Tatá na Jaguaribe 5
A falha maior não é encontrada ao olho nu, este que revela mais uma de muitos cadeirantes excluídos do fato social. Tatá em situações que tinha por direito ser incluída na feitura da própria vida em sociedade, aquelas ações que lhe garantiria o mínimo de dignidade.
Não bastando a limitação para fisicamente exercer muitas atividades, que antes realizava em comum com seus irmãos de caminhada, no corpo perfeito.
O defeito maior está nos rasgos do tecido social, revelando ignorâncias, vez outra, preconceitos velados. Torna ré confessa, a consciência coletiva doente, esta que vive na essência, a fonte geradora e mantenedora do viver no possível, que nutre e mantém toda injustiça social. Em destaque esta que Tatá se submete nos dias.
Se tudo é mente, a cabeça das pessoas que fazem a sociedade acontecer, na sua grande maioria, está encurtada para o fazer inclusivo. Seja o dono da loja, do açougue, da propriedade particular com destino de uso público, ou órgão da administração do patrimônio público, instituições de saúde, esportiva ou religiosa.
A Lei existe, perfeita, pronta para ser executada. A acessibilidade é garantida em todos os níveis e camadas da hierarquia de leis no pais, sejam as constitucionais, ordinárias, estaduais e municipais, até mesmo atos de atribuição do Ministério Público dos Estados da Federação, em destaque, cartilhas e atos deliberativos que orientam e regulam ações facilitadoras para inclusão dos vários tipos de deficiências, sejam motoras, psiquiátricas, neurológicas e afins. Tem um acervo de embasamentos legais e deliberativos, que dispõem dar vida aos pedidos, judicial e administrativo, para curar as feridas sociais e individuais.
Mas na epiderme, nota-se a sociedade doente, humanos que padecem da consciência inclusiva toda penetrante, esta que revelaria a sociedade futura que almejamos no hoje, mais fraterna, menos injusta e desigual. Humanos que se despertassem num novo modelo de si mesmos, mais compassivos, tolerantes, maduros no realizar ético, aptos para se fazerem em felicidade, se colocando no lugar do outro em direitos e deveres. Autores e artistas que fossem capazes de criarem um ambiente moral igualitário, portadores de valores fincados no melhor, exercendo o ser bom e justo, numa verdadeira confraternização de almas.
Acreditar que Deus é o bem, é amor, é sentir-se inadequado neste mundo, que cada vez mais preza o ter, o ser num corpo perfeito, esteticamente falando.
O olhar daquele que vive no contexto não inclusivo, é incapaz de sentir o outro na sua diferença. O dar lucro e obter lucro neste mundo onde o dinheiro é o imperador da vida, torna o resto como detalhe.
Equipara-se à capacidade reduzida de algumas mentes, de não ter na vida uma visão ampla de si e do outro, capaz de incluir todos num mundo menos seletivo, competitivo, fragmentado. Esta consciência que isola a individualidade, levando o Todo, a Unicidade, esta realidade primeira que vive dentro de cada um, e de cada átomo que existe, a um modelo absurdo de perfeição daquilo que é certo, justo, belo e bom.
Além da cadeirante na cadeira, vez ou outra, bate e volta para o limbo dos excluídos, pela sociedade imatura para viver a consciência inclusiva, o surdo mudo, os deficientes físicos e mentais, doentes psiquiátricos, nanismo, deficiência múltipla e os de toda sorte de anomalias, dependentes de muletas, próteses de membros amputados, etc.
Sem contar as vítimas do famoso bullying, do preconceito e da discriminaçao de raça, etnias ou cor, e classe social, e por aí vai... , numa prova incontestável da doença social instaurada, contaminando nossas crianças e jovens, que poderiam fazer um futuro melhor a partir da sociedade da qual obtém cultura.
O Elefante branco que trouxe a tona todo arruinamento social, a vida real que foi escancarada a Tatá desde quando portou a doença que a limitou fisicamente, levou-a estar diariamente exposta a refletir sobre a situação, e retirar conclusões significativas, para não tornar o problema, uma arma contra si mesma.
Tatá não pode se esquecer, jamais! que tem a responsabilidade de ser feliz, assim como qualquer ser humano, belo, feio, negro, branco, doente ou saudável, e não ficar na situação de vítima social, apesar das limitações.
Se manter integra interiormente, digna de si para si, e ainda aceitando o mundo como ele é, procurando ser, sobretudo catalizadora do amor divino, apesar da lutar diária, buscar a superação dos desafios que a vida impôs a ela, amar a vida, amar o ser humano, e Deus acima de Tudo, insistir na busca de instantes de felicidades, de não decair da esperança de um amanhã melhor para a geração que se forma.
Tatá se tornou futurista, vive expectativas de mudanças no mundo. De uma nova realidade menos complicada, acredita e aspira que o novo trará a derrubada dos muros que mantém o preconceito e a discriminação em alta, que se mantém em funcionamento, apesar das lutas e conquistas nos séculos, trazidas pelas guerras, mortes, e muito sangue derramado.
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Levantou no outro dia, renovada de alma, era a prova do que necessitava para seguir, amostra que sempre tirou todas as manhãs, aquela sensação de ter Deus dentro, um bastar indizível de acolhida e confirmação, de que está de passagem nesta vida, numa viagem de ida, consentida pela Fonte Suprema. Que ao final, dará tudo certo.