Tatá na Jaguaribe 4

Ficaram até Vovô Benito terminar de jantar, a funcionária do refeitório tinha passado com o carrinho e as bandejas identificadas, anunciando no corredor que a jantar havia chegado.

O funcionalismo, o profissionalismo e a eficiência a bem da saúde, e do paciente. O Hospital tinha esta marca. Os interesses e as atividade, sempre claros, tudo desdobrava para o bem estar e tratamento do paciente.

Vovô estava sendo bem tratado, enfermeiros, equipe médica, da cozinha ao quarto, o humanismo irradiado dos funcionários deixou as primas descansadas para irem embora.

Tatá chegou em casa com os pés inchados e doendo. A força, um pouco mais reduzida que no dia anterior, exaustão como esta foi sentida em dias que fugia à rotina, causada pelo excesso do esforço físico.

Os braços estavam mais pesados. As pernas, para o levantar e ir para a cadeira de banho no banheiro, era como andar em areia movediça, a rampinha na sala que adaptou para subir com a cadeira, deu o que fazer para subir.

Tatá foi até a cozinha, pegou um copo para beber água, sentiu as mãos um pouco enfraquecidas, o peso era maior dele, e o levantar das mãos também.

Naquela noite, depois de chegar do Hospital, toda ação demandava esforço e atenção redobrados para o que ia realizar, seja ir com o andador até o banheiro, pegar no sabonete para se lavar, ou sair para a troca de roupa.

Tinha ganhado força muscular desde a doença, mas instável, sendo que do joelho para baixo, os movimentos e contrações musculares eram bem reduzidos, não tinha o do levantar a ponta dos pés(somente vibrava um pouco para cima e baixo), como que levando pequenos choquinhos, sentia seus pés irem e vindo, dependurados pelas canelas.

Usava órtese para fazer a caminhada nas barras, nos exercícios de fisioterapia, mas para a vida diária, pesava sobremaneira para dar os passos.

O próximo dia seria sexta- feira, feriado, depois, final de semana. Não tinha cabeça para ligar na ouvidoria, conforme sugestão do funcionário..

Foram muitos os lugares que não foi reconhecida no direito à acessibilidade, pensou Tatá.

Na loja, que não entrou porque não havia corredor de acesso ao seu interior para entrar com a cadeira, outros lugares, que depois do agendamento, comparece, encontrando escadas, que a obrigava voltar para casa.

Há anos que não vai ao mercadinho próximo à sua casa por falta de rampa de acesso, mesmo depois de pedir ao Dono que se fizesse a adaptação. Nos banheiros de restaurantes em viagem nas estradas, que a obrigou fazer as necessidades em pé.

Sem contar a exclusão social imposta em alguns espaços, a consciência que criou o espaço do lugar, deixou de fora o cadeirante.

Há a falta de consciência inclusiva de algumas pessoas, quando chega Tatá em fila de banco, cinema, repartição administrativa ou Hospital, o atendente, ao invés de pedir seus documentos para fazer as anotação prévias, dirige o pedido ao acompanhante dela, sem dizer ao menos bom dia.

Chegou dia de ser atendida por profissional na calçada, por falta de acesso ao interior do imóvel.

Quando chegou para votar, na primeira vez que participou das eleições depois da doença. Havia uma roleta com acesso e entrada principal, não tinha como passar com a cadeira.

Depois de muita espera, chega um policial, que foi avisado para conduzir Tatá ate a sala de votação, desviando de muitos obstáculos para encontrar a sala, e votar.

Pensava antes de dormir no que poderia ocorrer nos próximos dias, o avô estava se complicando da doença.

No final da visita ao avô naquele dia, Tatá e Anunciata saíram , passaram em frente a mesa que ficava contígua a entrada do quarto, encontraram a enfermeira digitando dados no computador, e o médico que acompanhava o avô nas consultas ambulatoriais.

Param para tentar obter informação do avô.

O doutor, que também digitava no computador de mão, olha em direção a elas, cumprimenta com os olhos, e retorna no que estava fazendo. Anunciata aproveita o escape, e adianta.

___Boa tarde, doutor!

___Sim!

___Somos Netas do Senhor Benito. Poderia ter um dedinho de conversa conosco?

___Pois não!

__Qual o estado clínico dele!?

Dr. Egídio, homem com mais de metro e oitenta. Tinha traços de uma genética importada, meio Alemão, meio Inglês. Até o modo de falar expressava indiscutivelmente que a vocação escolhida de médico era o a que veio que queria realizar. Nobre, com traços da personalidade e inteligência apuradas, bom entendedor da especialidade que trabalhava na medicina, era cardiologista plantonista, integrante da equipe que cuidava de Sr. Benito. Acima de tudo, humano.

Parou imediatamente do que estava fazendo. Levantou, e foi para um reservado no corredor com as moças. Adiantando:

___ O avô de vocês porta doença no coração que agravou nos últimos dias, envolvendo Válvula Mitral, a Tricúspide, compressão no pulmão, com retenção de água no corpo e pulmão, além de de novas obstruções em aorta e veias periféricas, incluindo algumas que foram revascularizada em cirurgia há dez anos. Sendo paciente com insuficiência renal há tempo, tem agravado seu estado, estamos estudando a necessidade ou não dele submeter a Hemodiálise.

Continua:

___É sabido que não podemos submetê-lo a nova cirurgia de revascularização, pelo alto risco de vida, que não queremos o expor. Estamos mantendo o Sr. Benito no tratamento medicamentoso, para que saia do quadro da Insuficiência Cardíaca Descompensada. Depositamos expectativas na melhora.

As primas não tinham mais o que se esclarecerem, a resposta objetiva do Dr. Egídio, levou-as tão somente agradecer a ele a informação e se retirarem do ambiente.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 26/11/2018
Código do texto: T6512160
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