A porta está aberta
A porta estava aberta. Havia adormecido, certamente o cansaço da noite anterior. As luzes todas acesas, o dia já começava a despontar. Ao sentir o calor da manhã, suas pálpebras iniciaram um movimento tremulo e ritmado. Finalmente despertara.
A sua frente estava uma mulher que a muito conhecia, vestido branco, batom vermelho, cílios grandes e que lhe causava afeição. Ela estava emoldurada a cima da televisão, ao olhar a foto da mãe, refletiu sobre a vida que agora levava e os conselhos materno que sempre desprezou.
A vida é uma coisa engraçada! - Pensou
Talvez engraçada não fosse a melhor definição para a sua atual condição. Ele já estava com 38 anos, largara a faculdade antes do falecimento da sua mãe, para se dedicar a um emprego que lhe paga pouco mais que um salário mínimo. Dívidas, tinha algumas. A alguns anos está vivendo de forma automática, pois acorda e vai trabalhar, volta para casa, senta-se em sua poltrona e adormece ouvindo o noticiário noturno. Às sextas-feiras vai em um Bar que fica no Castelo, onde tem um karaokê, mas nunca canta.
Ao levantar, fez sua xícara de café, preto e amargo. Tomou um gole, fez silêncio, logo depois suspirou. Ele queria mudar as coisas, certamente queria. Refletiu sobre o dia que teria, os imbróglios, as chatices, a falsidade e tudo o que lhe causava repulsa. Tomou mais um gole e novamente um suspiro. Ao menos sentia-se seguro no seu próprio mundo. A porta ainda estava aberta.