O menininho da cabeça raspada
Olá!
Eu sou o Bidu, aliás, meu nome mesmo é Bittencourt, mas apelidaram-me de Bidu, Biduzinho para os mais próximos...
Faço o 6° ano do Ensino Fundamental, mas não quero mais ir à escola.
Papai e mamãe disseram que preciso dos estudos pra me tornar um grande homem, não sei se confio nisso.
É que nas últimas semanas, meus amiguinhos estão sorrindo de mim. Eles ficam falando coisas que me machucam, mas ninguém quer me ouvir, saber o porquê dos meus sumiços na hora do nosso intervalo.
Eu gostava muito de comer biscoitos recheados, salgadinhos tipo Ruffles. Também adorava refri de uva e pão com salsicha.
Mas a Doutora Cidinha, minha médica, proibiu meus papais de comprar essas comidinhas tão deliciosas.
Fiquei triste com ela!
E agora estou triste com os meus colegas de classe.
Está certo que os motivos pelos quais estou chateado por estes e por aquela são diferentes, mas estou.
Agora eu só posso comer verduras, frutas, proteínas saudáveis e outras coisas que não sejam minhas guloseimas gostosas.
Ainda bem que mamãe prepara minhas refeições com bastante carinho!
Ela coloca muito amor nelas. Eu sinto isso na hora de comer.
O meu lanchinho da escola foi substituído por cenouras, sanduíche natural e sucos verdes.
Meus amiguinhos sorriem disso também.
A diretora da escola, Dona Saudina, pede pra eu ter paciência com eles.
Eu tenho! Eu tenho!
Só que é mais difícil agora, pois as chacotas aumentaram, porque estou careca, como o meu papai.
Apontam o dedo, zombam e dizem às gargalhadas que eu sou o Zé Careca.
Nesses momentos eu choro!
O câncer faz isso com as pessoas, não importa a classe social, a idade, a cor da nossa pele. Quando essa doença nos pega é dupla dor: a causada por ela, e a causada pelas piadas, pelo preconceito e pelo dó disfarçado de egoísmos...
Tudo bem mudar minha alimentação, que, agora, é saudável!
Tudo bem eu não poder participar de algumas atividades da escola por conta das sessões de quimioterapia, as quais me deixam um pouco mole.
Mas o que eu quero mesmo é vencer o câncer, para o meu cabelo voltar a crescer e, assim, eu ter de volta os meus amigos e a minha paz.
Assim eu poderei ser o grande homem do papai. E levar amor às pessoas. E ensinar àqueles que sorriem de coisas sérias o quanto essa atitude magoa.
Eu sou o Bidu e vou vencer o câncer!