O retorno
Ele mal podia esperar o desembarque. Olhava pela janela parecendo-se uma criança que chega à cidade grande pela primeira vez. Queria rever cada ponto daquele lugar. Cada praça, cada esquina... Rever Gracinha... Será que ela ainda morava no bairro das Jabuticabeiras? Teria se casado com o filho do prefeito?
Desceu as escadas e foi com o passo apressado buscar as malas no bagageiro. Eram poucas. Tudo o que lhe restara, agora cabia em duas malas médias.
Passou a mão pelos cabelos grisalhos, alisou a barba e seguiu para a escadaria que levava à parte baixa da cidade.
Viu dali a matriz, linda como sempre! O antigo hotel da família e o armazém do Sr. Gastão que parecia... Não existia mais. Foi se aproximando e vendo que agora ali havia um posto de combustível. Como teria notícias da sua filha mais nova, Lourdinha, que um dia pediu em namoro na porta da escola?
Pensou em procurar os velhos amigos mas decidiu visitar primeiro as primas e desceu direto para o Largo dos Machado. Foi se comovendo a cada passo pois a cidade ainda guardava alguns velhos edifícios que, como um espelho, refletiam a sua face de menino... aquele mesmo moleque que saiu daquela cidade para estudar e nunca mais ousou voltar. Alguns prédios estavam ali ainda para testemunhar a sua fuga e lembrá-lo da sua origem interiorana que se revelava em sua fala causadora de tantas chacotas por parte dos amigos mais urbanos. Riu de si mesmo. Não ouviria nunca mais os arremedos tão corriqueiros sobre as "portas" e "porteiras"; sobre a preferência pelo café ralo e doce e por seus gostos musicais. Hábitos tão arraigados que, mesmo passados quase cinquenta anos fora, nunca conseguira se desvencilhar.