Apagaram-se as luzes
Jorge chamou o enteado com um asceno de lá do quintal.
Já era hora de partir, afinal marcou para sair as 10hs da manha.
- Meu casaco cinza mae onde está?? gritou Patrik para a mae.
- Vamos! leve o verde, temos que sair! senao chegaremos muito tarde! respondeu a mae.
O caminho que levava até a casa dos avós era longo e bonito.
Numa linda estrada cercada de arvoredos, onde se viam muitos passaros de varias especies e cores, como se sobre eles houvesse caído uma plancha de pintura, ao longe podia se ver a montanha que cruzariam para chegar até a casa dos avós de Patrik.
Lucia e Charles se conheceram ainda novos no inicio da faculdade, longos cinquenta e dois anos viveram até alì, entre alegrias e decepçoes, mas podiam dizer que na maior parte do casamento, foram felizes.
O natal chegou e Charles já havia decorado a casa, com todas as luzes que conseguiu instalar entre os cabos e tomadas, inauguraria com seu neto apertando o botao e tudo seria dia dentro da noite natalina. Este ano, ele havia colocado a família das renas, que no ano anterior havia prometido a Patrik.
A árvore de natal de um metro e meio de altura, toda cheia de neve, bolas, laços e flores, já estava pronta no canto da sala, só faltava colocar a grande estrela brilhante no topo da árvore.
As botas de tricô, com as pequenas guloseimas já estavam presas em cima da lareira, onde ardia a madeira que fazia o aquecimento central.
Faltavam os presentes! sim, deveriam estar ao pé da árvore, Charles subiu a escada que levaria ao quarto onde estavam os presentes, estavam lá, encima da cama.
Charles, entrou devagar, pegou os presentes embrulhados com papéis coloridos e desenhos natalinos e os levou para sala de baixo, colocou ao pé da árvore, dizendo o nome de cada um... Patrik...Marisa... Jorge e.... faltava o de Lucia!
Charles subiu novamente a escada, entrou no quarto, procurou em todos os cantos e nada, encaminhou-se até seu quarto, olhou na cama, no armário e nada encontrou.
Como poderia ter esquecido?
Pegou o casaco marrom que pendia no cabideiro, as chaves da caminhonete no movel da entrada e saiu, teria que comprar um presente bem bonito para Lúcia.
Teria que se apressar, os convidados poderiam chegar a qualquer momento.
Entrou na elegante loja no centro da cidade e ficou a olhar nas prateleira, vitrines estenditas a meia altura e ouvindo ao fundo, a suave musica natalina.
Aproximou-se D. Vilma, a vendedora mais antiga da loja perguntando:
Boa noite sr. Charles, busca algum presente? Posso ajudá-lo?
Charles disse, sim, preciso um presente para Lúcia, talvez uma encharpe de seda azul, o que acha?
- Sr. Charles um momento, vou chamar o sr. André para falar com o senhor.
-Nao, nao é preciso, só preciso que a sra. me ajude a encontrar algo, por favor!
A vendedora foi até o chefe e conversou com ele baixinho, olhando diretamente para o cliente confuso.
- Boa noite Charles! em que posso ajudá-lo? Sua filha já chegou?
- Nao, respondeu Charles.
-Vamos tomar um vinho, convidou André, segurando levemente no braço de Charles e o encaminhando até o bar ao lado.
Buscou uma mesa no canto, pediu duas taças de vinho tinto e André começou a conversa.
-Charles, somos amigos há muitos anos nao é? deixa eu te dizer uma coisa:
Lúcia nao esta mais aqui, você nao se lembra que ela ficou doente? ela morreu.
- Nao! respondeu imediatamente Charles, ela nao morreu, eu sei que nao, ela nao me deixaria só, voce vai ver, ela está lá e eu estou sem seu presente, me ajude a buscar um André, por favor!
- Ok! respondeu o amigo, vamos lá.
Voltaram para a loja, depois de muitas escolhas, Charles saiu com uma caixa de presente.
Algumas horas depois, ao entardecer, chegaram os convidados.
O avô deu um longo e terno abraço na filha, um aperto de mao com alguns tapinhas nas costas do genro e levantou seu neto lhe dando um afetuoso abraço dizendo.
-Venha Patrik, tenho uma coisa para te mostrar, vamos lá fora... e você vai ligar! venha...
-Vovô!!! a família de renas? que bonitos!!
- Venha ligue o interruptor, aqui, para cima, vai!
E num pequeno click! tudo se iluminou, as renas, as luzes do telhado, as pequenas arvores, num pisca pisca mágico! fes-se o natal!
Charles baixou a cabeça e se encaminhou para uma poltrona na varanda, enquanto o neto corria entre os enfeites rodopiando todo feliz.
Charles, olhou para o portao e seu rosto se iluminou, como o rosto de uma criança.
Disse baixinho estendendo os braços: Lúcia meu amor, eu sabia que voltaria... e para seus olhos , estava ela, a mulher que sempre amou, com um sorriso terno e suave, segurou suas maos e.... encaminharam-se para noite desaparecendo lentamente, deixando ao vento a encharpe azul.
E as luzes foram-se apagando uma a uma.