1091-JACUÍ - A ORIGEM DO NOME

A ORIGEM DOS NOMES

JACUI

O Brasil era vasto, tão vasto que ninguém sabia onde começava nem onde acabava. Os bandeirantes ainda avançavam pelo desconhecido e iam agregando mais e mais alqueires que só muitos anos depois seriam demarcados, nominados e explorados.

Partindo de São Paulo que na época era pouco mais do que uma vila, Sebastião Honorato Lisboa dirigiu-se para o noroeste, rumo a um grande rio, que já era conhecido e constava até de alguns mapas rústicos.

Tal qual Abrão partiu de Ur para povoar a terra palestina, Honorato viajava com a família e todos seus pertences. A família era ainda pequena, pois fazia apenas quatro no que havia se casado com Guilhermina: três filhos era a prole naquele momento de partida.

Em um carroção puxado por bestas estavam todos seus poucos pertences. Pouco dinheiro sobrara depois que comprou o carroção e os animais. Mas pouco se importava, pois para onde ia não precisaria de dinheiro.

Atravessou o grande rio e encontrou o lugar onde queria ficar. Longe de tudo e de todos, terra sem nome, sem dono nem cercas.

Ali se deteve e ali ficou. Construiu casa, abriu lugar para plantações e se estabeleceu. Plantando e colhendo, prosperou e aumentava suas terras de cultivo a cada safra

Os anos passaram e a família cresceu. Surgiram outros aventureiros que, como Sebastião, foram ficando na região.

Muitos anos depois, Sebastião, já cansado das lides, deu em perder a memória e ficar desorientado. Chegou um tempo que ficou completamente caduco.

Em sua cabeça, só havia luar para as colheitas. O pouco que conversava era para perguntar aos filhos (eram onze) se já haviam colhido esta ou aquela plantação. Os filhos respondiam como o pai queria ouvir, que sim, a colheita já tinha sido feita. Pois, caso respondessem o contrário, o velho ficava nervoso, queria sair da casa a qualquer hora do dia ou da noite, para fazer a colheita.

Ficou semi-paralitico. E do alpendre da casa, gritava para os filhos, quando estes estavam à vista:•.

— Dito, já coieu o arroz?

Ou:

— Marcolino, já coieu o feijão?

Para evitar explicações ao velho pai caduco, as respostas, mesmo não sendo tempo de colheita desta ou daquela plantação, eram sempre:

— Já cuí, pai, já cuí, pai.

Com o tempo, o velho, sem ver os filhos, gritava a pleno pulmões —e lá isso ele tinha de forte: a voz:

— Quinca, já coieu a batata?

Os gritos eram fortes e reverberava pelas colinas.

— Tonho, já coieu a mandioca?

E Tonho respondia, lá do alto da colina:

— Já cuí, pai.

Os vizinhos ouviam e achavam engraçado, e começaram a chamar a fazenda do velho pioneiro de JÁ-CUI. Daí, quando foi organizada a comarca, e criado os municípios e as cidades, qual o nome que coube às terras da daquelas bandas?

– JACUÍ.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 16 de outubro de 2.018.

Conto # 1090 da Série Infinitas Histórias

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 24/12/2018
Reeditado em 24/12/2018
Código do texto: T6534722
Classificação de conteúdo: seguro