Carimbó do Norte
Naquele dia dona Maria saiu de casa cedo para deixar o seu filho na Beijamim Constant e seguia a pé, pela praça Waldemar Henrique até o ver o peso para comprar uns Taumatás, camarões, uns caranguejos, tucupi, jambú, maniva e umas frutas.Sem esquecer de passar na banca da dona Flora para comprar uns cheiros do Pará, visto que estava há duas semanas do círio de Nazaré e certamente muita gente viria muitos parentes de Abaeté e de Ponta de Pedras, para a sua casa.
Fazendo as contas na cabeça de quanto gastará subiu no ônibus e seguia pensativa a janela, quando subiu também um rapaz, que começou a dizer:
- Bom dia a todos.Desculpem se estou tirando o tempo de vocês.Mas eu sou ex-usuário de drogas e estou aqui pedindo ajuda de vocês para manter a nossa Instituição. E assim contextualizou a sua história de vida e ofereceu um adesivo autocolante em troca de dez centavos, ou qualquer outro valor. Algumas pessoas se sensibilizaram e ofertaram alguns centavos e até mesmo dois reais.
Não demorou muito, quando o rapaz ia descendo subiu um outro vendendo picolé, que desceu a duas paradas.
Na parada seguinte subiu uma moça com bombons. Contextualizava a sua história de vida e com isso ganhou uns trocados.
Quando dona Maria prestou a atenção, subiu um outro rapaz se dizendo ex-viciado, falando de sua história de vida e da intenção de ajudar a Instituição no qual trabalhava.
Mais três paradas, subiu um garoto vendendo chocolate.Enquanto o ônibus parava no semáforo, uns jovens ofereciam sucos, jornais, bebidas e água.Era na verdade, um pandemônio de pessoas; cada um querendo gritar mais que o outro para ser atendido.
Dona Maria já nem sabia se dava algum trocado,pois de parada em parada era uma história.
De súbito refletindo, pensou em si e viu que tinha a suas necessidades, que como lavadeira, passadeira trabalhava de sol a sol e que trocados de graça nunca recebeu. Assim no canto, ela se culpou por cada história, mas também ajuizou, com seus valores, que cada um podeira buscar o que fazer. E nessa reflexão viu também, que o quanto os governos são miseráveis, que só pensam em si, mas que o povo permite a situação, por renegar a sua participação.
Ao desce da condução, olhou ao redor e começou a ver, que as calçadas são mal feitas, que as ruas não possuem iluminação e que o transporte é sujo e sem ar condicionado, com poltronas velha e sujas e que qualquer um entra e sai quase obrigando as pessoas a comprar e a ouvir a sua história decadente ou vivente, com se quem estivesse alí fosse o tempo todo culpado.
Chegando em casa percebeu, que o norte, a cada dia se parece com o sul, todo o tempo abandonado e esse é o recado, daquela viúva, guerreira, que agora assentada na cozinha, começava a cuidar do caranguejo e de preparar o peixe com jambu e tucupi.Deixando já no fundo quintal uma panela sobre a lenha com a maniva a cozinhar a duas semanas do círio de Nazaré.