Tatá na Jaguaribe
Tatá na Jaguaribe
Tatá saiu cedo, pediu táxi pelo aplicativo, ia visitar seu avô no Hospital Escola da cidade.
Ficou no aguardo próximo ao portão, na quarentena. Estava temerosa, receava poder haver rejeição para a corrida.
Em outras viagens, sempre nos percursos das idas e vindas a Fisioterapia, quando o motorista via que era cadeirante, pela mensagem de Tatá antecipando o contato, por vezes, sem justificativa, encerrava a execução do serviço, obrigando a mulher fazer outra chamada.
Noutras, teve motorista, que uma vez estacionado e descido do carro, vendo que tinha uma cadeirante a espera, dizia que não podia realizar o trajeto, poderia ser multado por levar a cadeira de rodas no banco traseiro(dizendo que não cabia no bagageiro).
Benito estava internado em Hospital referência, não somente no país, mas na América Latina. Notório pela atuação avançada nos estudos e tratamento de doenças.
Havia piorado os sintomas. Da consulta, a equipe que o seguia a anos, resolveu pela internação.
Naquele dia deu certo. Estaciona o taxista em frente a sua casa, cinco minutos depois do pedido, pronto para permitir o acesso de Tatá dentro do carro. Ufa!Dirige um sorriso a passageira, fugindo um pouco ao natural, na expressão e movimento do desligar do carro.
Move alguns passos, vai até ela, meio que sem saber como proceder, pergunta se necessita de ajuda.
Adianta Tatá, diz que a ajuda, seria para a assistência do apoio para segurar a cadeira, conseguia levantar e sentar no banco, desde que tivesse braço de alguém para frear a cadeira a não sair do lugar(fazia muita força para levantar, apoiando nos braços da cadeira, o que a forçava ir para trás, mesmo com as rodas travadas, sendo motivo de algumas quedas em situações anteriores).
Iniciou o trajeto naquela manhã, depois de Tatá acomodar, sentando com muito custo no banco do passageiro.
O motorista, após encaixar a cadeira de rodas no bagageiro, a desmontando quase que por inteira, entra suado no carro, programa o endereço do destino no aplicativo, e dá a partida.
No percurso, a conversa foi picada, falou do tempo, depois, do trânsito, até que não suportou, quis matar a curiosidade, acabou perguntando o que havia acontecido.
Tatá tinha como fosse o abecedário. A minuta no juízo; sempre que a indagava, relatava o que tinha acontecido em poucas palavras. A doença, principais sintomas, e as sequelas. Dava o acabamento da história com uma pitada de ditos, frases inteiras de efeito alucinógeno para o consolo, a maioria se indignava com o relato. Ao certo fazia aquilo para se consolar, diante de tanto.
Depois de um breve silêncio, avistaram a portaria do setor de visita do Hospital, a vaga para estacionamento especial, não localizaram, a não ser uma rampa para acesso a calçada, muito mal posicionada. Impossibilitada estava para ser utilizada, havia um carro parado com um homem no banco do motorista, impedindo a passagem.
O taxista deu uma buzinadinha de leve, sem sucesso. Logo, foi visto um segurança se aproximando, parecido com aqueles de empresa terceirizada.
Tatá acenou com a mão em direção a ele, que uma vez próximo ao carro, pediu que solicitasse ao motorista, para que desse passagem.
O guarda deu uma suspirada, demonstrando receio para ir falar com o motorista do carro estacionado. Deu uma paradinha, como quem estivesse a caminho para realização de uma missão quase impossível. Mas foi.
Chegou próximo ao carro, devagarinho, ao lado de onde estava o motorista estacionado irregularmente. Pelo balbuciar de sua boca, e gestos, indicava explicar que aquele local era rampa para cadeirante.
O moço movimentava com os ombros e as mãos, indicando resistir ao pedido de saída do local. Tatá, por viver a rotina da negativa do trato de alguns cidadãos com ela nos espaços públicos e particulares, preocupada com o tempo de espera do taxista, que passou demonstrar certa impaciência, pediu para que ele a deixasse no meio da rua mesmo, que pediria ao guarda para conduzi-la até o guichê e pegar o crachá. O horário de visita havia começado.
E assim foi feito. O motorista recebeu pela corrida, deixando Tatá na cadeira de rodas na calçada que dava acesso ao saguão, e a entrada do Hospital.
Chega o segurança, se justificando do porquê não ter conseguido convencer o motorista retirar o carro que estava em frente a rampa. Tatá, que estava atrasada, disse ao guarda que poderia ter acionado o 190, ou a ronda externa do hospital, para aplicar multa no sujeito, que estava estacionado irregularmente.
O guarda faz-se de desentendido(ou não entendeu mesmo), continua criticando o motorista estacionado irregularmente, que havia saído logo que Tatá foi levada até a calçada pelo guarda, passando pela sarjeta sem guia rebaixada, expondo-se mais uma vez a risco de queda.
Pede ao funcionário que a auxiliasse entrar dentro do Hospital, até o guichê para a retirada do crachá.
O funcionário diz, decididamente, como bom cumpridor de ordem manifestamente ilegal, que poderia conduzi-la até certa altura do saguão, mesmo assim, era arriscado, que a ordem para era não colocar a mão em cadeira de rodas para auxílio a cadeirantes. Não era sua função.
Neste ínterim, no caloroso bate-papo, chega Anunciata, prima de Tatá, que também iria visitar o Avô.