Buscando a verdade

O céu parcialmente encoberto apresentava raios de luz avermelhada transpassando as nuvens num cenário altamente belo e artístico, porém não criado por mãos humanas. O vento soprava manso e úmido anunciando que a água cairia do céu ao passar de algumas horas. Na beira da calçada Orlando esperava seus amigos enquanto apreciava o cenário embalado pela expectativa dos bons momentos que viriam durante a noite.

Momentos como aquele, todos sabem, são raros na nossa vida, não exatamente porque acontecem pouco, mas pela nossa incapacidade de observar as coisas em volta. Mas naquele momento nosso jovem protagonista experimentava o que há de mais sublime em nós humanos; a capacidade de contemplar a vida.

Logo Rafael e Miguel chegaram e viram, surpresos, o bom humor do amigo. Indagaram-lhe:

- Como podes estar contente em momento deveras turbulento, meu caro?

Orlando apontou-lhes o belo céu poente.

- Com tanta beleza, qual tristeza eu ei de observar amigos?

- Espanta-nos tamanho desprezo. Ainda há pouco reclamavas tu a nossa presença com lamúrias agoniantes.

- Desculpem amigos pela fraqueza, mas já é passado o mal que me afligia. Prefiro agora observar o que me contagia, esta enorme beleza divina em forma de paisagem.

Estupefatos os amigos deram de ombros e sentaram ao lado do querido amigo. Olhando para cima, de fato perceberam que aquele espetáculo não era costumeiro. Não necessariamente o espetáculo da céu, que acontece vez ou outra, mas aquele onde exibia-se garboso sorriso na cara do amigo, apesar do pesado fardo que residia momentaneamente sobre seus ombros.

Perceberam eles que seu amigo, cuja amizade era recente, estava começando a entender aquele momento tão particular que estava vivendo. Certamente não era fácil, mas nada impossível.

Perguntaram a ele:

- Achas tu agora que está começando a entender?

- Não saberia dizer ao certo ainda meus amigos. Absolutamente este é um momento muito bom, mas ainda apresentam-se diante de mim enormes dificuldades.

- Sabes não que elas são impostas a ti por própria vontade?

- O sei sim, porém é difícil livrar-se de velhos costumes.

- Sempre que quiser, divida este pesado fardo conosco. Junto de ti estamos justamente para ajudar-te nesta tarefa.

- Agradeço meus amigos. Tenho em vós grande estima e satisfaço-me enormemente com vossa presença. Já estão a ajudar-me muito mais do que eu mereço.

Os amigos silenciaram-se e passaram ao exercício da contemplação. Tal este que requer pouquíssimo esforço do corpo, mas gigante da mente.

Ao passar do tempo os dias de Orlando eram cada vez menos como as tempestades e mais como os sóis poentes.

Em determinado momento chamou à sua presença Miguel e Rafael. Tendo eles chegado, dirigiu-lhes a palavra:

- Meus caros, muito obrigado pelo prazer de vossa presença. Chamei-lhes para agradecer pelo seu apoio. Não alcancei totalmente a condição almejada por mim, mas sinto-me um tanto quanto melhor graças a ajuda de vocês. Peço-lhes encarecidamente que adentrem pela minha casa. Perceberão que há em minha mesa um banquete destinado a vós em sinal de agradecimento por toda a ajuda.

- Desnecessário é isto meu caro. Somos amigos teus, mas ao ajudar-te, cumprimos nossa missão.

- Não o fiz por necessidade meu caros, fiz por prazer. Tenho por objetivo mostrar-vos a minha gratidão e apreço. Jamais sonhei e tem a minha volta tamanhos préstimos e tamanha bondade. São vossos atos infinitamente superiores aos méritos deste que vos fala.

Com o coração transbordando alegria, responderam-lhe:

- Fazemos nossa parte meu caro, porém não recebeste nossa ajuda por mérito, mas por misericórdia. Percebas agora que os méritos começas a ter a partir de agora com este sinal de agradecimento. Sabemos que este agradecimento veio da tua pureza e que nele não há intenção outra senão a declarada por ti. Talvez não saibas tu, mas o fim de tudo que fazemos é que esteja bem para finalmente ver aquele que tem os verdadeiros méritos por tudo que há no mundo.

Orlando não cabia sem si, pois agora estava totalmente realizado. O que buscou em toda sua vida aconteceria em pouco tempo. Poderia conhecer toda a verdade.

Chegado o dia do definitivo encontro, foi encaminhado ao mais majestoso trono ladeado pelos seus dois amigos. Quando chegou próximo ouviu:

- Cumpriste tua função com louvor. Sei tudo que está em seu coração. Lamento desapontar-te, mas a verdade absoluta não conhecerás ainda, pois ela não se conhece ao me conhecer apenas, mas sim ao seguir o caminho que indico. Não desiludas-te pois está mais perto dela que jamais esteve e eu vou te mostrar onde encontra-la. Meu caro, tu agora não será como eras. Tu será como Rafael e Miguel. Teu nome agora será Gabriel e tua função será ajudar teus dois amigos a fazer para os outros o que fizeram-lhe os dois.

- Agradeço enormemente e aceitarei Teu desígnio Senhor. Se me desaponto é por fraqueza. Percebo que neste ponto necessito teu perdão. Conhecer que Tu é é muito mais que eu poderia esperar. Agradecer-te-ei eternamente pelas tuas dádivas. Reconheço que sem Tu eu nada seria. Pois pedes que eu farei de bom grado Senhor.

- Vá com teus amigos então. Ensinar-lhe-ão tudo que precisas saber agora. Vá em paz meu caro, saibas tu que tem a minha estima e que tenho-te por amigo justamente por tua lealdade.

Os três amigos seguiram fazendo o que lhes foi ordenado fazer. Infelizmente leitores, aqui termina a história que eu posso contar. Acredito que os os dois amigos do nosso querido protagonista procuravam o mesmo que ele, mas neste ponto estou além das certezas que posso ter, simplesmente apoio-me no que procuro fazer, entretanto, mais erro que acerto. Mérito não tenho nenhum. Somente posso torcer que nossos três amigos encontrem aquilo que procuram, enquanto, certamente, ajudam a nós que estamos aqui, passando enorme dificuldade. Não esmoreçam meus amigos, não esmoreçam. Fiquem com Deus.

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