A gênese

E eis que, nalgum ano de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelas mãos da parteira Tindole, nasceu na Fazenda Pilões u'a bela criança que veio para contrariar o mundo. Riu, em vez de chorar, para espanto das primas que já o vaticinavam um safado de marca maior. A sua mãe, ainda em estado de êxtase, pois o rebento lhe parecia um príncipe zárabe, soprou um desconjuro quando o menino, que mal abrira os olhos, perscrutava curioso o ambiente, detendo-se nos fartos seios de sua prima Carlinha, gritando em júbilo:

- Quero mamar! Quero mamar!

- É um príncipe - disse a sua mãe.

- É um tarado! - vaticinou a parteira Tindole que ainda lavava sua partes íntimas e sentiu uma pequena, mas significante ereção.

Seu pai largou a lida do campo, compareceu ao quarto, olhou o rebento e saiu contrariado e resmungando:

- Essaí vai dar trabalho! Essaí vai dar trabalho!

Meteu-se num copo de cachaça, acendeu um cigarro de palha, olhou para o horizonte e viu um lindo pôr de sol por detrás do Cruzeiro dos Montes. Então resmungou sublimado:

- Esse corno vai ser poeta!