1059-OS INOCENTES PAGAM PELOS PECADORES - Politica

Gosto de conversar com seu Alfio Montagna. Todas as manhãs, quando estaciono meu carro na garagem da prefeitura, onde trabalho, saio para tomar um cafezinho e ter dois dedos de prosa com o amável senhor.

Sentado em um banco à sombra de um ipê branco, lê jornais e revistas. Quando chego, ele abandona a leitura e conversamos sobre o assunto do dia, política, religião, ou qualquer coisa que tenha chamado a atenção dele, na TV ou nos jornais.

Cabelos brancos, baixo e magro, rosto com rugas, olhos claros, rosto bem barbeado e de um intenso rosa, quase vermelho, denunciam sua origem: descendente de imigrantes europeus.

— Bom Dia, meu caro Tunico. — Aperta minha mão e abaixo para receber seu abraço, que é sempre bem apertado.

— Bom dia, seu Alfio. — Sento-me ao lado dele e vou logo perguntando, pois meu tempo e de apenas uns dez minutos antes de entrar em serviço. — Então, que há de novo?

— Rapaz, esta situação da saúde no Brasil é uma vergonha. Leio aqui e vejo em quase todo noticiário da TV, as filas para o atendimento dos doentes que procuram um pronto socorro ou um hospital público. Tem gente que morre na fila.

— Sem falar que para marcar uma consulta através do INPS demora semanas e até meses.

— Pois é. Se o paciente tem que esperar tanto para uma consulta, ele vira um impaciente, o que vai agravar seu estado de saúde. Este é um típico caso onde os inocentes pagam pelos pecadores.

— Como assim, seu Alfio?

— Ora, o dinheiro arrecadado pelo governo vai em primeiro lugar para os ladrões, corruptos, funcionários ou não do governo, que sugam até onde podem dos impostos que pagamos. Depois, vêm os altíssimos, os fabulosos salários e benesses recebidos pelos juízes e toda a cambada do judiciário: as despesas do senadores, dos deputados, dos vereadores, que podem ser, ao mesmo tempo, os corruptos e ladrões da massa falida que é o estado brasileiro. Em seguida, mais dinheiro é jogado fora pela burocracia e incompetência de funcionários indicados pelos partidos, completamente alheios aos problemas da saúde. Aí sobra muito pouco para atendimento do público, do brasileiro doente.

— Mas os pecadores...?

— Os pecadores são a escumalha que está no poder, bandidos que se dizem representantes do povo, pois foram eleitos em voto livre e democrático.

— E os inocente, então...

— São todos aqueles que precisam de um serviço publico, principalmente de saúde, que pagam impostos até sobre o arroz com feijão que comem, inocentes manipulados para elegerem sempre os mesmos corruptos, ladrões, formadores de quadrinhas de gansgsters.

— É mesmo. Os inocentes estão pagando às vezes até com a própria vida, os pecadores. Santa Mãe de Deus!

— É bom mesmo invocar as Potencias Espiritual, seu Tunico. Só o que nos resta é pedirmos a compaixão de Deus para nos tirar deste caos apocalíptico.

Despeço-me, pois meu prazo terminou. Levando as últimas palavras de seu Alfio como motivo para pensar seriamente no assunto.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 25 de setembro de 2.018.

Conto # 1059, da Série INFINITAS HISTÓRIAS.

Inspirado em notícias recorrentes na mídia nacional

sobre o colapso da saúde publica no Brasil.

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 17/10/2018
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