O URSINHO MAIS AMADO DO BRASIL

Fui à loja apenas trocar meu granfino presente de amigo oculto que por vaidade EU queria vermelho, cor de Ariano. Objeto examinado, perfeito funcionamento, recebi cartão-senha para negociar a cor.

De mãos dadas, entraram mãe e filha pequena. Roupas humildes, lavadas, nítido odor floral do sabão em pó, sandálias um tanto gastas.

As sobras de Natal geralmente são mais baratas.

ELA o viu, ELE a olhou, viu a menina com o coração e foi mútuo amor à primeira vista.

"ELE é piticego, mamãe..." (Onde aprendera tal palavra?!)

De fato, olhinhos de botão, um deles ausente, o outro pendurado por uma linha.

"Não se preocupe. Em casa, mamãe 'opera' ELE..."

"E a perninha está meio bamba."

"Consertarei também."

A mulher contou o dinheiro de uma bolsinha, sorriu, ainda sobraria para o sorvete e dirigiram-se ao caixa. Lembrei de certo menino que aos sete anos construía com material velho (ou ELE que já era maduro e velho, sem perceber?) seus próprios brinquedos, ora de metal ora de madeira. Eterno sonhador esperançoso...

Coloquei na mão da mãe o pequeno computador, desculpa de 'muito-apressado-na-minha-hora-de-almoço-fila-de-troca-"muito-grande"-(cinco-pessoas)-estou-atrasado-leia-instruções-no-folheto-aí-dentro' e balbuciei um Feliz Ano Novo. Vagamente sarapantada, mas encantada......... Agradeceu com um olhar.

Na rua, agudo sol de verão esquentando os meus cinquenta e um felizes e bem vividos.

Lágrimas de macho são internas.

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NOTA DO AUTOR:

PITICEGO - A miopia de Miguilim, em JOÃO GUIMARÃES ROSA.

F I M