Coragem
Coragem
"Ela desejava escrever. Algo vinha insistentemente aos seus dedos quase como uma posse. Seus pensamentos beiravam a loucura com aquela dor de cabeça insistente. `São essas malditas palavras`, pensou quase aflita. Eram muitas palavras, soltas, descoxeas, doloridas, rubras de emoção e quase lascivamente emotivas. Não havia jeito. Suas orelhas ardiam e seus dedos coçavam loucamente e ela sabia que a sua paz de espírito dependia da sua capacidade de vomirar o que sua alma exigia. Sentou_se frente ao teclado e largou_se a missão impostamente dita. O escritor sempre será um escravo de seus pensamentos. Era algo cabal e definitivamente necessário. O que fosse mais distante poderia ser algo totalmente próximo. Ela era capaz. Levaria mil pancadas mas seria próprio vencer. Não se falava de impropriedades, mas sua capacidade de intervir, dava_lhe a propriedade de saber distinguir a verdade da mentira. Combinava seu ritmo a sua imaginação. Expressar_se não era nada fácil. Seu mundo era intimamente cor de rosa, nenhuma ilustração matizada seria capaz de traduzi_la. A sua rigidez e sobriedade davam_lhe uma característica impar e acinzentada. Seu desejo era sair por algum lugar e tomar um banho de Sol, mas nada compararia a sua necessidade de brindar a vida e recarregar a alma. Voltaria a ler as linhas das próprias mãos e retomaria seu destino na posse plena de suas palavras. Uma estrela pipocou sob sua visão lembrando_a de sua cefaléia insistente e de seus dedos impacientes. Teclaria um pouco. Venceria o cansaço para parir o que quer que estivesse querendo vir a luz".
Memórias minhas.
Malibe 02 de jan 2016