O caso do professor

Ele chegava na sala de aula com um guarda-pó impecável, barba bem feita e sapatos lustrados.
As meninas se ajeitavam nas carteiras e algumas passavam a mão pelos cabelos. Tinha uma que até retocava o batom ali mesmo, na primeira fila.
Os rapazes mais descolados nem percebiam a movimentação. Quando o professor perguntava sobre o dever de casa, quem primeiro respondia era Ana Maria. Tinha as respostas na ponta da língua. Parecia decorar toda a matéria durante a noite para agradar o mestre no dia seguinte.
Eu me irritava com ela mas, no fundo sabia que era ciúme o que eu sentia. Amava aqueles olhos verdes, mesmo que não olhassem para mim.
Um dia tomei coragem. No intervalo antes da aula do Teotônio, cheguei perto de Ana Maria e perguntei o porquê daquela alegria. Ela e mais três que saíam do banheiro feminino em direção às sala de aula responderam em uníssono com risinhos nervosos:
- Aula de física!!!!
Quando já estávamos na sala eu, querendo me vingar, comentei alto que as meninas se produziam no vestiário para ver o professor. Ele sorriu e anunciou a todos o que não podia mais esconder: Ele e Ana Maria estavam namorando fazia seis meses.
Para minha decepção, ela se levantou e confirmou tudo sob os olhares invejosos ou surpresos das meninas e também de um moleque pouco aplicado, como eu.
No ano seguinte, soube, Ana Maria estava aprovada no vestibular para física. Primeiro lugar.

Cláudia Machado

Nota: Foto extraída da web de pessoa pública. Meramente ilustrativa. 
Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 06/11/2018
Reeditado em 13/02/2019
Código do texto: T6496103
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