A Notícia

Na vida louca do dia a dia, Afonso separado da mulher, morando em outro Estado, começou a trabalhar de motorista de ônibus e lá conheceu muitos amigos. Quando terminava o seu trabalho ficava no bar até as três da matina.

E nesse vai e vem, conheceu Angelina, que loco de cara apelidou de anjo. E como o batismo final é do povo. Todos passaram a conhece-la como anjo.

O romance enfim emplacou e os dois, logo que terminava o turno dele ficam no bar e até amanheciam por lá.

Pato rouco, o dono do bar e amigo de Afonso, um dia o chamou e o alertou:

- olhe amigo, acho que você está bebendo muito e passando da conta com aquela moça. É melhor ter cuidado. Pois o senhor mal a conhece.

Em resposta ao alertador, Afonso saiu com essa:

- Meu amigo, cuide da sua vida. Ela é um anjo e eu to velho mesmo. Só quero curtir. Mas mesmo assim, te agradeço pela preocupação.

A partir daí o dono do bar ficou calado só observando. E foi por esse tempo, que o anjo desapareceu.

Quem já estava acostumado a ver o Afonso com a moça, era como o café com leite. E num belo dia, de tempos que não se via a moça, Ricardo, um dos cobradores, que saíra naquela madrugada de serviço, o interrogou:

-Afonso, cadê a anjo.

E ele sem se envergonhar respondeu na bucha:

- Foi pro céu.

E todos ali caíram na gargalhada.

Mas de tanto insistirem na pergunta pela moça, que Afonso, em seu silêncio, quando voltava pra sua casa fez sua reflexão e assim, dormiu.

Lá pelas dez da manhã ele acordou preocupado e conversando com a dona da pensão, onde morava resolveu procurar a moça.

Foi onde normalmente ela ficava e não encontrou, procurou no quarto onde ela morava e lá informaram, que ela se encontrava no hospital geral. Mais interessado quis saber qual o motivo, mas ninguém sabia.

Com o quarto fechado a semanas, segundo os vizinhos, ele quis saber o nome completo e recebendo a informação mais ou menos correta foi-se ao hospital.

Na portaria, quiseram saber, quem procurará a moça, e ele disse, que se tratava de um amigo.

Então o porteiro, cheio de mistério, o levou a enfermeira, que o levou a uma psicóloga e esta, perguntou o grau de parentesco ou amizade.

Sem papas na língua ele falou:

- Doutora, eu tenho um rolo amoroso com ela. A gente fica de vez em quando.

A Doutora observou:

- Bem, então me sinto no direito de lhe comunicar, que essa moça era portadora do vírus HIV.

Atordoado ele perguntou:

_ Mas onde ela está?

A doutora sem fazer muita cerimonia disse:

- Lamento informar, mas ela faleceu ontem e há dias esperávamos alguém pra informar e levar o corpo.

Emudecido aquele senhor de cinquenta anos, ficou sem fala, suando frio reuniu forças pra perguntar a médica:

- Com a morte dela por essa doença, faz de mim o que?

A medica respondeu: Em tese, se o senhor não usou camisinha, faz do senhor, um portador do vírus. E voltou a pergunta a ele. Você usava camisinha?

E ele discretamente, passou as mãos na cabeça e sem dizer nada, apenas balançou a cabeça dizendo que não.

Tentando confortar a médica outra vez disse:

-Vamos fazer o teste agora mesmo para saber.

Após o teste, confirmando a positividade nele. A médica falou:

- fique calmo e tranquilo, que como está no início, então não haverá problema. E o senhor sobreviverá.

Mas ele foi embora pra casa. Abriu o quarto da pensão e assentado na rede, com a sua camisa branca e o seu calção cinza, dizia ao mundo desvanecido, que ali começava o seu fim.

Vinte anos depois, ele aposentado, anda solto pelo país. Está entre nós, como uma realidade viva, procurando sempre dizer cuidado.