Dona Helena
Estava sentada na velha cadeira de balanço com seu metal descascado e almofada de cobertura vinílica já um tanto afinada pelo uso constante. Embalava-se ao som do rangido do metal que mais parecia um lamento pelas perdas da sua vitalidade e da grande beleza, que um dia ousou exibir nos recantos daquela casa.
Dona Helena era tão linda...
Era menino soltando pipa na rua e a via sempre na janela da frente, ou cuidando do jardim. Às vezes eu parava defronte o portão e arranjava uma desculpa qualquer só para conversar com a professora que me dava as aulas do primário. Perguntava por Crioulo, um cão sem raça que depois de anos vivendo ali, morreu atropelado por um caminhão. Ela sorria, chamava o cachorro que vinha serelepe me ver. Perguntava-me sorrindo pela família e também pela lição e eu ia feliz para casa, me sentindo importante por ser vizinho da professora mais bonita da cidade.
Agora eu passo na mesma rua em que me criei e a vejo ali, solitária, um tanto ausente por causa da doença que adquiriu. Sinto a mesma vontade de acariciar-lhes os cabelos, beijar-lhe a fronte. Queria papear sobre os tempos do magistério, tomar um chá com biscoitos naquela varanda. Talvez alegrasse um pouco o coração da velha senhora, que um dia foi o motivo dos meus mais doces sonhos pueris.
Mais tarde, ao retornar da lida onde complemento minha aposentadoria, comprarei-lhe umas rosas e pedirei permissão à sua filha para um dedo de prosa com a minha antiga professorinha.
Cláudia Machado
Nota: Foto meramente ilustrativa. Disponível na web.
Estava sentada na velha cadeira de balanço com seu metal descascado e almofada de cobertura vinílica já um tanto afinada pelo uso constante. Embalava-se ao som do rangido do metal que mais parecia um lamento pelas perdas da sua vitalidade e da grande beleza, que um dia ousou exibir nos recantos daquela casa.
Dona Helena era tão linda...
Era menino soltando pipa na rua e a via sempre na janela da frente, ou cuidando do jardim. Às vezes eu parava defronte o portão e arranjava uma desculpa qualquer só para conversar com a professora que me dava as aulas do primário. Perguntava por Crioulo, um cão sem raça que depois de anos vivendo ali, morreu atropelado por um caminhão. Ela sorria, chamava o cachorro que vinha serelepe me ver. Perguntava-me sorrindo pela família e também pela lição e eu ia feliz para casa, me sentindo importante por ser vizinho da professora mais bonita da cidade.
Agora eu passo na mesma rua em que me criei e a vejo ali, solitária, um tanto ausente por causa da doença que adquiriu. Sinto a mesma vontade de acariciar-lhes os cabelos, beijar-lhe a fronte. Queria papear sobre os tempos do magistério, tomar um chá com biscoitos naquela varanda. Talvez alegrasse um pouco o coração da velha senhora, que um dia foi o motivo dos meus mais doces sonhos pueris.
Mais tarde, ao retornar da lida onde complemento minha aposentadoria, comprarei-lhe umas rosas e pedirei permissão à sua filha para um dedo de prosa com a minha antiga professorinha.
Cláudia Machado
Nota: Foto meramente ilustrativa. Disponível na web.