem a qual não podemos viver.