Sol negro, céu cinza

Ele estava desgastado e quase sem forças. Havia oferecido ofereceu tudo aos mestres de sua desilusão... Flores à fé... Beijos à fidelidade... Dinheiro à ganância... Esperança ao amor...

Não entende porque o tempo fora tão cruel, é, e acredita que será, dentre tudo o que foi vivido, tratando-se de confiança naqueles que iludiam e apresentavam a face da segurança. Os dias foram felizes e, não diferente, tristes também, mas assim como o bem “sempre” supera o mal, no seu mundo, a solidão esmagava o preenchimento.

Parecia uma repetição. Sua vida compartilhada em desejos, promessas e tudo mais que construíam o sorriso, eram jogadas ao chão, como tão rápido se desfaz um castelo de cartas. Mentiras e inveja tornaram a existência assoladora em grande parte dos momentos, e consequentemente o empurravam para o esquecimento e a desolação.

Almas que o inclinavam para a desventura e total enegrecimento de caráter eram, de tal modo, um número superior àquelas que desejavam vê-lo sempre na sua melhor e inimitável transparência.

A plenitude dos sentimentos era infectada e subitamente encarcerada pela devoção daqueles que sentiam prazer na obliteração do sublime amor, que durante tempos foi o mais supremo possível. Como forças ainda reinavam, permanecia no combate aos guerreiros da discórdia, mas não obteve auxílio da parte que dividia todos os sonhos e planos. O falecimento da assiduidade tornava-se inevitável.

O caos mental em que foi lançado transcendia todos os padecimentos, e nem mesmo o sincero sentir o colocava em situação de almejar um amanhã livre, e de certo modo, sem as impurezas e o veneno inserido no seu presente.

Acompanhando as mudanças, repele quase todos de seu mundo, pois mantém o espírito forte esquivando-se dos personagens que dantes habitavam seu inesgotável poço de virtudes reconhecidas. Obstante em meio aos imensuráveis proliferadores do conflito, cujo poder não se é subestimado, ainda continua a sobreviver.

Agora retomou a serenidade. Criou um mundo paralelo para curar a maioria das feridas remanescentes do tempo que ainda respirava uma pequena, mas importante porção de felicidade.

O sol não mais percebe... O céu continua indiferente...

Assim, fragmenta os dias e dissolve-os, para que não existam meses, anos...

Abandonou as cores. Hoje é uma paleta sombria e triste que carrega, pintando somente serenidade e emoções contidas, para que sorrisos não sejam mais confundidos com submissão e passividade.

Paredes são onze, quadros não sei, uma escrivaninha, uma cadeira, uma poltrona...

Contudo, pensamentos são infindáveis.

Assim, existe uma vida marcada de tudo um pouco, por variadas mentes que foram, voltaram e desapareceram. Sendo cada uma, parte da existência feliz-triste-sobrevivente.

Acredita um dia voltar a sorrir, não de face somente, mas de face e alma, pois a reformulação foi categórica, e se ainda assim continuar, que o futuro nesta sequência permaneça... Sereno-contido-singular...

Diene chorou.

Sentia no peito suprimido o escoar da tristeza. Pela garganta descia uma paz amarga, que unida às lágrimas que confirmavam sua dor, preparavam a infusão que removeria seus desalentos.

Sentiu-se aliviada. Acabara de usar o bálsamo para seus desalentos e padeceres.

Fechou o livro e foi dormir.

Gimi Ramos
Enviado por Gimi Ramos em 29/12/2018
Código do texto: T6538148
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