NATAL NA BARCA
Uma das minhas experiências de “professor de Literatura” (?) autodidata /que estudou ao longo da madrugada o que ganhei da minha genial (ou geniosa: vai me cobrar uma orquídea lilás?!) AMIGA carioca Geminiana/.........
A minha (?) aula para professores novatos consistiu de texto completo do conto digitado para toda a assistência (grande maioria feminina), leitura dramatizada (morena e loura lindas se revezando), esquema resumidíssimo da teoria literária no quadro de giz, explicações orais e exercícios digitados.
ESTRUTURA DO CONTO e ANÁLISE DO TEXTO
A---ENREDO - Sequências num conto - 1-PRINCIPIO - EXPOSIÇÃO (apresentação da estória - personagens, lugar, tempo) --- 2-MEIO - COMPLICAÇÃO (algo repentino e reação: conflitos, complicações) e CLÍMAX (explosão dos conflitos, suspense) ---3 - FINAL (desfecho).
NARRATIVA, sequência de fatos: estória (o que ocorre) + narrador (contador da estória): situações de equilíbrio (geralmente início e fim da narrativa) + situações de desequilíbrio (conflito vivido por personagem) // Poucas ações, início quando a jovem mãe procura dialogar com a outra passageira na barca e termina ao se despedirem à chegada na outra margem do rio. // RESUMO DO ENREDO: “Numa tosca barca, numa noite de Natal, fizeram a travessia de um rio o barqueiro, o bilheteiro e quatro passageiros, incluindo uma criança doente.”
CONTO - narração de uma estória curta, condensada, passada num só lugar (barca), num tempo curto (travessia de um rio), com poucas personagens, poucas ações, uma única célula dramática. Em NATAL NA BARCA - Narrativa 1 - encontro casual entre desconhecidos na barca (fatos do momento) --- narrativa 2 - relato da jovem mãe (passado dela). Desencadeamento do conflito - jovem mãe religiosa (Narrativas 1-2) X narradora descrente (Narrativa 1).
EQUILÍBRIO - N.1 - início dos fatos há 6 meses passados (ainda paz no lar) - N.2 - início da travessia do rio na barca de “luz vacilante” (clima de ambiguidade) // DESEQUILÍBRIO - N.1 - abandono do marido e morte do filho mais velho - N.2 - segundo menino estará morto ou não? (temas do olhar e do ser X parecer) // NOVO EQUILÍBRIO - N.1 - sonho emocionado com o menino morto - N.2 - menininho doente acordando ao final da travessia.
CONFLITO - forças antagônicas sobre duas forças: N.1 - apesar do drama sofrido pela jovem mãe, ela sempre acreditou em Deus - N.2 - angústias sofridas pela narradora: ter fé ou não? ----- CÉLULA DRAMÁTICA DO CONFLITO - ações das personagens girando ao redor de suas emoções; quando há choque de sentimentos, há um drama. / ANTAGONISTA - mãe - cheia de calma, de fé e gostava de comunicar-se X PROTAGONISTA - narradora - ter fé ou não? // Estado de espírito da narradora durante a travessia: protagonista não queria “laços humanos” naquela noite. “Eu queria ficar só naquela noite, sem lembranças - nem piedade.” - “...os tais laços humanos” - solidariedade para com nosso próximo: na existência deles, no relacionamento entre as duas mulheres se resume a célula dramática do conto.
B---PERSONAGENS - PRINCIPAIS - dialogam, contracenam. maior ação na estória - narradora e jovem mãe; SECUNDÁRIAS - menino doente, barqueiro, bilheteiro, bêbado (Deus como amigo invisível?) - “...um velho, uma mulher com uma criança e eu...” - menor ação, funcionam praticamente como pano de fundo ou cenário - APENAS CITADOS - menino que morreu (“mágico”?), avó, marido, antiga namorada. ----- Narradora / participa e narra em primeira pessoa (eu), que vive o drama relatado pela mulher e que também sofre com a outra - transforma-se em personagem central: é a protagonista (P - desempenha o primeiro papel num acontecimento) X Jovem mãe - opõe-se à narradora e lhe transfere seus conflitos, fazendo a narradora sofrer: é a antagonista (A - atua em sentido oposto, como adversário). ----- Diálogo: P - A senhora é conformada. // A - Tenho fé, dona. Deus nunca me abandonou. // P - Deus -repeti vagamente. // A - A senhora não acredita em Deus? // P - Acredito - murmurei. (...) som débil da minha afirmativa...
AÇÕES DAS PERSONAGENS (enredo) - poucas ações, desenroladas na barca, na travessia do rio: 1--exposição - apresentação da estória, mostrando lugar, tempo e personagens // 2--complicação - surge de repente: a protagonista se irrita diante da calma e de nenhuma revolta da antagonista ----- fatos narrados pela jovem mãe - “ - Meu marido me abandonou.” “...acordei rindo também.” X Reações provocadas na ouvinte - “Sentei-me e tive vontade de rir.” “Fiquei sem saber o que dizer.” // 3--conflitos - explodem como um estopim, angústias sofridas pela narradora ----- “Esbocei um gesto (...) levantei a ponta do xale que cobria a cabeça do menino.” “Fiquei sem saber o que dizer. Esbocei...” // 4--clímax - momento de suspense, ponto mais alto da narrativa (desenrolar de fatos que levam a um momento decisivo) - quando a narradora ‘descobre’ (?) que o segundo filho da serena mulher também estava morto - “Deixei cair o xale.“ // 5--desfecho - milagrosamente, acontece o inesperado - o caçula “acordou” (como?) - “ - Acordou?!” Então houve de fato um milagre?
C---TEMPO: 1-objetivo ou cronológico - o tempo da travessia do rio (não medido) e do diálogo entre as duas mulheres; também Natal // 2-subjetivo ou psicológico - memorização da estória anterior (6 meses) // 3-tempo passado próximo - narradora relata no conto os conflitos vividos na barca // 4-tempo passado remoto - o que jovem mãe viveu “lá fora” anteriormente.
D---ESPAÇO - lugar onde se desenrola a estória, isto é, o enredo - lugar isolado, nada por perto, como se navegação num mundo deserto - 1--espaço físico ou externo - barca, onde se dão os conflitos da narradora ao enfrentar aquela mulher incrivelmente infeliz e conformada - narrativa 1 // 2--espaço psicológico ou interno - o “lá fora”, onde a jovem mulher viveu drama anterior à narrativa, restaurado no conto através do relato dramatizado, e conflituosos dramas internos da narradora, não revelados - narrativa 2.
E---OUTROS ELEMENTOS DA NARRATIVA:
1--CLÍMAX - menino realmente morto ou não?
2--FOCO NARRATIVO ou PONTO DE VISTA DO NARRADOR - de primeira pessoa - narrador onisciente e personagem, pois conhece tudo a respeito de personagens, tendo vivido em sofrimento o drama da jovem mãe e a nova expectativa ante esta segunda criança provavelmente também morta (de terceira pessoa, será apenas um narrador-observador).
3--DIÁLOGO - fala das personagens, troca de idéias e emoções.
4--DISCURSO - linguagem usada na narrativa: a--discurso direto - fala da personagem sem interferência do narrador - “ - De manhã esse rio é quente - insistiu ela, me encarando.” // b--discurso indireto - fala da personagem controlada pelo narrador - “Encarando-me, ela insistia que de manhã o rio era quente.” // c-indireto livre - possibilidade considerada quanto à sua estrutura idêntica ao discurso indireto, porém com a omissão de verbos de elocução (‘dicendi’ ou dicentes) e foco narrativo em terceira pessoa - narrador focaliza a consciência da personagem e transmite sua fala anterior ou é opinião calada do narrador - “Apatia? Não , não podia ser de uma apática aqueles olhos vivíssimos, aquelas mãos enérgicas. Inconsciência?”
MITO EM “NATAL NA BARCA”
Mundo natural X Mundo sobrenatural
morte ressurreição/VIDA
TÓPICOS: água do rio - a figura da água fascina e atrai - à noite, negra e fria; pela manhã, verde e quente // barca - rito de passagem, seja mar ou rio, travessia da água = purificação - aqui, milagre de renascimento e ressurreição? // símbolos representam alguma coisa - rio, verde e quente = esperança, fé em Deus, calor divino // travessia - “em redor (da barca) tudo era silêncio e trevas” // =Bíblia, Gênesis - “No principio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.” // jovem mãe, semas de santidade, figura bíblica - “longo manto escuro (...) aspectos de uma figura antiga” (...) “desapareceu na noite” // índice de morte e luto - “embarcação desconfortável, tosca...uma lanterna com sua luz vacilante...barca despojada e sem artifícios...sulco negro eu a embarcação ia fazendo no rio...grade de madeira carcomida...os quatro, silenciosos como mortos num antigo barco de mortos deslizando na escuridão...água gelada do rio (à noite)...chão de largas tábuas gastas” // presença invisível de Deus - “bêbado (...) palavras amenas a um vizinho invisível” // outro filho - “brincando de mágico” (...) “ou voar!” (=anjo) // sonho da mãe - “e no meu sonho Deus me apareceu (...) Sua mão de luz (...) vi o meu menino brincando com o Menino Jesus no jardim do Paraíso.” // tempo - noite de Natal // jovem mãe e criança doente vinham da cidade de Lucena (conotação de luz) // rio, rito de passagem - noite=trevas, água gelada, morte; dia=luz, verde e quente, vida // febre - nem plano do consciente ou do inconsciente, nem morte nem vida // índice do milagre (?) e da vida - “belos olhos claros, extraordinariamente brilhantes...roupas pobres, puídas, mas com muito caráter, revestidas de uma certa dignidade (...) rio de água quente e verde pala manhã...cidade de Lucena” // o sobrenatural - “ - Acordou o dorminhoco! E olha aí, deve estar agora sem nenhuma febre.” (...) “A criança abrira os olhos - aqueles olhos que eu ‘vira’ cerrados tão definitivamente. E bocejava...” (índice de vida).
“ - Então, bom Natal!”
Vida com fé - jovem mãe - “seu rosto resplandecia” X desconfiança, necessidade de certeza - narradora - “Duas vezes voltei-me para ver o rio. (...) Verde e quente.”
E X E R C Í C I O:
1-Dê o significado -- apatia - indiferença; atracar - chegar-se à terra; cerrados - densos, fechados; esboçar - entremostrar; fraca - débil; obscura - sombria, vaga; ociosidade - preguiça; pairar - parar acima; remover - transferir, mudar de lugar; remendos - pedaços de pano que se conserta numa roupa; respingos - pingos de água; resvalar - cair, escorregar; sulco - depressão que um navio faz na água; sucessivas - continuadas, seguidas; tosca - tal como veio da natureza; treva - escuridão completa; tumultuadas - agitadas; vigorosa - forte, destemida. ----- 2-A travessia das águas, em certas narrativas, pode às vezes . representar um rito de passagem. Em NATAL NA BARCA, representa: (x) um renascimento - (x) ressurreição - (x) aceitação do divino - (-) amor pelo menino Jesus - (-) batismo. ----- 3-Quem poderia ser o amigo invisível do bêbado, ele mesmo um necessitado? Justifique em 3 linhas. - Só é visível ao bêbado não consciente. Barqueiro de Deus, mensageiro, anjo. ----- 4-Um choque de sentimentos dá ao conto a célula dramática, ações girando em torno de suas emoções. Relacione: (a) narradora não quer “laços humanos “ naquela noite - (a) descrente, queria solidão - (b) jovem mãe - (b) cheia de calma e fé, gostava de comunicar-se. ----- 5-A célula dramática poderia resumir-se na existência ou não dos tais _________ (laços dramáticos) no relacionamento entre as duas mulheres. ----- 6-Assinale “...os tais laços humanos”: (-) amor da mãe pelos filhos; (x) solidariedade para com o nosso próximo; (-) enfeites aplicados no traje da narradora: (-) companheirismo de uma semana. ----- 7-Jovem mãe e criança vindo da cidade de Lucena explique este índice de vida, Lucena=luz. Relacione com a estrela de Belém: O próprio nome da cidade já os classifica como “iluminados” e assim sempre haveria para a mãe e aquele filho muitos caminhos felizes, tendo por culminância a conservação da vida da criança. Há mais de dois mil anos, a estrela de Belém anunciou ao mundo o nascimento do iluminado Jesus Cristo. ----- 8-Assinale as alternativas corretas: (a) “O meu primeiro morreu o ano passado.” - (x) discurso direto, (-) conflito, (-) apresentação do enredo, (-) protagonista - (b) “O menino estava morto.” - (b) clímax - (c) “Acordou dorminhoco.” - (x) discurso direto, (x) desfecho. ----- 9-De repente a narradora se irrita da calma e nenhuma revolta da jovem mãe. Transcreva as frases interrogativas e emocionais da narradora: “E ali estava (...) Apatia? (...) me fez andar.” ----- 10-A protagonista se irrita de vez: (-) barca andando devagar - (-) uma criancinha doente justo na noite de Natal - (x) tamanha serenidade em alguém tão infeliz. ----- 11-Clímax, situação de suspense. Em que momento você.leitor/-a, prendeu a respiração e esperou por uma resposta divina? Use suas próprias palavras ou transcreva um trecho do conto: “Esbocei um gesto (...) a ponta do xale (...) ele estava morto.” ----- 12-Após ver o menino ‘morto’, a narradora teve dificuldade de respirar - localize a frase: “Respirei penosamente.” ----- 13-Quando julga a criança morta, a narradora trata de: (-) consolar a mãe; (-) mudar de assunto; (x) sair, evitando presenciar um novo drama; (-) puxar um cigarro. ----- 14-O texto mostra: (-) claramente a morte e a ressurreição da criança doente; (x) a dúvida se a criança realmente morrera. Justifique com palavras suas, em 3 linhas. ----- 15-Ao fim da viagem, que parecia “um antigo barco de mortos...”, a narradora imaginou ou sentiu ter acontecido: (x) um milagre inexplicável; (-) um passeio rotineiro de uma a outra margem do rio verde e quente. ----- 16-À saída da barca, a narradora retorna ao rio para imaginá-lo verde e quente. Sendo estes adjetivos simbólicos, isto é, representativos de alguma coisa, diríamos que representam, respectivamente: (-) água de algas e calor do verão; (x) esperança e fé em Deus; (-) as águas das lavadeiras e o milagre divino. ----- 17-Alguns elementos no conto nos levam a concluir que o Natal é a época ideal para: (x) alcançarmos a graça divina - (x) a renovação da fé e da esperança em nossos corações - (-) uma aventura de barca. ----- 18-Houve realmente um milagre? - O milagre da ressurreição seria algo inédito na história da humanidade. ----- 19-A narradora descobre, através de um breve relacionamento, a força: (x) da noite de Natal - (x) da fé e da esperança - (x) da recompensa divina. ----- 20-Ideias centrais do conto - (-) nada adianta, a vida é um eterno sofrer - (x) é bom crer na força divina; (x) Deus realmente vela por nós; (x) milagre às vezes acontece. ----- 21-Ideia final do conto - a força e a beleza do amor num provável milagre de Natal. ----- 22-Diga em 10 linhas o que você sentiu com a leitura deste conto.
AUTORA:
LYGIA FAGUNDES TELLES - Paulistana, Ariana de 19 de abril. Romances, contos, crônicas, com adaptações para cinema-teatro-tevê e tradução de suas obras em vários idiomas. Muitos prêmios, inclusive o Camões/2005.
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