PARÔNIMO

Naquela sexta feira, o gabinete do Deputado Paulo estava um entre e sai que ninguém se entendia. Até que ele receberá uma ligação de sua casa, para que não esquecesse os temperos da maniçoba, visto que no domingo era dia do círio. O natal paraense como é conhecido, é uma festividade religiosa, que mistura, além das tradições católicas, fé e uma gastronomia peculiar, com sabores diversos.

Não obstante a essas tradições, é costumes parentes e amigos visitarem-se, uns aos outros. E foi assim, sob efeito desse clima que Edmilson se preocupou em ir à casa de Paulo seu conterrâneo de Augusto Correa, com a finalidade de junto ao amigo cortejarem o evento.

O deputado que era amigo pessoal do Edmilson, ex governador, já estava em casa com a família, quando foi anunciado a sua esposa pelo interfone do prédio onde morava:

- Senhora, temos aqui na portaria o senhor Edmilson, que veio visitar o deputado, posso manda-lo subir?

Como toda a mulher na cozinha em tempo festivo, fica perdida, com dona Olga, que não poderia ser diferente. Então sob a agonia do preparo da comida para o dia do círio, bem como as preocupações em ajudar na organização do círio fluvial. Ela com toda a educação, não pensou duas vezes e falou:

- Mande-o subir logo. Porque o deteram. Edmilson tem carta branca na casa do deputado, que absurdo. E desligando foi logo dizendo a todos:

- Meu Deus deputado, o Edmilson está subindo.

Disse o deputado:

- O que foi mulher. Parece que viu a mula sem cabeça.

- Pior; concluiu aquela senhora, que não sabia se cantava ou assoviava.

E continuou:

- O Edmilson esta subindo as escadas.

E o deputado todo nervoso de um pulo gritou para alguns assessores e seguranças que os acompanhavam:

- Vamos rapazes, arrumem a mesa. Ajudem a mulher enquanto eu vou tomar banho e vestir uma roupa digna. Sicrano vá comprar o melhor vinho, Beltrano vá procurar camarão, da melhor qualidade e me traga também um bom uísque. E você vá comprar muitas frutas, só as melhores.

Enquanto todos desciam e se preocupavam em fazer o melhor, as empregadas arrumava o apartamento e dona Olga virava “bicho”, mandando fazer várias coisas ao mesmo tempo. Pelo elevador chegar bem devagar o Edmilson.

Depois de alguns passos a mais, já no corredor do apartamento, que era por andar. Chegou aquele rapaz franzino, humilde e de pele negra e apertou a campainha.

Enquanto os assessores corriam de um lado para o outro andar abaixo e o deputado e sua esposa posavam na sala de estar para receber o tal do Edmilson. A campainha, enfim, tocou.

Laura a assessora correu e foi atender. Quando ela abriu a porta e olhou aquele rapaz todo maltrapilho perguntou:

- Quem é você? Pois esperava o ex- prefeito. E ele prontamente respondeu:

- Eu sou o Preto.

- Preto? Replicou ela.

E quando ia dar continuidade às indagações. O deputado esticou o pescoço disse meio que sem jeito:

- Meu pai, do céu, Preto. O que fazes aqui?... Entra rápido rapaz, pois o Edmilson está chegando.

E o tal preto, com aquela cara amuada perguntou:

- Que Edmilson o senhor tá esperando?

- O ex-prefeito ora. E com a cara sem vergonha preto respondeu:

- Deputado, desculpe, eu sou o Edmilson.

- Você. Não me diga que...

-Isso mesmo deputado era eu quem estava lá em baixo.

Com a cara de tacho, deputado e a sua esposa ligaram para os assessores e pediram que voltassem, pois fora alarme falso.