Noir

Noir

- Ah. Essa é a minha preferida - Ela disse e correu até o computador para aumentar o volume.

Eu apenas acompanhei com os olhos enquanto ela dançava no meio do quarto, como se estivesse em outra dimensão. Parecia uma entidade saída de um filme Noir.

Ela tinha esse tipo de coisa. As vezes se desligava da realidade como se fosse de outro mundo.

Foi quando ela percebeu que eu a observava e voltou abruptamente a si.

- Quando você me olha assim, tem algo em você que as vezes quase me assusta - ela disse.

- Quase?

- É. Quase.

- E o que mais?

- Por que você acha que tem algo mais nisso?

- Por que eu acho que você gosta de ser observada. Você gosta que eu seja um tipo de Voyeur.

Ela parou, colocou as mãos na cintura e me encarou como se estivesse pensando em uma resposta adequada.

- Nunca parei para pensar sobre isso. Talvez você esteja certo - Ela falou, e veio andando em minha direção.

- É bom estar certo sobre alguma coisa de vez em quando.

- Você é bem observador... pelo menos quando quer.

- Faz parte do meu metiê.

Ela sorriu e sentou-se em meu colo. E eu quase pude ver meu rosto refletido em seus olhos quando nossos olhares se prenderam um ao outro.

- O que vamos fazer hoje a noite?

- Podemos sair para tomar uma cerveja. Os bares estão sempre abertos por aqui.

- Ou podemos ficar... - Ela disse mordendo os lábios lascivamente - Só preciso de cigarros.

- Tudo bem. Podemos ir comprar e fazer algo para comer.

- Só se você cozinhar pelado. acho sexy.

- Suas definições de sexy talvez precisem ser atualizadas.

Ela caiu na gargalhada, me deu um beijo nos lábios e se levantou.

- Esse seu jeito rabujento é um tesão, sabia? gosto de quando você fala e escreve sobre mim, mas gosto ainda mais quando você fica sem ter o que dizer.

- Ficar sem ter o que dizer é a tragédia de todo escritor.

- Talvez então eu seja a sua tragédia.

- É. talvez seja mesmo.

- E você vai ficar por perto mesmo sabendo disso?

- Eu sou teimoso. Estou bem aqui.

- Isso é engraçado.

- O que é engraçado?

- Em geral sou eu que vou embora, e agora estou aqui me perguntando por quanto tempo você ainda vai ficar.

- Isso te incomoda?

- No começo, sim. Mas agora não sei...

Me levantei da cama e me aproximei dela, e lhe enlacei pela cintura.

- Gosto quando você fica sem saber o que dizer. - Sussurei ao pé do seu ouvido.

- Cala a boca. Você está estragando tudo - Ela disse sem graça.

- As vezes eu não consigo evitar - Eu disse, e nós rimos de nós mesmos.

A noite ia bem.

Estava tudo certo...

Enfim, um bom começo.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 08/10/2018
Reeditado em 09/10/2018
Código do texto: T6470879
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