Tatá na Jaguaribe 3
Estavam vencidas com o acontecido, desistiram de continuarem no veneno da indignação. Tatá e Anunciata terminaram o trajeto até o quarto em silêncio.
Quando apontaram na porta, Benito estava dormindo, deitado de barriga para cima. A cama, inclinada na cabeceira, quase que sentado.
Seu aspecto era de cansaço. Há dias, até a internação, tinha sentido falta de ar, inchaços no abdome, pernas e pés. Diagnosticado com o agravamento das complicações no coração e rins, com quinze por cento dele funcionando.
O quarto estava repleto de homens nos leitos, numa contagem inicial, cinco com Benito. Portavam, como patologia principal, doenças coronarianas. Tinham entre quarenta e oitenta anos.
As duas chegaram de mansinho. Lembrando mensagem subliminar de contato, o avô abriu os olhos, como pressentindo que alguém se aproximava.
Deu um sorriso largo, sem disfarçar a canseira. Quis se levantar, as netas não deixaram. Anunciata adiantou:
__Fica vovô! Fica deitado! O senhor está descansando!
Benito se esparramou no choro. Disse:
___Minhas netas! Faz tempo que chegaram?
Abraçaram muito o avô. Conversaram sobre o que os médicos achavam do tratamento, neste ínterim, a enfermeira sorridente, se aproxima com o Kit para medicação. Um notebook sobre um carrinho de quatro rodas empurrando, e um leitor de código de barras em uma das mãos. A medicina e a tecnologia a bem do tratamento adequado.
A funcionário passou o leitor na pulseira que estava no punho da mão direita de Benito, lendo na tela do computado as medicações que seriam ministradas a ele.
Depois, buscando conhecer os companheiros de quarto do Sr. Benito, Tatá e Anunciata passaram indagar os parceiros. Sentiram acolhida e senso de grupo entre os presentes.
O clima era bom, buscavam a manutenção da sobrevivência e paz partilhadas. Ouvia-se o som da TV ligada baixinho. Ao certo, a afinidade se devia pelos motivos em comum que comungavam. Estavam internados em estado crítico de saúde.
Norberto, quarenta e nove anos, havia tido enfarto dias antes, almoçava com a namorada, quando sentiu leve dor no peito, vindo intensificar no início da madrugada do dia anterior, quando procurou pronto atendimento, sendo socorrido, realizado os primeiros atendimentos. Encaminhado para o Hospital maior para aprofundamento dos exames e melhora no diagnóstico.
Era dono de loja de venda de veículos, novos e semi novos. Estava esperançoso, a namorada sentada ao lado da cama lhe dando conforto e assistência .
Jonas, não se movia, nem conversava, estava sempre com as mãos embaixo do cobertor, sua nora lhe fazendo companhia.
Mulato, setenta e nove anos. Não parecia a idade, nem portava rugas.
Câncer no fígado e estômago, além de insuficiência no coração. Estava ali para estudo do porquê estava sem querer alimentar. Os remédios que o médico havia ministrado para tira a dor, que ingeria em casa, não estava surtindo efeito. Parecia estar em estado terminal.
A nora informou às primas, que o sogro era pai de quatro homens e uma mulher, que a filha cuidava da mãe em casa, também acamada com doença grave. Os filhos, um deles era seu marido, trabalhava na Usina Canavieira como motorista. Tinham que trabalhar. Ela se dispôs acompanhar o sogro. Não tinham condições de contratar enfermeiro domiciliar ou cuidadora.
Jonas olhava em Tatá não como pedindo socorro, mas com expressão de estar perdendo a guerra com a vida. Apesar do sofrimento, via pelos olhos dele que portava uma alma guerreira, combativa, nobre, um verdadeiro senhor do destino. Seu olhar impunha respeito.
Senhor Oto, instalado no leito ao lado da janela, estava aguardando cirurgia para implante de Ponte de safena, e mamária. Comedido, italiano centrado, equilibrado, sem disfarçar certa ansiedade que a espera por qualquer cirurgia impõe. Viúvo há oito anos, não quis casar novamente, estava sem acompanhante porque a única filha estava fazendo companhia para o marido, que havia doado um dos rins para o irmão.
Senhor Dito, oitenta anos, no leito a frente de Benito. Tinha tido enfarto em casa. Estava muito fraco, tossia muito, com pneumonia adquirida na internação. Homem bom, vivido, voz rouca e forte. De quem fez muito.
Sua filha tinha acabado de chegar, agradece Sr. Benito, que a noite ligou para ela, a pedido do pai, para informar que a crise de tosse havia cessado, estava melhor.
O celular ajudava muito no contato com Sr. Benito no Hospital, falavam com o avô dia e noite.
O Diretor da portaria liga para Tatá no celular, informa que no outro dia era feriado e final de semana, não podia se posicionar sobre deixar o carro no estacionamento privativo para funcionários, que era próximo ao elevador que dava acesso ao quarto do Senhor Benito. Se posicionaria na segunda.
Quanto ao auxílio com a cadeira de rodas, caso fosse sozinha no sábado ver o avô, que os funcionários da portaria para visitas estavam avisados a dar assistência a ela no percurso até o elevador.
Qualquer dificuldade, que fosse falar com o encarregado daquele setor, que estava ciente do caso.