O CÁGADO - PARTE II
1---FANTÁSTICO - "Ambiguidade entre real e imaginário - hesitação experimentada por quem apenas conhece as leis naturais. em face de um acontecimento aparentemente sobrenatural. Ocupa o tempo da incerteza - escolhida uma resposta, entra-se num gênero vizinho: o ESTRANHO (leis da realidade permanecem intactas, permitindo explicar os fenômenos através de experiência anterior, passado) ou o MARAVILHOSO (admite novas leis da natureza, fenômeno desconhecido, o porvir: futuro)" ----- TZVETAN TODOROV. filósofo e linguista russo.
2---Conto O CÁGADO, de JOSÉ SOBRAL DE ALMADA-NEGREIROS, no livro "Contos e novelas", v. 4 - LIsboa, Editora Estampa, 1970.
ESQUEMA (o essencial):
"Havia um homem que era muito senhor da sua vontade." ----- Fábula moderna - prescindida moral da estória. Ou são muitas morais? ----- Personagem recorre a todos os meios para satisfazer a sua "vontade". Vê o cágado e quer levá-lo para casa, como prova concreta do que viu; tentou pegá-lo, o bicho se escondeu buraco abaixo.----- O homem, soberano sobre sua vontade, não suportaria que duvidassem dele, e se torna obsessivo, mas o bicho não quer colaborar e desaparece da vista do personagem humano. Este não consegue capturá-lo, seja com mãos, braço ou vara - ideia de inundar-lhe a casa e forçar a sair. Balde enorme, muito água, porém a água não chega à tona. Desistir e deixar de lado o cágado? Ele não é um mortal comum e sim um homem "muito senhor da sua vontade"... Outro plano. Cava com pá enorme, sempre cega obsessão, mais que um simples trabalhador rural, agora vaidade e desejo pessoal, "questão de vida ou morte", satisfazer sua "vontade" - sem perceber atravessa o centro da terra, processo de cavar é auto-flagelação: a obsessão o domina e animaliza. Trabalho cíclico, ritmado, luta intransigente. Família desiste de esperar e põe luto carregado. Cadê o cágado? O homem cai em si, retorna à realidade, sente falta da cama, dos lençóis, das almofadas, enfim, da civilização - blasfema, atira a pá com força no fundo do buraco, ela lhe escapa das mãos e abre uma abertura na terra; constata um país estrangeiro, nenhuma relação com o seu universo. Saudades! Resolve fugir, apressado em sentido inverso para sua cidade - anda, anda, sobe, sobe... e retorna à superfície, sua cidade soterrada por sua louca cegueira. Desfazer o tal monte de sua "vontade', pazada por pazada, restituindo toda a terra ao buraco. O último torrão de terra se move: é o cágado! ----- Fábula com toques de humor para mostrar que vontade obsessiva leva um ser a uma perseguição aloucada, irrefletida, animalizada - o ir e vir inútil, desejo pessoal, não admitir que duvidem, sua palavra é o único objetivo. O homem, antes sujeito "muito senhor da sua vontade", passa a objeto dela, tornada muito senhora do seu homem.
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LEIAM meu trabalho QUELÔNIOS.
F I M
1---FANTÁSTICO - "Ambiguidade entre real e imaginário - hesitação experimentada por quem apenas conhece as leis naturais. em face de um acontecimento aparentemente sobrenatural. Ocupa o tempo da incerteza - escolhida uma resposta, entra-se num gênero vizinho: o ESTRANHO (leis da realidade permanecem intactas, permitindo explicar os fenômenos através de experiência anterior, passado) ou o MARAVILHOSO (admite novas leis da natureza, fenômeno desconhecido, o porvir: futuro)" ----- TZVETAN TODOROV. filósofo e linguista russo.
2---Conto O CÁGADO, de JOSÉ SOBRAL DE ALMADA-NEGREIROS, no livro "Contos e novelas", v. 4 - LIsboa, Editora Estampa, 1970.
ESQUEMA (o essencial):
"Havia um homem que era muito senhor da sua vontade." ----- Fábula moderna - prescindida moral da estória. Ou são muitas morais? ----- Personagem recorre a todos os meios para satisfazer a sua "vontade". Vê o cágado e quer levá-lo para casa, como prova concreta do que viu; tentou pegá-lo, o bicho se escondeu buraco abaixo.----- O homem, soberano sobre sua vontade, não suportaria que duvidassem dele, e se torna obsessivo, mas o bicho não quer colaborar e desaparece da vista do personagem humano. Este não consegue capturá-lo, seja com mãos, braço ou vara - ideia de inundar-lhe a casa e forçar a sair. Balde enorme, muito água, porém a água não chega à tona. Desistir e deixar de lado o cágado? Ele não é um mortal comum e sim um homem "muito senhor da sua vontade"... Outro plano. Cava com pá enorme, sempre cega obsessão, mais que um simples trabalhador rural, agora vaidade e desejo pessoal, "questão de vida ou morte", satisfazer sua "vontade" - sem perceber atravessa o centro da terra, processo de cavar é auto-flagelação: a obsessão o domina e animaliza. Trabalho cíclico, ritmado, luta intransigente. Família desiste de esperar e põe luto carregado. Cadê o cágado? O homem cai em si, retorna à realidade, sente falta da cama, dos lençóis, das almofadas, enfim, da civilização - blasfema, atira a pá com força no fundo do buraco, ela lhe escapa das mãos e abre uma abertura na terra; constata um país estrangeiro, nenhuma relação com o seu universo. Saudades! Resolve fugir, apressado em sentido inverso para sua cidade - anda, anda, sobe, sobe... e retorna à superfície, sua cidade soterrada por sua louca cegueira. Desfazer o tal monte de sua "vontade', pazada por pazada, restituindo toda a terra ao buraco. O último torrão de terra se move: é o cágado! ----- Fábula com toques de humor para mostrar que vontade obsessiva leva um ser a uma perseguição aloucada, irrefletida, animalizada - o ir e vir inútil, desejo pessoal, não admitir que duvidem, sua palavra é o único objetivo. O homem, antes sujeito "muito senhor da sua vontade", passa a objeto dela, tornada muito senhora do seu homem.
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LEIAM meu trabalho QUELÔNIOS.
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