A Romaria Tropical
O círio já estava na porta e as embarcações no porto de Pontas de Pedras prontos pra sair. Tia Morena com a Mariazinha já estavam de malas prontas, juntamente com o Tio Lourenço, tia Idália e toda a filharada. Então aproveitando o frescor da manhã, daquele domingo, embarcaram na Santa Maria, a lancha da prefeitura. Começando assim, a caminhada para o porto de Belém, que nada mais era que um dia de viagem. Mas quem não pegava a lancha, dispunha das embarcações a vela, que levavam até dois dias pra chegar. Normalmente ficavam à espreita, no ainda improvisado porto, em toras de madeiras, uma ao lado da outra, valsando, com o encher e vazar das mares. A mata exuberante, ramificava suas anhingas, onde as garças, Martins pescadores, mergulhões e urubus dividiam a mesma necessidade, era a natureza sendo urbanizada.
A fila de romeiros seguia o padre da paroquia, para adentrar a lancha, enquanto os marinheiros, cuidavam de pôr ordem na entrada. Mesmo sem os apetrechos de segurança, como o salva vidas ou a fiscalização, seguros em sua fé, eles entravam e armavam suas redes, agasalhavam suas coisas e na maiorias da vezes, com a pressa, percebiam, que esqueciam algo. Como foi o caso, de uma sacola com mel, frutas, andiroba, peixe seco e camarão, que a família do tio Lourenço esqueceu. No entanto, ele, tio Lourenço, em sua calma natural acalmou, desafligiu a todos dizendo, que ao chegar em Belém, ele daria um jeito de comunicar com Benedito, seu cunhado ou a Wilse, sua irmã, para que eles trouxessem como sua bagagem. Visto que só viriam a Belém na terça.
Durante a viagem de um dia, os meninos sem muita opção, corriam pelo convés e as vezes paravam, pra ver a beleza exuberante da mata, que se desdobrava naquela riqueza excessivamente verde natural. Crianças como adultos ficavam ansiosos por chegar e ver a famosa cidade das mangueiras, pois contava-se maravilhas dela e dessa forma, atiçava a curiosidade humana. Por assim dizer, eles sonhadores contavam as paradas e não cansavam de ver as ondas entrecortadas do rio, que parecia, em sua cor, o doce de cupuaçu.
Viam as tapagem dos rios, araras, maracanã, papagaios, Tuius, colhereiras e muitas marecas, com Tucanos enfeitando o céu. Bem como os vilarejos, normalmente surgidos pela invasão das madeireiras, que eram responsáveis, pela morte da floresta e a poluição do rio, com plásticos e garrafas já transitavam sem destino, em nome de um capital perverso e um progresso desordenado, onde também residiam muitos amigos e parentes, que matavam a saudade só com um aceno acompanhado de fraternidade e solidariedade de todos do barco e da margem.
Quando a lua serenava, a escrever na água escura seus versos, partidas e chegadas, de encantos e desencantos, de segredos e lendas, a gurizada já dormia; alguns pais e mães, sobretudo os marinheiros da embarcação contemplavam as poesia e os versos, que rescendiam também, do silêncio das matas, só interrompido pelo barulho do motor.
Bandeira do Pará sobre a lancha fazia o seu papel, Belém, a índia aportuguesada, aos poucos saia das histórias, do papel e dos seus mistérios para encantar os olhos de quem jamais tinha visto uma cidade.
No porto do açaí, ao pegado do Forte do Castelo, onde as árvores constratavam com os seus canhões aposentados, se via o famoso Relógio e também o mercado do Ver o Peso. Descida de todos, tio Ademar já esperava com a Tia Nazaré para os levarem a Bernardo Couto, residência final, para o descanso e os preparativos, daquela festa religiosa, que normalmente trazia a cidade muitos, romeiros interioranos, bem como de outros estados de outro país. Normalmente, a cada outubro, o círio, conhecido como o natal paraense já congregava muita gente, pra pagar promessas, pra se emocionar, pra escrever sobre ou para assistir e sempre voltar.
Nas ruas, já se podia ver aqueles vendedores, encantadores da meninada, com os seus brinquedos de miriti, de lata, balões e brinquedos de pau. No comercio local, a medida, que o carro, já assustando e confortando quem chegava, os levava pelas ruas encapetadas de paralelepípedos anunciava as suas maravilhas em roupas, utensílios e outras coisas mais, sobre tudo os perigos, para quem não estava acostumado… Assaltantes e enganadores, frisava assim tio Ademar, aos que chegavam.
Chegando a frente da casa, ponto final do destino da viagem, ao saírem do carro… Tio Lourenço, tia Idália, tia Morena, Mariazinha e os meninos, já se sentia o contraste no ar a mistura de cheiros, naturais da cidade grande… Fumo, da Democrata, Tabaqueira e Souza Cruz, Pão torrado, da Padaria Cinco de Outubro, sabonete, da Phebo e um bem característico… o famoso cheiro das mangueiras, que recobriam a cidade se misturando com a novidade, que era a famosa maniçoba, ardendo a três dias, em vasilhas improvisada, de lata de manteiga, conseguidas na Renda Priori.
Sem perder muito tempo, Lourenço deixou os meninos e mulher na casa da tia Dina e saiu com Ademar para irem a raio Marajoara ou a PRC5 para mandar a sua mensagem no programa “Alô, alô interior e darem o seu recado ao Benedito. E juntos puderam acompanhar antes o programa Policial da cidade, com o intento do Braguinha, que começavam naquele momento com o Dingo policial:
- “É uma tristeza ou uma felicidade ouvir meu nome na Patrulha da cidade”. Seguindo as informações a respeito dos acidentes e assaltos. Os altos e baixos da cidade grande. Até que lá pelas uma hora da tarde começou o “alô, Alô interior. Já passava da hora da fome, quando Ademar e tio Lourenço conseguiram escrever a mensagem e ficaram para ouvir o recado, que dizia, nas vozes do locutor:
- Alô. Alô interior; alô, alô interior, dona Joana e dona Bia pedem ao senhor Amâncio em São Miguel dos Macacos irem para Breves receber a sua filha Francelei, que chegará amanhã no barco “Leão do Norte”; Alô, alô interior, alô, Alô interior seu Lourenço avisa ao senhor Benedito marido de Wilse, em Ponta de Pedras para trazer as sacolas com mel, frutas, peixe seco, camarão e borracha, entre outras coisa esquecidas na sua casa. Alô, Alô interior dona Alzira pede que o seu Anastácio não esqueça de trazer o seu rádio, pois ela está querendo ouvir a decisão entre Remo e Paissandú que acontecerá na segunda feira que vem depois do círio…
Assim depois de encaminha as noticia, tio Lourenço e Ademar desceram a João Alfredo para comprar alguns cortes e cordas, sapatos e redes par abrigar o batalhão de pessoas que se hospedavam na casa do Ademar. Depois compraram uns caranguejos na beira e pegaram o carro para voltarem pra casa. Apreciando a paisagem, matando a saudade do Palácio Antônio Lemos, do bondinho e das casa Pernambucanas, da Mesbla, da loja do Canguru, da Yamada e Lobras, bem como dando uma volta por Nazaré para visualizar a Basílica e como estava ao redor os preparativos para o Arraial. Depois desceram pela quatorze e entrando na governador José Malcher desceram na Doca, Visconde de Souza Franco, enfim chegando a Bernaldo Couto, visualizando por último o Manoel Pinto da Silva com as luzes de Natal sinalizando para o fim do ano.