O Devoto e o Profano

Capítulo 3 - Final


Algum tempo se passou e já era tarde da noite naquele dia, a escuridão tomava conta da igreja. Não havia mais ninguém ali, exceto padre Teodoro, Tobias, João e Pedro juntos na mesa do altar tomando vinho.

- Eu não posso conceber tudo isso – Diz o padre desconsolado.

- Eu muito menos – Diz João magoado.

- É melhor aproveitarmos. Essa talvez seja nossa última noite do vinho, tudo graças a este senhor – e o padre vira-se para Pedro.

- Ora homens, deixem disso – Responde Pedro calmamente – Pelo menos no fim acabou tudo bem.

- Bem pra quem? – Questiona João – Só se for pra você! Minha amada deve estar agora nos braços daquele doutorzinho.

- E minha igreja? – Relembra o padre – Isso aqui se tornará um deserto agora e meu dízimo já era.

- Ora homens, se recomponham! – Pedro diz – O sinhô, seu João, sempre soube que Maria não o amava e estava disposto a casar-se com ela, mesmo sabendo de sua infelicidade. Pelo menos a moça está feliz agora. E quanto ao sinhô, seu padre, muito bem feito! O sinhô é um egoísta! Nunca se preocupô com nossa igreja, só quer sabe de vinho e agora está recebendo seu castigo!

- O senhor diz isso, mas continua bebendo do vinho – Ressalta o padre encarando Pedro com o olhar.

- Ora, bobo que eu nu sô – Responde Pedro.

E todos se calam por um instante e suspiram.

- É. Não há mais nada a fazer – o padre quebra o silêncio derrotado – Nós todos já estamos condenados ao inferno.

- Se é que isso existe – Acrescenta João.

- Ora! Se não há céu nem inferno, pra onde, diabos, nós vamos depois dessa vida? – Argumenta o padre.

- Não vamos a lugar nenhum, ora! Tudo começa e termina aqui – Explica Pedro.

- Ora, mas que besteira! É claro que vamos para algum lugar! – Insiste o padre – As escrituras não mentem! O senhor, seu Pedro, é que está perdido!

- Pois é o senhor que está! – Retruca Pedro – Está perdendo seu tempo se dedicando a essas coisas!

- Ora homens, será que vocês não veem? – E Tobias silencia a todos falando pela primeira vez naquele dia – De um jeito ou de outro, nossa vida não deixa de ser o espetáculo que ela é! – E os homens sorriem – Nós tamos vivos, homens! Nós tamos vivos!

E todos brindam suas taças em harmonia.

 
FIM.
Leandro Abreu
Enviado por Leandro Abreu em 04/12/2018
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