Ousadia Gatuna
Seis e vinte da manhã, para ser mais do que exato. Parece até entrada de serviço, para quem é trabalhador. Na verdade, para quem abre a empresa. E Rosa, uma das moradoras da casa assim o fez, como de costume. Ainda de baby doll, desceu as escadaria do segundo andar e pegou o cachorro para leva-lo a rua, afim de fazer as suas necessidades fisiológicas, feito isso. Em seguida o amarrou em frente à casa na cesta que guarda o lixo até o lixeiro passar e entrou trancando a porta. Seu pai, oitentão a abriu e saiu. Ficou olhando para o horizonte e com simpatia distribuía bons dias aos trabalhadores que pela frente da casa passavam.
Até que ouviu sua filha chamar para tomar um café simples. Ele voltou-se para dentro da casa indo até a cozinha, mas deixou o portão encostado.
Como iniciou-se, a abertura da empresa as seis e vinte pela patroa Rosa, o funcionário mais pontual chegou, mas sem ser visto, observou e entrou dirigindo-se ligeiramente ao segundo andar, sem qualquer latido do cachorro. Como diz o ditado popular, que a “ocasião faz o ladrão”, embora eu discorde, pois, quem tem princípios e bom caráter não usa dessas prerrogativas sorrateiras.
No entanto, em nossa ilustração, o larapio, ilustrado de trabalhador, pois quando são pegos dizer logo que o são, adentrou aos quartos, que ainda estavam se espreguiçando com o início daquela manhã. E foi em busca de algo para saciar o seu desejo ou a sua oportunidade inescrupulosa.
Embora tenha visto uma criança com sua tia de camisão dormindo juntos na cama e uma das moças da casa nua se passando óleo no corpo, intentou mesmo a sua necessidade e vicio, em afanar objetos e o primeiro que viu foi um celular carregando, do qual tomou posse e sinalizou a moça pra não gritar.
Em desespero, no primeiro impulso da moça foi gritar sem saber se era por identificar um estranho na sua casa furtando ou se pela vergonha de tê-la visto como veio ao mundo. Mas no tocante ela correu envolta numa toalha e teve coragem, junto com a sua irmão que acordara com os primeiros gritos, juntas pediram ajuda para o ladrão que já descia pelo muro da vizinha até a rua, mesmo se batendo, se arranhando e caindo num rumo ignorado, por medo dos transeuntes delatarem e também pela ação rápida.
Alguns vizinhos até correram, ou melhor na ignorância ou no afar de solidariedade, mesmo correndo risco de vida, pois não são preparados para isso, ainda bem e para o bem de todos, não o alcançaram.
Fato registrada na polícia, que como os outros seguem na carteira sem solução e a cada dia bandidos e cidadãos ficam frente a frente, seja de dia ou de noite, nas ruas, no trabalho ou o que é pior em nossa casa, asilo inviolável, diz a constituição e sem a presença do Estado, que além de nada fazer suga dos nossos olhos impostos e mais impostos, apenas para o bem de quem estar no poder.