Tatá na Jaguaribe 10
Duas horas da tarde liberaram a visita, período de meia hora, para que a família visse Sr. Benito fora do horário.
As quatro primas estavam no saguão, aguardando para serem autorizadas a entrarem.
Vovó Niquita, neste dia, diferente das outras idas para visitar o esposo, manteve-se silenciosa no trajeto. As netas, não eram para menos.
O espaço do tratamento era de uso exclusivo para pacientes cardiopatas, funcionava no segundo andar.
Medicina de ponta, aparelhos avançados, equipe preparada para assistir doentes que necessitavam de tratamento intensivo.
Apercebia, desde o atendimento dos funcionários, até os aparelhos e a tecnologia investidos no atendimento, que o poder público não havia economizado nos gastos para tanto. Trabalho de primeiro mundo a bem da Saúde Pública.
Em meio a tanta usurpação do patrimônio público pela corrupção de toda sorte. Testemunhando a fé pública na República ser levada ao empoeiramento, ali revelada a manifestação da administração pública a bem do povo. Era como enxergar um oásis no deserto, reacender da esperança no ser humano, enquanto ser social, ético e fraterno.
Na sala de espera, as netas e a avó, aguardavam para a entrada. Somente dois visitantes eram autorizados entrar. Protocolo do local.
Diante do quadro delicado do Sr. Benito, a família foi liberada para a entrada no centro intensivista no mesmo horário, que nas alturas dos acontecimentos, continuava no estado de diminuição da consciência.
Antes, a psicóloga aproximou do grupo, narrando, com semblante compassivo, o quadro atualizado do avô, pedindo calma.
Caminharam corredor adentro, em passos apressados, e Tatá, rodando as rodas da cadeia, adiantava sua estada com o avô pela mente, irradiando fé, positividade.
Chegando no box onde o avô estava, a vista não foi das melhores, dormia em posição quase sentada, estava com expressão cansada, com um acesso no pescoço, onde realizavam a hemodiálise.
Foi instantâneo, vovó Niquita disse:
__Benito! Benito, meu esposo!
E as netas, como num coral melancólico e sofrido, reagiram em conjunto:
___Vovô!! Vovô!!!
Instantaneamente, como num passe de mágica, vovô, em meio à secreção dos olhos que haviam ressecado, acordou.
A visão dele foi clareada, e a expressão do seu rosto estampou um sorriso choroso , estavam todas as netas em volta do leito. As lágrimas desceram, dele e as das demais.
O ambiente foi tomado do emocional do grupo familiar que tinha um histórico afetivo com laços profundos, aqueles que foram adquiridos nos sóis da vida, fizeram amarras que somente os dias, sofrimentos,realizações e o amor, podiam construir.
O espaço do leito passou ser dominado por um estado sublime. Silêncio não era a palavra, lamento amoroso partilhado. Como se as escadas do céu tivessem sido estendidas, para que anjos fizessem a tomada dos seus postos, cedendo amparo espiritual a família, para o ato devocional, a prece que se realizaria no momento.
Meio acordado, meio dormindo, Sr. Benito consentiu com o grupo para que realizassem uma oração. Uma das netas fecha a cortininha defronte ao leito, permitindo a privacidade do ato.
Bibi, convida o avô para fazer a abertura para a prece. Na solenidade de sempre, sua voz, inconfundível, dá o início com as palavras que deliberou todas se ajoelharem, e Tatá, fechar seus olhos.
Naqueles instantes, o grupo foi para a não localidade falar com Deus, aquele que subsume o estar diante do Divino sem as alças do espaço-tempo.
Vovô glorificava, dizia: “Glória a Deus”! “Glória a Deus!”. E as netas com a avó, mais felizes ainda por ver o avô de volta, acordado novamente, e ainda, glorificando a Deus.
No período que estavam em preces, o avô acordava, elevava algumas palavras de clamor a Deus, voltava para a sonolência, depois, acordava novamente.
E foi assim por alguns minutos. Cantaram hinos sacros. Encerrou o avô a oração.
As netas e a avó, sentiram que o Sr.Benito não estava como o encontraram. A enfermeira aproximou e disse que o horário de visita havia terminado.
Saíram do local com vovô desperto, dizendo uma a uma que as amava.