A FAVEIRA E O HOMEM LENHADOR



É no leste maranhense que se encontra a maior cidade espiritual do Brasil, a cidade de Codó separada pela BR-316 na malha ferroviária São Luís – Teresina até Fortaleza, uma das principais portas de escoamento da produção agroindustrial. Desbravado o seu povoamento desde 1780 às margens do Rio Itapecuru pelos ricos aristocratas e portugueses, além da fulminante imigração de sírios e libaneses, é nesta terra onde nasceu a maior produção de algodão e o surgimento da indústria têxtil com a fabricação de riscados, brins e tantos outros. Destacava-se ainda, a primeira indústria de óleos de amêndoas de babaçu, através do mega empresário Antônio Nonato Duailibe Salem, que além de suprir o mercado nacional, ainda exportava.

O nome da cidade de Codó teve sua origem em homenagem aos homens e mulheres escravos oriundos da cidade de Kodok no Sudão no Alto Nilo, também conhecida como Fashoda, em cuja cidade africana teve o grande embate da França e Reino Unido, abrindo porteiras para a grande corrida à África.

Codó ainda se destaca com a produção de arroz, mandioca e feijão, limitando-se geograficamente com as cidades de Caxias, Aldeias Altas, Dom Pedro, Chapadinha, Gonçalves Dias, Lima Campos, Governador Archer e Santo Antônio dos Lopes. Na beleza natural é cortada por vários córregos e riachos como da Água Fria, Codozinho e Saco, além do Nilo que banha as suas terras, o maior Rio do Maranhão – Itapecuru desembocando na Bahia de São Marcos nas proximidades da capital, desfrutando ao longo de sua existência com predominâncias arquitetônicas em vários casarões e armazéns antiquados e no centro da cidade como destaque a Praça Naby Salém, Ferreira Bayma, Prefeitura Municipal e o Fórum Estadual.

Destacam-se ainda, em especial os juízes, filhos da cidade de Codó: Milton Bandeira e Paulo Afonso Vieira Gomes, renomados homens da arte jurídica do Estado do Maranhão. 

Não há limitações que se alongam num centro comercial agitadíssimo na segunda-feira, camelôs e ambulantes com suas barracas, atraindo várias pessoas de outras localidades, perfumando a festa principal o carnaval que começa duas semanas antes da oficialização, além dos carnavais fora de época com a Micarecodó, Codó Folia e o atraente Cornofolia que aglomera gente de várias localidades do Brasil por não apresentar violência nestas festividades.

Conhecer a cidade de Codó é navegar na mística espiritual que derrama raios vindo dos céus, rejuvenescendo com largas emoções que rebatem nas memórias e raízes de uma formação maranhense cultural, agraciando os orixás e demais Santos protetores na simbologia da mais augusta corrente de defesa daquela gente.

Há também uma rede local de escritores e poetas com uma riqueza literária invejável, apesar da valorização nesta área não possuir incentivo com pouquíssima expressividade nacional, bem assim, sobressaindo a Associação Cultural Codoense, Rotary Clube de Codó. Dentre outros afáveis atributos tem um papel relevante a Sociedade Pestalozzi de Codó que busca os anseios com desenvolvimento na educação da criança portadora de deficiências físicas, único instrumento protetor desta casta.

É na cidade de Codó que nasceu o maior velocista brasileiro - Medalha de Ouro do Pan-2007 - José Carlos Moreira, conhecido como Codó, será um dos atletas a brilhar na Olimpíada de Pequim, na China.


Ambulantes, marreteiros e camelôs fazem da cidade de Codó, o maior comércio informal de rua, sem uma área específica de trabalho, homens trabalham sob o sol escaldante ou às vezes sob chuva no espaço público.  Estes profissionais de rua, são verdadeiros trabalhadores ocupacionais da economia informal com uma clientela frequentadora alarmante. Uma das atividades que mais chama atenção do público, é o Troca-troca de mercadorias, lá se pode trocar uma bicicleta por um jumento, um bode por um bom cachorro de raça, geladeira, papagaio, objetos antigos, patos, pintos, e a menina da garrafa de café, que além de oferecer o cafezinho, acompanha um cigarro da marca US do paraguaio pelo preço de dez centavos a unidade, fazendo demorar e tomar mais café.

O povo codoense é uma gente brava e trabalhadora, é lá que os sírios e libaneses edificaram a mais pulsante história do grande Maranhão com trajetórias colossais de comercio das amêndoas de babaçu e algodão num resplendor, destacando-se as tradicionais famílias Salém, Duailibe e Nagib que formaram fronteiras no equilíbrio econômico do município perenizando numa equação a história deste município espiritual.

Àquele tempo, o extrativismo era a célula basilar da manutenção do progresso ao calor da visualização do labor humano perfazendo o mais centrifugo perfil da região com estruturas sócio-econômicas e mesmo geográficas favoráveis num dos mais remotos trabalho a extração. Por fim, é fácil relembrar que tal atividade jamais se consistiu em destruição ou até mesmo predatória ao longo dos anos, não se sabendo a que ponto a ambição e o egoísmo do homem se revestiu de princípios da desarticulação e não preservar da natureza, colhendo atualmente estes frutos.

Não podemos olvidar as localidades daquele município como conhecidas, “Terras de Preto” ou “Terras das Quilombadas”, as questões fundiárias que sempre marcaram o imperialismo abarrotado na sociedade dos excluídos na utilização da terra, tradições culturais, religiosas e costumeiras. Avante! As contradições e desafetos entre o homem branco e negro dominante na legalização de terras e apropriações sob o comando de coronéis e políticos. 

O desenvolvimento agrário e a cultura extrativista sempre se basearam nas terras que beijam as margens dos rios e riachos, além do coco babaçu como maior fonte de renda das famílias sem cultura e escravizadas ao suco das intenções de mercadores, comerciantes e jagunços nas regiões dos cocais. Não havendo na atualidade um procedimento ajustável de implantação com políticas públicas ou gestores na melhoria de vida da sofrida população negra.

Pode-se contar e há quem duvide, que exista mais oficinas de trabalho ao branco no Brasil do que a sensibilidade de se realizar em prol desta classe negra os incentivos da cultura e educação, assim como meios sustentáveis do homem negro e o seu tão sonhado pedaço de terra.

Um ponto crítico de mera articulação é o quantitativo voltado às questões fundiárias nas terras ocupadas pelos negros do Maranhão, em especial outras cidades... que não realizam invasões, porém suas terras seculares são atormentadas. Não se ver invasões de negros em busca de um pedaço de terra ou defesa do seu ambiente natural, é fácil se observar nos noticiários locais da luta incandescente de vários grupos organizados com preponderância em aquisições com fim puramente monetário, desafiando e expropriando o preto das terras rurais, onde desafiam a própria constituição rasgando cada capítulo numa mais aguçada novela agrária.

É muito difícil, ouvir-se falar que um grupo de negros tomou uma fazenda ou até mesmo fechou uma estrada sem destacar as articulações que apenas tentam modificar este quadro, muito raro são os movimentos que intentam mostrar ao Estado seus respectivos direitos e aquisições que vão se apagando na identidade física, seus valores e memórias afro-brasileiras. 

Um torrão como Mandacaru dos Pretos em Caxias, Bom Jesus dos Pretos em Lima Campos e Matões da Rita e quilombos espalhados tais como: Quilombos Santo Antonio dos Pretos, Mocorongo e Eira dos Coqueiros no municio de Codó, além do Quilombo Genipapo e Cipó dos Cambraias em Caxias, são palcos históricos sepultados nas dores daqueles povos sofridos e excluídos de todas as vantagens sociais.

O desenvolvimento industrial e comercial desponta atualmente em Codó com o grupo F.C. Oliveira no desate do empresário Chiquinho, exemplo de abrilhantada responsabilidade e consciência social, fazendo crescer as luzes do desenvolvimento e inclusão social.

Outra personalidade destacável em Codó, é o mestre Bita do Barão de Guaré que comanda um dos maiores festejos de ruas do Maranhão, tudo pára até o tempo fecha com as nuvens a cidade em homenagem aos Santos e Orixás da maior Tenda Espírita de Umbanda – Rainha Iemanjá. Fogos de artifícios fazem o encanto com enormes estrondos que não cessam, os numerosos turistas que fazem a semana de festa sacudindo o pequeno município, ensejam engrandecer o turismo.

Quem não conhece o mais famoso umbandista do Maranhão e do Brasil com atributos de fama internacional, o Mestre Bita do Barão, tudo é Codó, patriarca espiritual que fecha as ruas, becos e avenidas ao sotaque dos seus tambores que se ouve a longa distância, lampejando ao ar livre, multidões e admiradores, seguem os três carros de som em cores sortidas nas divisões de cada santo, tais como: orixás, ibegê, Ogum Militar, Oxossi e seus caboclos. Na verdade, a passeata na rua é tradicional com cinqüenta anos. Assim, vence a luta e as esperanças de um grande chefe naquela cidade promovendo a paz com uma festa dançante e do outro lado o festejo no terreiro do Bita.

Bita do Barão de Guaré, é o Pai-de-Santo respeitado até por quem não o conhece, fluente no meio social com autoridades, políticos, empresários, estudantes, pesquisadores, dirigentes, artistas e demais pessoas, não olvidando da presteza de assessoria mantida por sua filha Janaína. Assim é Codó, um raio com mais de cento e vinte mil pessoas abençoadas pela mãe Iemanjá.

É na zona ruralista que principiamos a narrar a história, pois não poderíamos deixar de contar nesta síntese a cultura, o seu povo e sua luta como guardiãs de esperanças duma gente, bem como na narrativa final um pouco de fábula. E foi naquele pequeno lugarejo Boca da Mata entre Codó e Timbiras onde reside o caboclo Pedro Bicudo, homem radicalizado há mais de trinta anos nas cercanias dos dois municípios, amasiado com Preta Matilde ou Nega, nascendo dois filhos mulatos, Joãozinho com quatro anos e Fábio com doze.

Era uma segunda-feira, oportunidade em que os lavradores, mercantis e operários se encontram no centro comercial de Codó que mantém uma das portas abertas ao grande comercio local. Instantes em que Pedro Bicudo alcança com a vista Mario Zanzão que dobrava a esquina da estação ferroviária, e grita.

- Mario Zanzão! Hei Zanzão! Sou eu, o Pedro Bicudo!

   Ouvindo o chamado, responde.

-Oi compadre!

-Há quanto tempo não lhe vejo?

-É mesmo rapaz! Tu também anda difícil, pois tô morando nas Caiçaras, lá pros lado de Coroatá. E você compadre?

-Eu... tô me arrumando na Boca da Mata. E você tá mexendo com quê?

-Ah! Compadre tô cortando madeira. Agora sou motoqueiro.

-Me conta Zanzão como tu entrou nessa.

-Você sabe que o dinheiro da Serra Pelada, eu comprei uma propriedade de mil hectares de terras, e lá estou explorando madeira para Teresina e Fortaleza. Só madeira de lei.

-É mesmo Zanzão?

-É compadre, tô ganhando muito dinheiro, já comprei até uma motocicleta.

-Me diga uma coisa. Como faço pra ser um motoqueiro, eu tenho duzentos hectares de terras virgens e já estou cansado de fazer roça.

-Muito simples compadre. Tu compra lá em Caxias um Motosserra 0.38, e negocia a lenha com as padarias, cerâmicas e industrias. E as toras de madeiras você vende para as serrarias e movelarias de ponta de rua.

-Como vou vender se eu não sei o preço?

-É fácil basta procurar por quanto eles estão pagando. Lá em Coroatá eles pagam por uma carrada de lenha de vinte metros cubado o valor de vinte reais. Saindo o valor do metro por sete reais, isto é: pegando no mato por conta deles o frete.

-Compadre! Eu vou ver se faço isso logo, pois a coisa lá em casa tá é preta. E vendendo madeira logo compro um caminhão. Me fale dessa estória de Ibama?

-Compadre os homens são quentes mais agente não pode esmorecer. Eu vendo a madeira e lenha no mato, nada tenho haver com frete ou apreensão de madeira com Ibama.

-Compadre! Fico preocupado com esse tal de Ibama.

-Que nada compadre! Os homens do Ibama procuram pelas empresas, são elas que tem dinheiro e não um caboclo do mato que nem sabe ler.

-Eu nunca entrei nessa.

-Olha compadre! Se eles meterem caneta nas empresas, o problema é deles e por lá resolvem.

-Então posso trabalhar despreocupado.

-Fique tranqüilo homem! Esse pessoal que mexem com madeira sabem o dia em que os fiscais estão fazendo blitz nas estradas e a grana rola solta.

-Não tem um mês que minha madeira foi apreendida em Fortaleza. O pessoal de lá querem é grana, eles disseram pro bacana que o negócio deles é grana, nada de apreender madeira.

-Sabe compadre Zanzão, tenho medo de ser preso, eu vejo falar na televisão que a polícia federal está prendendo essa gente.

-Que nada homem! Eu nunca fui preso e nunca vi ninguém preso, se prendem soltam na mesma hora. E se um dia eu pegar uma cadeia mesmo, aí eu vou contar tudo pro Juiz e promotor. Se eu ficar preso o pau vai rolar solto.

Partiu o amigo Pedro Bicudo com as esperanças derramadas nos olhos e desenvolver novas táticas de sobrevivência, abandonando os tratos de lavoura e extrativismo do coco babaçu. E no dia seguinte naquele povoado Boca da Mata, a noite já despontava com a claridade da lua refletindo entre as imensas árvores, o candeeiro no centro da casa de palha, o lavrador conversa com a esposa descrevendo a nova meta e aventura trabalhista. A celeridade dos dias são equações que redobram o amanhã, viajando para o município vizinho de Caxias, Pedro Bicudo compra um motosserra, chegando naquele interior, os vizinhos observam e comentam.

-Hei Pedro! Toma cuidado, o Ibama adora ouvir a música que toca neste motor.

Um rapaz que estuda na Uema, visitando os seus familiares argumenta com Pedro Bicudo.

-Só faltava essa, seu Pedro! Em vez de comprar bodes e gado, você compra é uma máquina pra fazer inferno. Você nem tá aí pro aquecimento global.

-Que aquecimento global Jorge? Quando o mundo aquecer, aqui ainda está gelado. Essa coisa é só na televisão.

-Seu Pedro! Cada um de nós tem que fazer a nossa parte, já pensou se todos fossem derrubar as madeiras existentes e centenárias? Como ficaria essa coisa.

-Deixa de conversa Jorge. Já me entendi vendo gente derrubando árvores e até hoje ninguém morreu ou foi preso. O pior é roubar e levar um par de chifres, isso é que é ruim

-Seu Pedro, pelo fato de você não ter formação, é uma parcela importante na conservação do meio ambiente em que vivemos.

-Ora Jorge! Onde está o meu trabalho. Se eu for me preocupar com o amanhã eu morro de fome. Agora mesmo lá na Fazenda dos Italianos derrubaram mais de cinco mil hectares de mata virgem. Me digas o que houve com eles?

- Não sei.

- Não houve nada. Mais de seis tratores de esteira com um correntão de aço limparam tudo, aí sim, que o os homens do governo deveriam se preocupar. Derrubaram tudo e atearam fogo pra nascer pasto pro gado e plantar soja.

-Seu Pedro! As coisas não são assim. O homem tem que semear a boa ventura por uma sobrevivência sem atacar o seu próprio sustento e o meio. É por isso que acontecem as coisas no mundo com tantas catástrofes e desequilíbrios. O senhor sabe quantos anos leva uma mata de faveira para se renovar após um corte. Mais de quarenta anos.

-Meu amigo, quando chegar nos quarenta anos não tô mais por aqui. Vá pra sua faculdade de merda. Aqui quem manda sou eu, vocês todos são meus agregados e nada podem fazer.

Outro interfere na conversa

-Que nada Raimundin pelo menos nós temos serviço todo dia. Eu recebendo o meu, dane-se o mundo. Cadê que pegam o Bin Ladem?

E assim, os comentários se espalhavam naquela pequena vila de vinte moradores com uma movimentação constante de caminhões entrando e saindo com toras e carradas de lenhas. No entanto, Pedro Bicudo já havia comprado mais de quatro motosserras no intuito caviloso de acrescentar montanhosos ganhos da noite para o dia, contando com mais de dez trabalhadores avulsos.

O desenvolvimento já apresentava uma outra qualidade de vida na Boca da Mata, a energia elétrica despontava através de um projeto rural com uma subestação abaixadora de área na faixa de servidão com largura de dez metros se estendia no meio do agreste cortando as estradas vicinais com o mato rente ao solo. Todas as noites era festa, até o Laurindo da Senhorinha já comercializa num bar improvisado de palha de babaçu, bebidas como cervejas, cachaças, vinhos e etc. além do Cabaré ParaísoTropical, com uma lâmpada de cor amarela indicava a sua existência do bordel.

Nos finais de semana, as noites se transformavam na modernidade que o lugarejo Boca da Mata nunca havia se embriagado, o dinheiro oriundo das vendas clandestinas superavam qualquer outra profissão qualificável. Era festa naquele barzinho que por trás lançavam vários quartos para manter ali relações sexuais com os motoristas, ajudantes de caminhões e outros clientes que procuravam um desses lugares abstrusos no meu do sertão.

A parcela contributiva de cada quarto não passava de dez reais por pernoite com a soma pequena de seis mulheres, pois, o dinheiro, os clientes, as bebidas, os cigarros e a prostituição estampavam nos canais de televisão que o povo da Boca da Mata pouco conhecia. As meninas de dez e quinze anos, reinavam com seus decotes apaixonantes e extravagantes num atrativo que parecia um paraíso. Não havia outra maneira de não aceitar a prática do sexo com mulheres de menor de idade na dominação masculina e submissão feminina que cultiva e assolam o nosso país até os dias atuais. A vida fácil, dinheiro rápido em poucos minutos escolhem a livre profissão marcante e desagradável que faz dinheiro sem caráter.

É uma hipocrisia social que se alastra até nos lugares menos desenvolvidos, vez que o homem sempre argüiu sob a acusação da mulher perdida que sustenta o comercio sexual, não sabendo o homem que a mulher de modo em geral é vítima e sendo tal como superada por vítima não faz a sua própria condenação considerada explorável, levando a mácula do pecado eterno, a mulher entre a sociedade, leis e crenças religiosas. São essas mulheres que se servem e se utilizam como uma pia em que se lavam as mãos e depois abandona. É daí que nasce a mãe solteira, sem moradias, trabalho, educação e sem assistências médicas que culpam sem formalidades o governo que tem que arcar com os prejuízos dos atos impensados de um povo que vive na promiscuidade das estradas da prostituição.

Assim, Pedro Bicudo e seus homens, passaram-se mais de oito meses de trabalho na caatinga, numa tarde de sol ardente, um automóvel pára em frente ao Bar e Cabaré Paraíso Tropical, e indagam à Senhorinha.

-Bom dia! Diga-me quem é proprietário desta localidade?

        A mocinha já mulher responde com um ar sensual.

-É o seu Pedro Bicudo! Não tá afim de tomar uma geladinha e curti o prazer do Paraíso Tropical.

-Não! Não! Sabe me dizer quem faz a venda de madeiras aqui na região?

-Moço! eu não sei lhe explicar, mas quem tira madeira é o Pedro Bicudo.

-Somos do Ibama e queremos falar com ele.

Um menino que tudo ouvia, sai em desfilada carreira ao corte de madeira no meio do agreste com a intenção de avisar aos lenheiros da presença dos fiscais do Ibama.

- Seu Pedro! Seu Pedro! Tem dois homens do Ibama procurando pelo senhor?

Instante em que Pedro Bicudo grita aos trabalhadores braçais.

-Seus meninos! Escondem os motores! O diabo do Ibama tá aí. Eita que desgraceira! Escondem-se que vou falar com eles.

Pedro assustado se dirige ao encontro dos fiscais.

-Pronto! Eu soube que vocês estão me procurando?

- Sim. Somos do Ibama, o senhor é o proprietário das terras?

-Sou eu mesmo.

O fiscal retira uma pasta e comenta.

-Tivemos conhecimento que você está explorando madeira nestas terras. Você pode me mostrar a autorização do Ibama?

-Que diabo de autorização é essa? Perguntou o lenheiro.

-A autorização é uma ordem expedida pelo Ibama concedendo-lhe o direito de explorar determinada área de floresta sob nossa supervisão.

-Olha! Eu não tenho essa tal autorização e nem sei o que é isso E quem fuxicou de mim.

-Seu Pedro preste atenção! Conforme mapa de rastreamento de satélite está propriedade vem sendo desmatada rapidamente sem autorização legal.

-Eu não sei disso não. O único desmate que faço é da minha roça do qual eu vivo com meus moradores.

O fiscal do Ibama abriu o mapeamento da área e mostrou ao lavrador. Momento em que afirma.

-Eu vou lhe autuar com um auto de infração, e lhe digo mais posso até solicitar em Codó a sua prisão em flagrante delito.

-Rapaz! Que é isso!Vamos conversar isso direito que não entendo. Vocês querem me prender. Eu não sou ladrão e nunca roubei. Qual é o seu nome?

-Carvalho. Sou chefe da inspeção do Pará ao Maranhão. E acho melhor agente conversar. Disse o fiscal ordenando ao outro que fosse vistoriar a área do desmatamento.

-Seu Carvalho quem deve conversar é o senhor primeiro.
-
Olha seu Bicudo, a minha obrigação é fiscalizar e autuar os fora da lei conforme legislação vigente, de acordo com o mapeamento sua multa ultrapassa a cinqüenta mil reais.

-Tá louco nhô. Onde é que vou pagar cinqüenta mil reais. Olha! Nem plantando maconha irrigada nas beira do Itapecuru eu ganho isso.

-É a lei e dela não posso me afastar. O senhor compreende?

-Não sei de nada. Eu não quero que o senhor faça isso comigo, sou um trabalhador que vive em sustentar a minha família.

-Lamentável! É sempre a mesma estória de quem desmata. E nada posso fazer. Tenho que lhe autuar. Você tem o prazo de trinta dias para pagar com redução de trinta por cento o valor. E se quiser, pode procurar um bom advogado pra lhe defender do Auto. E aí o que você me diz?

-Seu Carvalho! Eu não posso dizer nada, estou em suas mãos. O que o senhor pode fazer por mi? Indagou o lenheiro.

-Sabe de uma coisa! Eu não posso fazer nada. Meu trabalho é esse e pronto! Você é quem diz como quer que eu faça.

Retrucou Pedro Bicudo com um riso irônico.

-Quem sou eu pra lhe dizer alguma coisa. Sou apenas um trabalhador que nem sabe assinar o nome.

O fiscal receoso teme em falar em propina aguardando o lavrador fazer as oferendas, nas mesmas proporções em que Bicudo também aguarda. Nesse momento o outro fiscal chega informando as dimensões do desmatamento florestal.

-E aí meu peixe! Já colocou o camarão na caixa de isopor? Interrogou o fiscal Anderson.

-Ainda não. Este camarão da água doce é difícil de entrar na rede. É muito esperto!

-Tome as precauções! Pois senão irá ficar igual o caso de Altamira no Pará.

-Deixe comigo!

Desconfiado da conversa entre os fiscais, Pedro Bicudo indaga.

-Por favor! Não façam nada comigo. Vamos conversar primeiro.

-Então seu Bicudo converse, diga o que está sentindo e como quer que resolva o seu problema. Afinal quem está nesta bronca é você.

-Eu não sei falar quanto vocês querem pra rasgar esta multa.

- Não seja tolo seu Bicudo aqui não tem nenhum idiota. Fale?

-Ué! Isso é com vocês.

O fiscal Anderson interfere.

-Carvalho autua o homem e vamos embora. Já perdemos tempo demais. Não observa que o cara tá querendo comer batata doce.

Desesperado Pedro Bicudo fala ao fiscal Carvalho

- E quanto é esta brincadeira?

-Pra não lhe autuar, acertamos em seis mil reais. Concorda?

-Tá louco nhô. Adonde vou arrumar este dinheiro. Uma carrada de lenha é duzentos e cinqüenta reais, pago os ajudantes e o motoqueiro e fico com o resto da migalha de cento e dez reais.

-Veja só Anderson! O cara tá querendo dá uma de bacana. Se ele tira dez carradas ao dia, ele mata no pau um mil e cem reais. E somando ao mês, chega na cifra de trinta e três mil reais. E ainda diz que não tem dinheiro. Meu irmão, sou funcionário público federal, pra ganhar dois mil reais ao mês eu ralo muito. E agora você diz que não tem. Sabe de uma coisa, há dez meses passei por aqui e não havia desmate por aqui.

-Cinco mil é demais. Eu não tenho este dinheiro todo.

-E quanto você tem? Indagou Carvalho sorrindo.

-Eu só tenho três mil e quinhentos. Não dá pra parcelar em duas vezes? Se vocês quiserem vou pegar agora.

-Vai logo caipira pegar a grana., tem que ser grana viva Tá pensando que aqui é crediário? Disse irritado Carvalho com o auto de infração na mão.

Pedro Bicudo sai às pressas e logo entrega o dinheirama aos fiscais, inculcado, indaga.

-Chefe! Me diga uma coisa. Posso continuar o meu trabalho numa boa.

-Claro! E fique tranqüilo que vou declarar na inspeção que o desmate é uni familiar com destino de lavoura e pastagens.

O fiscal Anderson pergunta ao lavrador.

-Seu Pedro, estas terras estão no seu nome?

-É claro! Comprei e paguei no monte e ainda registrei em cartório no meu nome.

-Eu falo isso é pra lhe advertir que estas terras não devem ficar no seu nome, já que vai continuar a explorar a terra, eu acho melhor você transferir para um parente próximo.

Carvalho também argumenta

- Seu Pedro!Se aparecerem outros fiscais, eles vão muito lhe aporrinhar e terminam com o seu corte de madeira. Em primeiro lugar você não tem projeto aprovado, e nem área de manejo florestal, não tem guia de transporte florestal. Aí a coisa pega pra chuchu, é capaz de dá um chilique.

Assustado inquire Pedro Bicudo

-Como assim? As terras são minhas.

- E se você for multado em cinqüenta mil reais. Como é que fica a coisa? Você não terá condições de pagar a multa. É daí que vai nascer o processo no Ibama, se não tiver defesa ou um bom advogado, seu nome vai parar Dívida Ativa e lançado no Cadin.

Boquiaberto surpreende-se Pedro Bicudo.

-É mesmo?

-É sim. Aí o bicho pega! Depois de lançado no Cadin vai pra Justiça Federal, o oficial de Justiça penhora aa tua terra se não pagar, vai pro leilão e você fica no olho da rua. Se tu transferir para alguém as terras, o Oficial de Justiça não tem como penhorar porque a terra não está no teu nome, aí o processo é arquivo por não encontrar bens.

-Rapaz que maravilha! É uma boa idéia.

-É rapaz! Pra quem tu passar as terras pega uma procuração em causa própria e no dia que tu quiser reaver é só mudar pro teu nome.

-Muito bacana isso. E vou fazer amanhã mesmo. Assim ninguém me pega.

-Agora não fica enchendo a cara por aí e falando asneiras. Aí você fica complicado.

E dali os dois fiscais teriam saído ainda cedo da noite, às 20 horas, aproximadamente, após deliciar as verduras no Cabaré Paraíso Tropical. Em casa Pedro Bicudo conversa com a esposa.

-Nega! Vou parar por uns dias o corte de madeira. Perdi todo o meu dinheiro dando pra aqueles carniceiros. O cara é tão ladrão que me mostrou a chapada toda salpicada, dizendo que tirou as fotos de um tal satélite. Que nojo!

- Pedim, eu já te falei. Larga esse negócio de madeira homem. Essa desgraça só dá azar. Eu já estou cansada de te avisar, mas não adianta. Tu vive entojado com esse diabo de madeira. Olha! Ontem passou no jornal Nacional a polícia federal prendendo no matagal os lenheiros, caminhões e motores. Já pensou se eles passam por aqui.

-Nega! É o único negócio que dá dinheiro.

-Que nada Pedim! Em vez de ficar rico, tu fica é cheio de contas. Ontem, os meninos estavam querendo as diárias. Eu disse que tu não tinhas dinheiro, mas eles disseram que não estavam nem aí pro bagaço. Eu acho melhor tu resolver essa questão.

-Nega! Eu vou pagar todo mundo.

Dois meses se passaram, e Pedro Bicudo já guiava um caminhão de placa HPT 5679 de sua propriedade, conduzindo uma carga de madeira em direção à cidade de Coroatá. Após retornar à Boca da Mata no horário do almoço, conversa com a esposa os seus planos.

-Nega! Comprei mais sete motores serra. Agora vamos ganhar muito dinheiro de uma só vez, e assim podemos depois morar em Buriti Bravo.

-Será que é mesmo! Ave-Maria! Todos os dias eu torço pra você largar de mão essas atrapalhadas.

Disse a Preta Matilde satisfeita.

Era uma tarde de junho, a invernada já testemunhara a sua estação no agreste, Pedro Bicudo se encontrava no meio da mata de faveiras, observando um bom local para implantar um mega corte de lenha. Instantes em que fala sozinho.

- Que beleza! É neste local que vou ganhar dinheiro, vou derrubar tudo. Ó que faveira enorme parece que tem mais de cem anos, dá mais de sessenta metros cubados. Só neste local vou ganhar mais de dez mil reais.

Não demora, Pedro Bicudo ruma pra casa com o pensamento em traçar estratégias para a derruba das faveiras. Como se sabe a faveira possui um fruto de grande utilidade na medicina, é da faveira que é extraída a rutina, uma substância muitíssima utilizada na fabricação de medicamentos . É a rutina empregada nos compostos que fortalecem os vasos sangüíneos como também é aproveitada em grande escala no tratamento de varizes. Há estudos que já intensificaram a rutina na fabricação de complemento alimentar de idosos. A rutina extraída da faveira tem salvado muitas vidas, além de que 60% de todo o mercado mundial é abastecido pela rutina do cerrado nordestino.

É uma pena que toda as espécies de faveiras não são cultivadas, assim como a matéria-prima é não há nenhum ordenamento capaz de implantar a reprodução dessa espécie que se acha em extinção causado pelo homem, desconhecimento a priori seu conteúdo medicinal, servindo de fronteira para as ambições de venda de madeira.

No Maranhão, no período mais seco, alguns pecuaristas enfrentam tais dificuldades alimentando os bovinos com as favas da faveira-de-bolota, planta nativa com fontes de cálcio, fósforo e proteínas, além dos frutos, folhas, cascas, vagens e sementes. Meninos e meninas caem no matagal a procura da vagem que caem no chão, corre, antes que o gado se alimente delas, pois, o quilo de vagem custa aproximadamente uns seis centavos a vinte, oportunizando os fazendeiros alimentar o gado esquivando-se da ração industrializada, assim como pode matar a fome do gado com tucum, carnaúba e o coco babaçu ricos em nutrientes.

Se houvesse interesse governamental estribado na educação agrícola e ambiental, seria um dos modelos sustentáveis que garantiriam um futuro melhor nestas áreas empobrecidas do sertão. O que se ver no momento, é uma grande corrida econômica e agrícola desencadeada por compra e venda de terras ao preço de banana com acentuado desmatamento. Declinando o meio ambiente e fortalecendo mais ainda a porta do superaquecimento global no plantio de soja, mamona e girassol.

O próprio Governo Federal tem a ambiciosa intenção de abrir fronteiras agrícolas no cenário internacional com o Biodiesel, porém, esquece que empresários vão às pressas ao desmatamento do cerrado e agreste fazendo enormes áreas desérticas autorizadas pelo Ibama com um percentual minúsculo e desnaturado de área nativa, fortalecendo campanhas em todo o País da mais nova fórmula de gerar riquezas e divisas no pólo exportador de comodities, elevando ao máximo a balança comercial futurista. Sem se falar dos imigrantes com mega projetos e empreendimentos na área agrícola.

Dando continuidade, as árvores balançavam com suas flores vermelhas em forma de bolotas, outras com favas ou vagens, ouviam o lenheiro Pedro Bicudo asseverar a maior destruição das faveiras-de-bolota. Com a retirada do lavrador, uma faveira centenária comenta com a outra.

-O dia para mim é triste e muito sombrio!

-Verdade mãe faveira?

-Sim minha filha! O homem que estava sentado na minha sombra falava que vai nos destruir derrubando até em nosso sono.

Melancólica, a faveira nova diz.

-Mãe! Nunca pensei que o homem fosse tão nocivo. Ele destrói tudo, toca fogo até os passarinhos e animais vão embora.

O dia passa rápido, ao anoitecer a faveira-de-bolota derrama suas lágrimas em gotículas, pingando levemente na faveira nova, com as folhas fechadas sem defesas.

-Mãe faveira! Não chore! Já destes muitas sombras, alimentação aos homens, pássaros e animais. Não fique assim!

-Eu não durmo mais, é traiçoeira a mudança de nosso ambiente.

Insistia a pequena árvore nas lamentações da faveira adulta.

-Não chore! Se hoje existo dou graças a tua existência.

-Sim minha filha! Obrigado! Saiba que aqui não terá mais paz. Os pássaros não virão mais cantar e nem fazer seus ninhos nas minhas galhas. Tenho dó do ninho do bem-te-vi que se estende lá no alto.

-Verdade mãe!

-As formigas não subirão no meu caule e minhas folhas se perderão no tempo levadas pelas brisas. O homem esquece que muitos móveis em sua casa me pertencem. Já alimentei muito deles com minhas vagens e com os meus galhos secos já fizeram carvão.

-Mãe! Eu vou lhe defender, custe o que custar. Olha! Nem que seja preciso virar o sol em lua, eu vou permanecer acordada.

-Não faças isso! Você é nova. Talvez! Quiçá! Serás poupada por não render o teu tronco nada.

No outro dia bem cedo, os pássaros pulavam de uma galha para a outra, e a faveira nem sequer abria suas folhas, logo, o bem-te-vi exclamou.

-Dona faveira! O que há contigo que não abres tuas pequeníssimas folhas? Estou cantando nos teus galhos. Bem-te-vi, Bem-te-vi.

-Obrigado bem-te-vi! A dor é profunda no meu coração, pois hoje os homens da lenha cortarão os meus galhos e você meu bem-te-vi não terá um lugar para descanso.

-Não será assim a tua despedida faveira amiga. Não te preocupes que eu sei lutar. Você bem sabe que até gavião me respeita, inclusive, o urubu.

O sol estava despontando lentamente, uma abelha se aproxima da flor da faveira e argumenta com esta.

-Comadre faveira, a tua flor está salgada em vez de doce? O que está acontecendo contigo?

- Tu não sabes abelha! Aproveite! Amanhã não estarei mais aqui com minhas belas flores vermelhas para te oferecer, estarão todas no chão.

-Comadre faveira! Não fique triste! Eu e o vento já espalhamos noutras terras a tua boa semente, além da notícia do desmate. Preste atenção comadre! Já convoquei um enxame e vai ser uma chuva de meteoros sobre eles.

-Obrigada abelha! Mas, com os homens nada podes fazer.

-Não duvides comadre! Posso trazer um exército de abelhas só para te defender.

E assim partiu a única abelha em busca de ajuda, momento em que um boi com fome, se aproxima e começa a comer as favas que se arrastavam junto ao chão.

-Bom dia Faveira! Já andei por todo lado e só vejo devastação e fogo nas florestas. Aqui pelo menos encontrei como matar a minha fome.

-Obrigado boi! Desfrute as minhas últimas vagens. Daqui a pouco não mais estarei aqui. O meu largo caule estará completamente destroçado em minúsculos pedaços.

O boi assustado comenta.

-É lastimoso ouvir tudo isso. Pena que nada posso fazer. Eu também estou sendo perseguido pelo homem.

Sem demora, naquela localidade Boca da Mata no meio das faveiras, o vento não sobrava nas árvores, os pássaros não mais gorjeiam e tudo fica em pleno silencio. Seu Pedro Bicudo com mais de vinte trabalhadores chegam com as serras acionadas por motor.

-Vamos minha gente! Vamos derrubar esta grande faveira. Vai ser a queda mais linda do ano.

Disse Pedro Bicudo

-Seu Pedro! Eu nunca derrubei uma monstruosidade dessas.

Os trabalhadores faziam um círculo envolto da árvore e todos aspiravam um melhor ângulo na apreciação com gargalhadas e risos. O motor acionado com a serra no caule da faveira fazia uma barulheira infernal. Em salutar providência indispensável, as abelhas cumpriam sua promessa com uma grande quantidade de marimbondos-chapéu, marimbondos-tatu e marimbondos surrão se espalhavam em defesa da faveira, os homens gritavam e Pedro Bicudo ordenava atear fogo. Era uma verdadeira guerra das abelhas, marimbondos contra os lenheiros, vencendo os homens com chamas ardentes.

Sem demora, Pedro ordena a continuidade do serviço de corte enquanto a faveira lançava galhos secos sobre eles num verdadeiro ato de defesa pela mantença da vida. Insatisfeito e irritado, Pedro afirma.

- vou derrubar esta joça agora, doa a quem doer. E lá vai ela no chão feita uma dama.

A faveira centenária não resiste e tomba ao chão, um casal de bem-te-vis que estavam no ninho, voam enfurecidos, atacando Pedro Bicudo com vôos rasantes na defesa da faveira e o ninho, perfurando o olho direito do lavrador que cai em agonia. Socorrido pelos companheiros, levam urgentemente ao Estado do Piauí, perdendo assim a visão.

Pedro Bicudo agora é caolho, residindo na cidade de Codó, Estado do Maranhão, uns apelidam de Camões de Codó, outros, por sua vez de Zarolho do Bem-te-vi. Um certo dia conversando com o Camões de Codó,  na Praça Naby Salem, contou-me esta façanha, e me disse está arrependido por ter destruído as florestas, às vezes, chora como uma criança quando ouve alguém falar em corte de lenha, aconselhando sempre a plantar uma muda de faveira, pois esta livrou a sua vida de um enfarte.

Assim é a vida, não damos importância quando possuímos, e sim quando perdemos.


ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 15/09/2007
Reeditado em 04/10/2011
Código do texto: T653102
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