Devaneios filosóficos de um utopista
E foi assim, meu amigo, que ouvi ao final do espetáculo, o ator findar aquela história. Sai dali em pensamentos. Tentei capturar na lembrança o que a personagem quis dizer a seu perseguidor. Suas palavras, como prótons e elétrons chocando-se e expandindo-se no núcleo do átomo, percorriam minha cabeça. Não conseguia me concentrar. E aquelas palavras me acompanharam por semanas a fio. Talvez o ponto zero, quando me pareceu ter entendido, tenha sido num dia chuvoso. A tempestade era tanta que ninguém conseguiu sair às ruas. E então a cidade estava vazia. Ocorreu-me, então, a possibilidade de a espécie humana deixar de existir. Porém, esse "fim" não tinha nada de melancólico. Era apenas pensar nessa possibilidade. E me veio o quanto isso seria triste. O fim do Homem traria consigo o fim de tudo que se conquistou até aqui. Acordei no dia seguinte. Era um dia lindo. O povo estava nas ruas e o espetáculo prorrogou sua temporada.