A primeira vez
Antônio a viu pela primeira vez e se apaixonou, amou mesmo. Ele não conseguia acreditar que aquilo seria possível. Ele e Carolina já estavam casados há vinte anos. Todos conheciam o seu amor por ela. Ele mesmo declarava esse amor em todo momento. Mas estava realmente incomodado com aquela mulher que vira pela primeira vez, que trocara algumas palavras e olhares. Tentava buscar algum tipo de explicação científica ou religiosa, pois precisava de uma explicação. Acreditava que se conseguisse explicar de maneira satisfatória aquele incidente social e que a explicação não tivesse nenhuma relação com mitos, como: amor à primeira vista, estaria tudo resolvido.
Chegou em casa mais cedo e procurou Carolina. Ela estava na cama folheando uma revista. Tinha cabelos cacheados que escorriam pelos seios. Antônio pulou na cama, pegou seu rosto com as duas mãos e lhe deu um beijo apaixonado. Em seguida, levantou-se de um salto, correu até à porta do quarto e a trancou para não serem surpreendidos. Antônio amou Carolina com grande paixão, com grande tesão.
Exausto, Antônio tomou uma ducha gelada. Voltou para o quarto e Carolina dormia. Ele ficou ali a olhando. Ela dormia levemente e ele acompanhava seu sono, sua respiração, e com as pontas dos dedos deslizava sobre todo seu corpo. Foi invadido por uma onda de flashes de memória. Lembrou de quando se conheceram, de como tudo foi tão difícil no início e de como as coisas foram se ajeitando com muito sacrifício e dedicação. O nascimento de Ricardinho. Toda a saga de sua vida em conjunto com aquela mulher, a sua Carolina, explodia ferozmente em sua memória, arrombava as portas de seu cérebro e o enchia de emoção, bombardeava seu coração. Momentos felizes e inesquecíveis. Momentos tristes e de grande aflição, aquela mulher ali deitada que acabara de amar loucamente esteve ao seu lado em cada momento aflitivo. Ele via a construção imensa que era a sua vida com Carolina. Vinte anos de construção muito bem alicerçada, muito bem edificada. Bastaria olhar os frutos, tudo estava ali, o amor em plenitude.
Antônio levantou-se, fechou-se no banheiro e chorou amargamente por ele, por Carolina e por aquela mulher que a viu somente uma vez e a amou como nenhuma outra.