Tatá na Jaguaribe 6
Aquele arzinho da manhã. Quando abre a porta de correr da sala, a brisa traz Deus junto. Arborizou a vontade dela naquela sexta feira, dispôs elevar suas preces pela melhora de seu avô, numa condição desapegada de interesse pessoal de que ficasse para ela. Tudo que almejava, era que ele tivesse um bucadinho daquela intimidade com a divindade, a separatividade não existia mais dentro Tatá.
Ao final dos dias as cordas do seu coração terminavam desafinadas, com tanto engolido, raivas, chateações de todo canto, dissabores que não estava fora de estar submetida, o envolvimento até ao osso com as questões da vida levava Tatá do samba à dança fúnebre dentro.
Esvaia tudo no sono. Nas manhãs, ao acordar, era presenteada com as cordas do coração afinadas por Deus. Uhm!! Que querer gostoso! Um bem querer deliberado, amor à vida que vinha no arzinho que entrava pela porta da sala.
Respirou! No terrerinho que tem defronte a sala, vestiu a roupa dada por Deus, agasalhou sua alma na repaginação oferecida pelo vento leve do iniciar do dia. Praticou a entrega à vida pela respiração direcionada para dentro e fora, sentiu o ar entrar pelos pulmões, e por todo o corpo, até mesmo para os pés de pouco uso. Agradeceu. Resolveu voltar para sala e pegar no celular.
O modismos das sugestões dos físicos quânticos, que comprovaram por experimentos que as preces fazem milagres, veio confirmar o costume da família de Tatá. Nas horas difíceis, apelar para as orações, que passavam serem realizadas com mais frequência no dia. Sempre acreditou na fé, no amor fraterno, na alquimia do pensamento devocional.
Vovô Benito era muito querido, como profissional, ofício de Oleiro, e representante religioso. De mamando a caducando, era querido, tinha poder atrativo para a amizade, sua fala tinha sal e pimenta, às vezes, até exagerava no tempero. Mas como titias falavam, tinha sido passado na casca do alho pela Bisa Joaquina.
Tatá passou telefonar para parentes, amigos, conhecidos, para que elevassem as preces em favor do Avô. E confiou.
Não há intimidade maior que estar como gazela em ato devocional diante do Insondável em oração. A ligação que se estabelece é separada do espaço e do tempo de quem ora. A fala com Deus.
Fica estabelecido um elo não local de afinidade, a aventura de lidar com o desconhecido dentro e fora é vivenciada. Nada substitui a experiência, relação íntima e entrega maior que esta não existia para Tatá, se sentia aceita, acolhida, bastava fechar os olhos e realizar a conexão com Deus.
Esta prática e integração com Deus veio sendo aumentada na intimidade com os anos, principalmente depois da doença que levou Tatá se ver limitada na movimentação do corpo. Deus, numa experiência sem conceito e forma, se apresentou para se fazer re-conhecido, brotou dentro de si um amor incondicional Nele, e na vida, que desistiu de resistir no sentimento sublime, se entregou a este ser Máximo em realização primeira. Considera-se uma extensão dele.
Não há profundidade e altura sem lugar mais sagrada e espetacular que esta, realizar a entrega dos pedidos a uma entidade sem rosto, mas que sabe que existe, que está ouvindo, escutando e sentindo o que o suplicante pede, e ainda, acreditar que será atendido, e Ele fará o que for melhor, mesmo que não seja o mesmo que nós pedimos.
Depois que o médico cardiologista descreveu, narrando que estavam impedidos de realizar a cirurgia no coração do Sr. Benito, pela gravidade da doença, no coração e rins, o avô estava entregue nas mãos Divinas.
Tatá recebia telefonemas e recados o dia todo, de que seu avô estava sendo apresentado nas orações. Amigos de várias religiões, parentes que demonstravam solidariedade e fé, esperançavam melhoras para Sr. Benito.