O Velho eo Menino
A manhã estava linda, o sol já brilhava forte, não havia vento, as copas das árvores estavam paradas, nem ao menos um pequeno sopro ou uma brisa bem de leve, nada havia.
Sentado num banco da praça, um velho, de olhos miúdos, óculos de lentes e armação robustos, terno claro e sapatos bem lustrosos, observava todos que por ali passavam gente apressada, gente desinteressada, gente calma, gente que vinha dali e de acolá, o velho olhava, suspirava, e nada dizia (não havia ninguém para conversar).
Boa parte da manhã havia passado e o velho continuava ali parado, olhando calmamente para todos os lados, parecia que lembrava da vida, do tempo que não volta mais, das coisas que deixara para trás, quando um menino sentou-se ao seu lado. Trocaram alguns olhares e o velho arriscou dizer um ‘olá’, o menino mal respondeu, timidamente baixou a cabeça e sorriu. O velho retribuiu da mesma forma, baixando a cabeça.
- Onde você mora? - perguntou o velho ao menino.
- Moro perto da estação - respondeu o menino.
- Já morei perto da estação - o velho continuou - morava lá com meus pais e meus irmãos, éramos quatro, nossa casa era simples, mas minha mãe fazia questão de limpá-la com capricho e cobrava de todos nós que ajudássemos na arrumação e conservação. Eu era o mais novo e gostava de brincar de futebol com os amigos do bairro mais próximos de casa... A bola era minha e quando os outros meninos não aceitavam as regras do jogo como eu queria, pegava a bola e ameaçava voltar para casa, no mesmo instante tudo estava resolvido, aí a brincadeira ia longe, até o anoitecer. Também gostava de outras brincadeiras: esconde-esconde, bolinha de búrico, e eu sempre me dava bem, por isso os meninos da rua as vezes não queriam me deixar jogar...
Neste instante o velho baixou a cabeça, pôs as mãos sobre os olhos e apertando-os como se a saudade doesse na lembrança, continuou: - Se pudessem falar, as árvores da vizinhança, com certeza falariam para tirar os meninos delas e deixar primeiro as frutas amadurecerem. O velho fez uma pausa, olhou para o menino que o ouvia atentamente, como se quisesse aprender com aquele senhor, um sorriso singelo se fez presente, os olhares se cruzaram, o velho fixou o olhar no semblante do menino, parecia que ele queria reconhecer no menino algo familiar e perguntou-lhe:
- Menino, qual a brincadeira que você mais gosta?
- Gosto de brincar de futebol, subir nas árvores.
Intrigado com a resposta o velho arriscou outra pergunta:
- Qual o seu nome, menino?
- Paulo - respondeu o menino.
Paulo era o nome do velho e no mesmo instante o menino desapareceu. O velho simplesmente sorriu, um sorriso amarelado.
Às vezes as boas lembranças são as melhores companhias que alguém pode ter.