Tatá na Jaguaribe 7
Era a segunda neta, seu pai , segundo filho dos quatro do Sr. Benito. Cada tio tinha uma filha, sendo Anunciata, filha do mais velho. Morava Bibi na cidade circunvizinha, filha do terceiro, e Andreata do quarto filho, que morava no litoral .
As primas chegariam mais tarde no Hospital para fazerem o rodízio, dar companhia ao avô. Eram moças formadas, moravam duas na cidade de Tatá, Anunciata e Andreata. Os pais, ainda não tinham comparecido porque moravam distantes.
Naquela manhã ganhou carona de Nina, amiga antiga, mulher espirituosa, preparada para sempre ceder tempo e o carro, para levar Tatá onde fosse preciso numa eventualidade. Deixaria Tatá na portaria do Hospital.
Naquele sábado de primavera, as ruas estavam floridas mais que de costume, o reluzir e a fertilidade que estampavam das gramas, das folhagens, das plantas, o brilho do sol, a fartura da água no córrego, na avenida principal, a festa dos passarinhos na árvores, denunciavam que as chuvas da temporada vieram em abundância. Não se via, depois de muitos anos , noticiário de seca na tv. A terra estava encharcada, sobrando umidade, sem desprezar o mormaço, típico da estação. Calor com fartura.
Apeou do carro da amiga com a ajuda dela, disse que a administração da portaria havia autorizado que fosse conduzida pelo funcionário do horário até o elevador, que dava acesso ao andar que o avô estava acomodado. Nina despediu de Tatá, e partiu.
Olhou a esquerda, viu o segurança sentado, o mesmo do dia anterior, fez sinal para que fosse ao encontro dela, na certeza de que a assistência na locomoção estava resolvida. O funcionário foi se aproximando, Tatá disse a ele boa tarde, pediu que a auxiliasse no trajeto até o setor de crachás. O moço na reserva, decididamente disse:
__Minha senhora, te disse que não posso lhe ajudar!
__Tatá sacudiu a cabeça, olhou para os lados para ver se podia pedir ajuda para algum funcionário que estivesse passando. E estava. Era o senhor Fidalgo, encarregado da portaria do período.
Aproximou, Tatá contou o ocorrido, de que o funcionário não queria auxiliá-la até ao guichê.
Fidalgo pediu desculpa, disse que era um mal entendido, que ela tinha autorização para ser auxiliada no percurso até o guichê, e ao elevador, foi decisão passada pela Diretoria da portaria no dia anterior.
O segurança não disse mais uma palavra, sai empurrando a cadeira de rodas, levando-a até ao guichê.
Aproximando do local, o outro funcionário, responsável pela organização da fila para retirada dos crachás, pede a uma das pessoas presentes para que pegasse da mão de Tatá o documento de identificação e entregasse ao atendente, que estava no interior do guichê, para fazer o cadastro e a retirada do crachá.
Pensou Tatá: Quanta ignorância! Sou gente! Posso apresentar por mim mesma a documentação, conversar com o funcionário!
Passou rodar vagarosamente com as mãos as rodas da cadeira, foram instantes de um constrangimento sem nome, vivido somente dela para ela mesma, minutos que exigiu aflorar a dignidade todinha para fora, que pediu um posicionar no improviso do momento.
__ Não moço! Não darei meus documentos a ninguém! Posso entregar ao funcionário.
Passou em frente do funcionário, e ficou de frente ao guichê(detalhe), em frente a uma parede de mais de metro. Acima, era o vidro que dava acesso a comunicação com o funcionário. Tatá levantou as mãos e disse um “oi”, para ver se o atendente a visse embaixo na cadeira.
Depois de alguns instantes, o funcionário levanta a cabeça, olha através do vidro para baixo e vê Tatá. Levanta da cadeira onde estava e sai do lugar para pegar do lado de fora do guichê, o documento de Tatá.
Depois do crachá entregue, o segurança conduz Tatá até ao elevador.Em silêncio.