Um Cigarro para Camilly

Morta e viva ao mesmo tempo na loucura insana de todos os dias. A rotina é a cortina dos cegos e dos desvalidos. Nem as coisas mais evidentes estão onde elas estão. As notícias lá de fora são meras banalidades escritas na areia mais fina.

Há hieróglifos pelas paredes com símbolos mágicos e muitos palavrões. Assim é o mundo em pílulas que matam sem matar. Nada sabe, nada sabemos, eis a flexão do verbo que nos ensinaram.

A falta de modos parece ser o modo mais correto. E a inutilidade já veio nas instruções de uso. Ocupe o espaço, queime oxigênio, colabore com a estatística, ajude nos gráficos, faça merda. Faça merda, seja merda, seja a derrota de Deus no mais cruel dos testemunhos.

Cada lugar é lugar nenhum. Aqui e ali e acolá é a mesma coisa. Pardais e mísseis são bem parecidos. Só as canções mudam. E os passos que alguém ensinam sei lá onde. Cordel às avessas por causa da pinga que alguém um dia tomou.

Leis? Tá gozando da minha cara? O único milagre existente é o pulmão que faz. Valentia? Coragem? Essa sabe bater o pé na bunda e sabe muito bem. Bravo é o cão antes de apanhar do gato. Corajosa é a barata que atravessa o asfalto. Seja esmagada e um clássico acabou de ser escrito.

Silêncio na praça ocupada pela multidão. A equipe de som toca o maior dos silêncios. Não desperdice a chance dos cinquenta centavos caídos no chão. Maconha de cinco hoje na promoção. E a cara do noia era engraçada.

Patéticas palavras que não servem para mais nada. E o filme repetido na televisão nova cheia de poeira. Queremos a sombra do vale das sombras e nem sabemos disso. Entender nada pode ser a mostra da maior inteligência. Não se sofre se cantamos a música estrangeira. O cara xingou a própria mãe e não sabia.

Confunda as coisas o máximo que puder. A mulher vira homem. O homem vira mulher. Labirintos são feitos para se perder. E os fios que nos salvariam foram usados para enforcar o mais inocente de todos que já vi.

Meia dúzia e seis são quase a mesma coisa. Detestemos o que detestamos já de antemão. Tudo envelhece com pouco tempo. E nudez não causa mais comoção. Essas imagens não possuem mais vidro e nem medo algum.

Quase amamos e é o máximo que podemos. As luas são infinitamente grandes debochadas. Um desafio maior é ser alguma coisa. Vamos rindo das piadas que não têm graça. O maior presente nesse momento presente é o desprezo. E o que sai dos seios é puro veneno.

Não pergunte e nem responda porque isso pode fazer muito mal. E a única sensação boa é do sonho desfeito. O profeta profetiza sérios absurdos. Que tudo voltou ao normal e acabou a cerveja. Batucar nas panelas e quebrar os móveis da sala. Rabiscaríamos nas paredes se pudéssemos. Casa de pedreiro o espeto é espeto.

O primeiro à entrar que acenda a luz. Os pesadelos agora já fazem fila. A atriz pornô quase gozou. O instinto de sobrevivência se viciou em abismos. O marrom agora é verde por decreto. E um carnaval em dias proibidos.

Quem ligou a máquina do vento sabe o que faz. As fotografias se enjoaram do papel. É melhor não enxergar do que ser cego. E as uvas-passas estão chegando. No natal comemoramos um velho chato que adora coca-cola e não sabe rir.

A mais puta caprichou na lição de casa. O sonhos estão abertos para visitação pública. Não há mais restos de comida no prato. Os restos agora são outros. São vendidos em embalagens coloridamente indispensáveis. Cada caminho é caminho nenhum. Cada meta não deve ser mais alcançada.

Rouxinóis agora não escutam mais apelos. E aquilo que foi belo algum dia agora faz parte do abominável. Isso aí. Adjetivos sem questão e superlativos arrumados pelas prateleiras. Gavetas e tapetes agora são desnecessários. Dispensáveis até.

Nunca mais fale mais isso. Um simples sabonete pode mudar toda uma história. E um pequeno beijo faz vida e morte. Podem dar alguma esmola para esse cego. A minha tábua ouija já está programada. Sinais de fumaça agora bem vindos.

Nem acreditei quando colocaram créditos. A felicidade agora é a tristeza com um outro molho. Chutem os cegos. Batam nos mendigos. Assustem as crianças. Traição agora é bem-querer. Freud agora se preocupa mais em fumar seus charutos. Foda-se.

É proibido proibir. Só que o preço é bem alto. Os memes que o digam. Isso foi macumba e das brabas. Aperte a tecla se assim o quiser. Esqueça isso. A mente está deveras cansada. Qualquer coisa serve agora. É só procurar no site e está lá.

Desculpe a bagunça daqui de casa. Faltou avisou para uma revolução. É desconhecido o que é. Pode ser um cemitério clandestino em pleno Central Park ou alguém cagou na Calçada da Fama. Gosto é gosto. Já dizia uma velha que esqueceu de morrer.

Morta e viva ao mesmo tempo depois de alguma coisa. Se fodeu! Se fodeu! Compre uma cova com antecipação. Capriche no caixão e nas outras coisas. Quem chora cumpre seus compromissos. Jogue fora suas roupas que hoje é o dia do lixeiro. Prometo que encho a cara no dia do funeral. Vou falar as mesmas coisas que todo idiota diz.

Quer um cigarro Camilly?...

(Extraído do livro "Os Contos Que Eu Te Conto" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Carlinhos De Almeida
Enviado por Carlinhos De Almeida em 01/11/2018
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